Vamos apostar o futuro da moda no metaverso e nos NFTs?
Avatares virtuais não serão capazes de minimizar os atuais impactos da indústria e a comunicação tem um papel nisso agora
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Caso você nunca tenha ouvido falar, uma única blusinha de poliéster pode levar até 400 anos para se decompor, contribuindo para o enorme desastre ambiental que já vem impactando a natureza e a vida marinha. A maioria de nós não teve aula sobre “a blusinha inofensiva”, pois somos pouco estimulados a refletir sobre o que consumimos e o
que descartamos.
Recentemente, descobri por uma matéria na TV que, em vez de recicladas, as roupas que não nos servem se acumulam em milhões de toneladas, e boa parte delas vem sendo descartada em areias de praias de Gana ou no meio do deserto do Atacama. Experimente buscar no Google Images por “montanha de roupas” ou “lixão da moda”. As imagens são estarrecedoras.
O documentário The True Cost aponta que, em 2015, a indústria da moda já produzia cerca de 80 bilhões de peças de roupas por ano. Imagine agora, então! Só no Brasil são produzidas quase nove bilhões de toneladas por ano, que equivalem a 42 peças por brasileiro (mas sabemos que a desigualdade social não permite a conta assim). Ou seja: o mundo já está cheio de roupas, e o ser humano segue com sede de mais. E por quê? Roupas ajudam a moldar nossa identidade, a exercitar nossa criatividade e ainda nos conferem status.
Partindo da premissa de que o topo da pirâmide é quem consome mais, o mercado de fashion tech está a todo vapor, especialmente no segmento de luxo. Marcas como Gucci, Prada, Nike e Balenciaga estão investindo em lançamento de coleções em NFT (tokens não-fungíveis), provadores e desfiles no metaverso, entre outras experiências tecnológicas. Mas será a moda de luxo capaz de incentivar a redução da produção de roupas físicas e, por consequência, os impactos de políticas de resíduo têxtil desastrosas?
Seria esperar muito.
No futuro, com a ajuda do 5G e da interoperabilidade no metaverso, possivelmente será mais interessante a customização do seu avatar numa reunião, do que pensar na roupa que você estará no home office. Por outro lado, para que isso impacte de fato a relação do excesso da produção têxtil versus meio ambiente, será necessária a inclusão digital de todo o planeta. Existem metas para isso? Olhando sob o prisma do hibridismo, estaremos parte conectados e parte desconectados, parte no virtual e parte significativa no físico — afinal, os abraços ainda são insubstituíveis e os festivais de música, também. Dessa forma, podemos pensar que os ricos gastarão seus milhares de dólares em avatares mega-ultra-hightechs, enquanto a classe média e os pobres seguirão consumindo majoritariamente itens físicos da mesma forma que hoje, o que, no acumulado, piorará o problema que temos
em mãos em dez anos.
Proponho uma reflexão: seria a hora de pararmos de produzir roupas em massa ou de parar de produzir o desejo por mais?
É inegável que as redes sociais têm um papel fundamental na produção de desejos. Basta rolar o feed do Instagram para ser “engatilhado” por algum item que cairia super bem em você ou em mim.
Logo, as marcas de moda precisam se comprometer a mudar essa realidade de maneiras diversas, e uma delas é, sim, através da comunicação. Educação sobre slow fashion, doação de roupas usadas para ONGs que fazem reaproveitamento (upcycling), criação de pontos de coleta em lojas físicas, muros da solidariedade nas ruas e transparência sobre a sua política de resíduos merecem espaço no plano de marketing e no feed. E pontos de contato com as novas gerações — as mais conectadas com esse tema — não faltam na atualidade: Instagram, Twitter, YouTube, TikTok, Twitch… estão aí também para isso: não apenas para likes nas modelos e links para a loja, mas para conteúdo que amplie consciência, que seja relevante para o planeta, independentemente da taxa de engajamento.
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