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Opinião

Tudo o que você podia ser

Será que há interesse real das marcas e da alta liderança pra ser mais?


12 de abril de 2022 - 14h00

Crédito: Thais Monteiro

Pensa só.

Se no 4º país com maior taxa de desemprego no mundo, existisse uma rede social sobre trabalho. Será que ela teria um papel ativo no combate às desigualdades? Seria, antes de tudo, um lugar pra todo mundo conhecer e conversar sobre direitos trabalhistas, sobre a importância da CLT e sobre equidade salarial?

Poderia até ser um espaço pra gente questionar a meritocracia, a cultura violenta da competição, o excesso de ego e a romantização do excesso de trabalho, que são problemas tão atuais e estruturais dentro e fora da nossa área.

Essa rede social entenderia o cenário social de uma forma tão profunda que não só permitiria, mas incentivaria que mais vagas afirmativas existissem, defendendo a importância de cada uma delas.

“Não poderíamos fazer diferente em um país que, historicamente, priva pessoas negras e indígenas do acesso a oportunidades”, ela diria.

Uma ferramenta de acesso, de discussão e de mudança. Tanto que ela podia ser.

Pensa só.

Se em um mercado (ainda) racista como o nosso, todos aprendessem com o que vimos no SXSW 2022.

Pra começar, o principal assunto não seria a palestra x ou o show y.

Ouviríamos que a “delegação preta fez história no SXSW’, mas não só da boca de Ricardo Silvestre, CEO e fundador da Black Influence, como também de tantas outras lideranças – inclusive brancas – quanto fosse possível contar.

Depois de tantas matérias e de toda a repercussão positiva, não daria pra desver. Aí, o mercado perceberia que parte da solução para o desafio de formar novas lideranças negras em quantidade e com velocidade, talvez seja esse: colocá-las em contato com as conversas mais potentes sobre futuro pra acelerar as curvas de desenvolvimento delas.

E não pararia aí, não. Em um dos países mais criativos do mundo, as agências se sentiriam desafiadas a fazer ainda mais no próximo evento.

“E no próximo, hein? Como a gente surpreende de novo? Bora marcar esse brainstorm aí, galera”, elas pensariam (Ou teria que existir um prêmio pra isso primeiro?)

As ideias viriam, as metas aumentariam e toda empresa que defende a diversidade pra além do discurso em imprensa iria querer fazer parte. Pensa só, se existe uma campanha que vale todo mundo fazer junto, é essa. O case está pronto.

As vantagens seriam tantas que hoje é até difícil prever. Tem tanto que ainda dá pra ser.

Pensa só.
Se no país do desmatamento, tivéssemos marcas realmente preocupadas com a sustentabilidade.

E se, mesmo com acertos como o SXSW acontecendo em paralelo, conversas sobre erros não caíssem no esquecimento.

Da porta pra dentro, elas revisariam toda a sua estrutura pra entender quais são os impactos negativos que estão gerando pra que seus produtos e serviços sejam criados. Aí, pensariam em soluções não só pra reduzir todo esse impacto negativo, mas também pra gerar impacto positivo. Esse seria um direcional institucional tão forte que não teriam medo de quem discordasse e nem de mexer em nenhum vespeiro, fosse ele do tamanho que fosse.

Tô falando sério. Poderiam vir enxames chorando, esperneando no Twitter das vespas, fazendo churrascos e encontros nacionais, porque elas saberiam que sofrer ataques de haters faz parte do processo de posicionamento. E se preparariam antes pra isso.

Na comunicação, mostrariam que têm ações realmente profundas. Saberiam que não dá pra falar pela metade e mais que isso: que não dá pra falar uma coisa na segunda-feira (sem carne) e retirar uma semana depois.

Talvez até apoiassem a criação de uma campanha que conte por que o “Agro não é Pop”, ajudando a população a entender o problema do desmatamento, dos agrotóxicos e que o acesso à alimentação adequada é um Direito Humano Universal – que podemos, inclusive, cobrar dos representantes eleitos. Essa campanha, sim, deveria ter espaço garantido e fixo nos maiores veículos de mídia do país.

Seriam marcas ultra inovadoras, sucessos de ESG, uma referência do Brasil pro mundo. Tanto que elas podiam ser.

Pensou?

É tanto espaço que existe pra fazer muito mais do que é feito hoje. Tanta inovação que está dependendo de uma permissão ou da coragem de alguém pra poder nascer. Tanto discurso de comunicação que poderia se provar e se fortalecer com ações práticas – e não se esvaziar, como ainda acontece todos os meses.

Pensa.
Como diria Emicida, “será que há tempo de poder ser mais?”

Olha, apesar de estarmos nos acréscimos, tempo ainda há.
Mas a pergunta aqui é outra: será que há interesse real das marcas e da alta liderança pra ser mais? Infelizmente, acho que não.

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