13 de julho de 2016 - 10h00
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Às vezes temos o ímpeto de olhar as partes em detrimento do todo. Hoje existem inúmeras partes importantes que compõem a mudança que estamos vivendo. Quando falo em mudança, me refiro a algo muito maior que as mudanças de modelo de agência. Me refiro às mudanças que têm sido provocadas e experimentadas por todos nós.
Enxergar que informação, conteúdo, publicidade e entretenimento se misturam para gerar engajamento, é entender a parte da mudança que mostra que as pessoas interagem infinitamente mais e melhor com estórias, ideias e enredos dos quais fazem parte, do que com marcas que insistem nos monólogos não convidativos sobre suas próprias crenças.
Quando a gente entende que a economia colaborativa, muito mais do que um novo modelo de consumo, é reflexo de um novo modelo de pensamento que valoriza menos as coisas e mais as experiências, percebemos que a mudança aponta para uma inversão de conceitos, onde comprar parece aprisionar as pessoas, enquanto alugar, trocar ou compartilhar, as liberta.
Com as plataformas digitais, esse novo modelo de pensamento, que depende das interações pessoais e da força das comunidades em rede para ter confiabilidade, ganha dimensões estratosféricas.
A velocidade com que empresas realmente inovadoras são capazes de mudar seus produtos e serviços para ganhar a preferência dos consumidores, nos mostra mais um aprendizado fundamental da mudança que vivemos – a confiança e a reputação que as marcas levavam anos para construir antes das plataformas digitais, hoje vêm de maneira mais rápida e orgânica.
Somos seres fundamentalmente sociais e o mundo online tem potencializado a socialização numa escala sem precedentes na nossa história. A possibilidade de opinar publicamente sobre algo e ser ouvido, questionado, apoiado, criticado, nos fascina.
A idade, classe ou geração a que pertencemos, perdem a importância na medida em descobrimos grupos com os quais nos identificamos. Esses grupos são feitos por um emaranhado de temas, assuntos e formatos que acabam sendo segmentados por algoritmos que nos dão a clara sensação de pertencimento.
Todo esse pertencimento, essa presença nas multiplataformas, esse excesso de conexões e de conectividade, nos dá a clara sensação de que de que a única força motriz que torna a mudança infinita é a tecnologia. É claro que estamos diante de novos jeitos de consumir e de se comunicar trazidos pelas plataformas digitais. Mas existe algo muito maior que isso: estamos diante de uma sociedade pautada em novos valores, e que, por meio da tecnologia, consegue viver plenamente duas necessidades humanas por muito tempo represadas: a ampla socialização e a urgência. Portanto, são as pessoas que estão no centro da mudança. E elas são muito mais profundas e complexas do que tudo aquilo que elas decidem compartilhar e viver em rede.
O comportamento humano nas plataformas digitais é relativamente fácil de ser previsto e monitorado. Mas é preciso discernimento e pensamento estratégico para enxergar as pessoas além de seus posts, compartilhamentos, menções e pesquisas.
Não dá pra continuar trabalhando nos moldes de antigamente por um motivo principal: os critérios que levam as pessoas a escolherem determinadas marcas, mudaram. Aliás, se multiplicaram. Isso leva as marcas a terem que entrar numa infinidade de assuntos, territórios, temas e canais que antes não entravam.
Não será produtivo para os clientes “picotarem” seus fornecedores por disciplinas, pois elas são muitas e a verdade da marca normalmente é uma só. O caminho mais viável para encontrar soluções assertivas, estratégicas e inovadoras é centralizar para evitar esquizofrenias. Para tanto, agências terão que investir em novas entregas e em novos tipos de profissionais, sem abrir mão de duas coisas que temos de melhor – pensamento estratégico e criatividade.
Departamentalização é sentença de morte. O desenvolvimento do mapa de habilidades da equipe nunca foi tão fundamental para o negócio. As agências nunca precisaram tanto profissionais maduros, estratégicos e multidisciplinares como precisam agora.
Sem pensamento estratégico não vamos a lugar nenhum. Se olharmos para a mudança sem entender o que a provocou e para onde ela tende a caminhar, vamos tomar decisões erradas e errar custa caro e toma tempo.
De tudo isso o que mais me desafia é que, pela primeira vez em quase 20 anos de carreira, estou presenciando uma mudança expressiva do nosso mercado. Vinda de uma mudança muito maior que nasce nas grandes tensões sociais, culturais e econômicas que a sociedade vive atualmente. Isso é lindo!