Um bom momento para o Made in Brazil
A logomania deu lugar a um comportamento mais sofisticado, impulsionado especialmente por Millennials e a Gen Z
A logomania deu lugar a um comportamento mais sofisticado, impulsionado especialmente por Millennials e a Gen Z
Um dos movimentos mais interessantes a surgir no consumo de alta renda no Brasil pós-pandemia é a ascensão de marcas que colocam a brasilidade como principal identidade de estilo, seja pela temática, pelas matérias-primas ou, no caso da moda e da decoração, pelo uso de manualidades ancestrais como crochê, rendas, bordados e cestaria.
A pandemia atuou como aceleradora desse movimento de “olhar para dentro”, fazendo com que consumidores acostumados a viajar para o exterior para compras e diversão tivessem de satisfazer seus desejos no próprio País. No cenário global, a pandemia trouxe uma valorização do feito à mão, sobretudo no mercado de luxo, uma resposta à homogeneização da produção em massa impressa pelo fast fashion. Esse fenômeno já vinha acontecendo antes da emergência da Covid-19, mas certamente foi acelerado por ela.
Quiet luxury – luxo silencioso em tradução livre – é como vem sendo chamado o movimento que valoriza experiências de luxo discretas, resultado da mudança nas preferências dos consumidores afluentes, que buscam produtos originais, de extrema qualidade e com propósito, evitando demonstrações explícitas de riqueza e opulência.
A logomania dá lugar a um comportamento mais sofisticado, com ênfase na exclusividade do produto. O mesmo tipo de mudança no consumo também pode ser observado na área de serviços e entretenimento – um bom exemplo é o surgimento e valorização do “turismo de experiência” e da localidade na gastronomia, com a valorização de ingredientes nativos e a releitura de pratos da culinária ancestral.
O retorno glorioso desse luxo discreto foi impulsionado também pela entrada no mercado de Millenials e a Gen Z, trazendo com eles diferentes preferências na hora de definir uma compra, com ênfase em produtos e experiências que carregam em seu DNA conceitos como sustentabilidade e responsabilidade social.
As marcas de luxo responderam a essas dinâmicas se afastando de exibições exageradas, concentrando-se na habilidade artesanal, na qualidade e exclusividade de seus produtos e no serviço personalizado.
Na moda, essa valorização do handmade não se limita apenas ao exímio trabalho de couro de maisons francesas como Hermès ou Louis Vuitton. Engloba também o trabalho têxtil da Colômbia, a cestaria africana, o crochê e as rendas do Nordeste do Brasil.
Nota-se também um desejo crescente na população em consumir histórias, e não somente peças de roupa. Marcas autorais têm sido especialmente bem-sucedidas nesse quesito.
É uma chance e tanto de o Nordeste se destacar, mostrando toda sua potência criativa. Quando se pensa em origens, o brasileiro, não importa exatamente onde tenha nascido, quase sempre recorre a paisagens, histórias e saberes nordestinos. A região foi o ponto de convergência entre europeus, povos originários e negros escravizados, formando o berço da nossa nação. Além de boa parte dos nossos saberes manuais ancestrais terem nascido no Nordeste, eles se mantiveram razoavelmente intactos por conta de a região não ter sido tão beneficiada pelo processo de industrialização, mantendo a população dependente de seus talentos manuais como forma de sustento.
As marcas que trazem suas raízes em seu DNA devem abraçar o regional tomando o cuidado de não criar caricaturas nem oferecer o que já foi visto. A meta deve ser criar produtos originais e com assinatura própria, que despertem interesse global, sobretudo no consumidor de alta renda, que pode se dar ao luxo de priorizar em sua casa ou guarda-roupa o feito à mão.
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