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Opinião

Um ano de quarentena: você foi convidado pra festa?

Quer saber como fica seu mercado pós-pandemia? Olhe para os novos hábitos dos seus consumidores


1 de março de 2021 - 13h04

(Crédito: PixPoetry/ Unsplash)

É pique, é pique, é pique, é pique. É hora, é hora, é hora, é hora. Estamos completando um ano de quarentena. E estou tentando descobrir o que temos a comemorar. Foram meses duros: vidas perdidas, saúde prejudicada, estudos atrasados, economias devastadas, sentimentos abalados, relações afastadas. Mas, entre tantas coisas difíceis, também vivemos uma degustação intensa de uma vida diferente — um grande experimento para comprovar a teoria do poder do hábito. Dizem que, se fizermos a mesma coisa por 21 dias, ela entra na programação do nosso “piloto automático mental”. O que aconteceu, então, com as nossas vidas, depois de 365 dias com uma rotina diferente?

Tivemos que nos acostumar com o álcool em gel, termômetros eletrônicos e máscaras (já me sinto pelado quando estou sem). Fizemos consultas médicas, reuniões de briefing, convenções, exercício físico e até casamentos por vídeoconferência. Aprendemos a viver com menos dinheiro, espaço e menos contato. Será que algum dia vamos conseguir usar sapato social de novo? Sinto zero saudades de ficar duas horas no trânsito. E já me acostumei com essa chatice de higienizar as compras.

Muitas coisas que eu achava barato me parecem absurdamente caras agora. A palavra “fácil” ganhou nova dimensão. E nunca foi tão importante buscar algo que pareça seguro de verdade. Passei a gostar mais de algumas coisas no lugar onde moro. E já não suporto outras.

Saudades de abraçar. De viajar. De ir à igreja. De curtir um cinema com os filhos. Confirmamos que jogo de futebol sem torcida não é a mesma coisa. E que delivery é prático, mas não é exatamente a mesma experiência de um restaurante.

“Quais mudanças acontecerão no seu mercado depois da pandemia?” Cansei de ouvir essa pergunta nos últimos meses e a verdade é que não faço ideia da resposta. Mas tenho certeza de que começa por entender quais serão os hábitos que os consumidores manterão. Seja porque não terão opção de voltar à rotina antiga ou porque gostaram muito da nova vida.

As mudanças acima refletem os meus sentimentos pessoais. Você também deve ter a sua lista. Mas, neste momento, a lista mais importante é a que está no coração deles, os clientes. Sabia que o consumo de desodorantes mudou no Brasil? O de cosméticos, pijamas, eletrodomésticos, materiais de construção, seguros, joias, pacotes de telefonia e até o de papel higiênico. Uns para cima, outros para baixo.

Uma pessoa que só andou de ônibus na vida e fica 12 meses usando um carro com ar-condicionado vai fazer de tudo para não ter que voltar às condições de antes. A gente se acostuma rapidinho com coisas melhores. E, mesmo sabendo que a pandemia trouxe muitos impactos negativos, a verdade é que nossos clientes experimentaram vários tipos de “carro com ar-condicionado” nesses últimos meses. Estou falando de quem fez compras do mercado usando o aplicativo pela primeira vez e percebeu como isso é prático. Ou de quem descobriu que pode falar por WhatsApp com a vendedora da loja e passar apenas para retirar o presente no estacionamento do shopping. Também estou falando do paciente que conseguiu a prescrição médica por e-mail. Ou de quem conseguiu voltar a estudar fazendo aulas em horários alternativos. Um novo mundo de oportunidades se abriu.

As árvores de decisão de compra do seu produto mudaram. As referências de um bom serviço também. Isso significa que a competição do seu mercado agora tem novas regras. E vai ganhar o jogo quem entender mais rapidamente como se adaptar a elas. Aposto o quanto você quiser que, em breve, vamos sentir algumas saudades da quarentena. Não pelos momentos difíceis, mas pelas facilidades que descobrimos. E vamos lembrar que, apesar de tudo, também vivemos coisas boas na pandemia.

E não é que conseguimos encontrar algo para comemorar nesse aniversário? Para essa festa de celebração dos aprendizados, até topo ser convidado. Virtualmente, é claro, porque já estou quase me acostumando a usar um aplicativo que simula velinha no bolo.

*Crédito da foto no topo: Eugenesergeev/iStock

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