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Opinião

Uma evolução possível

Conectividade e IA como forças motriz para o desenvolvimento econômico e social da América Latina


24 de outubro de 2024 - 14h00

O acesso à conectividade, à informação e à comunicação é a chave para um futuro próspero. O mundo está à beira da revolução da Inteligência Artificial. Mas centenas de milhões de pessoas ainda não tiveram acesso, nem mesmo, à internet e permanecem fora da economia digital. Este é um desafio imenso que exige, mais do que nunca, a articulação público-privada.

Questões como meio ambiente, cidadania, geração de renda, emprego, saúde e educação dependem do acesso básico à tecnologia e à informação. Sem acesso universal à tecnologia, o futuro será incerto e limitado a poucos. Em uma região como a América Latina, onde 220 milhões de pessoas (segundo o Banco Mundial) não têm acesso à banda larga, o edutainment (entretenimento educativo) surge como uma alternativa viável, ágil e sólida para incluir mais pessoas na era digital.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresenta dados alarmantes. Até o final de 2022, 67,3% dos lares na América Latina e no Caribe (ALC) tinham acesso à internet, em comparação com 91,1% dos lares em países da OCDE. Essa média esconde disparidades significativas: apenas 46,4% dos lares mais pobres na ALC tinham uma conexão fixa, em comparação com 84,6% dos lares mais ricos. Alguns países apresentam uma desigualdade ainda maior.

Desde o início do ano, o Grupo de Transformação Digital do B20, o braço empresarial do G20, tem se concentrado em debater fortemente sobre a exclusão digital e o impacto direto que ela tem no crescimento econômico e no desenvolvimento social. Com o objetivo de contribuir para a tomada de decisões do setor público, foram elaboradas propostas concretas e realizáveis, que projetam um futuro imediato mais inclusivo.

Ao refletir junto a líderes globais de pequenas, médias e grandes empresas de tecnologia, e considerando um profundo compromisso com as comunidades em que elas atuam, foram elaboradas propostas para que a tecnologia seja a maior aliada na hora de impulsionar a geração de oportunidades. E urge encontrar soluções concretas, surgidas da articulação público-privada, porque nem os Estados, nem as empresas sozinhas poderão resolver tão grande desafio.

Convido o leitor a olhar um pouco além da imediatez urbana, a pensar nas regiões rurais e na periferia urbana. A exclusão digital emerge como um fenômeno lacerante no século XXI, na era digital. Isso é um reflexo e catalisador da desigualdade social, financeira, cultural e educacional, que limita até mesmo os direitos humanos básicos. De uma perspectiva macro, esse fenômeno impede o desenvolvimento econômico e social de nossos países.

A preocupação com a inclusão digital é global, e sua solução requer o envolvimento de todos os âmbitos sociais, promovendo o acesso à tecnologia de maneira democrática, inclusiva e igualitária. Por isso, o B20 propôs três recomendações aos governos das economias maiores do mundo para promover a inclusão digital universal e segura, alinhada com os desafios que a Inteligência Artificial traz.

O impacto positivo dessa inclusão digital para milhões de pessoas, especialmente aquelas fora da economia digital, é imensurável. Abrange desde o acesso de pequenos comerciantes a pagamentos digitais, passando pela capacitação através da educação e da informação, até ao acesso a atendimento médico e ao entretenimento, propriamente dito. Falar de inclusão digital é, essencialmente, falar de qualidade de vida.

O caminho proposto pelo B20 começa por modernizar as regulamentações que regem o progresso tecnológico, assim como investir em parcerias público-privadas, promovendo tanto a infraestrutura quanto o desenvolvimento de habilidades tecnológicas. A criação de Fundos de Universalização de Serviços de Telecomunicações (como o Fust) e iniciativas que estimulem a demanda, como a conectividade subsidiada pelo governo para serviços essenciais, são passos fundamentais nesse processo.

Outro ponto importante é a “confiança digital”, ou seja, a segurança no uso da tecnologia. Isso requer a harmonização de padrões de cibersegurança, proteção de dados e apoio ao livre fluxo de dados com confiança (DFFT), além de consenso na criação de códigos que regulem de forma ética e sustentável as novas tecnologias, das quais se destaca a IA.

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