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Uma Bic de ano-novo pra todo mundo

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Opinião

Uma Bic de ano-novo pra todo mundo

Regular caneta é uma das coisas mais mesquinhas que podem existir; desconfie de uma pessoa que te peça de volta esse item


17 de janeiro de 2025 - 11h06

Buscava inspiração para este texto e, enquanto queimava fosfato, mordia a tampa de uma caneta Bic, que provavelmente não foi comprada por mim. Ou foi. Vai saber. Ela tinha a metade do tubo de tinta gasto e me encarou com aquela cara de muitos amigos. Foi quase um flerte, eu diria.

Há algo de muito democrático na Bic. Diferente do seu equivalente burguês – o isqueiro -, a esferográfica nasceu para circular. É um tapa na cara da iniciativa privada, da ideia de posse. “Minha Bic, minhas regras” não se aplica aqui. É quase imoral alguém dizer: me devolve a minha caneta. Pega muito mal (a não ser, claro, que seja uma Mont Blanc).

Está para nascer alguém que diga: “Essa Bic pertenceu ao meu avô e, justo por isso, eu a guardo a sete chaves”. Não, nada dessa cafonice. Agora, faça um exercício: pare em um restaurante self-service na região da Paulista onde há muita gente da firma na pausa para o almoço. Ou em um café em Pinheiros, com filas para o caixa que irritam o trabalhador, preocupado em bater o ponto da volta. Ou em uma padaria. Ou na recepção do dentista. Em qualquer um desses lugares, pergunte: alguém teria uma caneta pra me emprestar? Resta alguma dúvida de que, em questão de segundos, pelo menos duas ou três opções vão aparecer?

Bic não tem dono e, sim, intermediário. Somos meros transportadores desses seres independentes que transitam de mão em mão, que trafegam do escritório para os nossos lares (e vice-versa), da recepção para o automóvel, do RH para o financeiro, ou seja, circulam sem o menor pudor, como quem pula levemente de bloco em bloco no sábado de Carnaval, pensando que ainda há mais três dias pela frente (haja Engov!). O mesmo não pode ser dito do isqueiro ou do primo moderninho da caneta – o pen-drive, que caiu no ostracismo em tempos de cloud.

Já viu fumante relaxar com isqueiro? Ele está sempre de olho, como quem observa uma criança no parque com medo de acontecer algo. Quantas vezes fui cobrado por usar esse acendedor imediatamente depois de colocar um cigarro em brasa. E também não foram raras as ocasiões que recebi uma mensagem no dia seguinte, dizendo: “Você esqueceu seu isqueiro aqui”. Ah, nota importante: esse item também faz parte do portfólio da Bic, mas ele é tão “alecrim dourado” que ninguém sequer o presenteou com essa metonímia.

Não é assim que a banda toca comigo. Sou caneteiro. Faço parte do Bloco das Esferográficas. Quero mais é que essas pequenices circulem e corram o mundo. Pen-drive, isqueiro, caneta: nada disso deveria ser vendido. Tinha é que ser distribuído, que nem camisinha nos bloquinhos do Santa Cecília. Igual adesivo de político às vésperas de eleição. Mas – verdade seja dita – não sou parâmetro: estou na oitava via do meu RG. Sim, é puxado.

Regular caneta é uma das coisas mais mesquinhas que podem existir. Desconfie de uma pessoa que te peça de volta esse item – aviso válido para todas as espécies disponíveis, sem distinção de cor (azul, vermelha, preta ou mesmo nas versões mais extravagantes, como verde e laranja). É uma falha de caráter mais grave do que não gostar de café.

Aos caneteiros, deixo uma mensagem de alento: viva o poliamor das Bics. E abaixo a caretice dessa gente mesquinha que cobra o empréstimo. Sabe o que lhes aguarda? Uma caneta estourada no bolso e uma mancha azul na parte da frente da calça jeans, saltando aos olhos de todo mundo, daquele tipo que nem Vanish aplicado no modo turbo resolve. Deixemos a Bic livre.

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