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Opinião

Visibilizar, o verbo que estabelece uma nova urgência

A ideia de que somos um conjunto de seres iguais habitando uma aldeia global está morta. Não sabíamos, mas somos resultado e como resultado somos múltiplos. Uma multiplicidade invisível, não disponível, dissociada dos autorretratos, referências, padrões que criamos e escolhemos emoldurar e pendurar em paredes


27 de setembro de 2018 - 11h21

Crédito: z-wei/iStock e Arte MM)

Em todo o mundo, durante um tempo longo e não contabilizado, milhões de seres humanos se mantiveram à margem da sociedade, fugindo de espelhos reais enquanto buscavam correspondência a imagens e padrões estereotipados e propagados, aparentemente, sem nenhuma intenção de construir uma sociedade desigual, racista, machista, elitista e repleta de preconceitos e fobias.

Como resultado? A predominância de referências reducionistas da riqueza e complexidade humanas, uma realidade que criou invisibilidades e exclusões e que até hoje nos aprisiona aquém da nossa potencialidade. Uma realidade que começamos a hackear ao criarmos e disponibilizarmos ferramentas que nos permitem ver mais. Mais realidades, mais camadas, mais dimensões.

A ideia de que somos um conjunto de seres iguais habitando uma aldeia global está morta. Deus salve a descoberta da amplitude do mundo e de suas diferenças! Deus salve a consciência de que somos enquanto olhamos para nós mesmos e para o outro nos assumindo ignorantes e nos permitindo afirmar sem medo que ainda não sabíamos.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é forma e como forma se apresenta mulher, homem, transgênero, bigênero, cross dresser, drag king, drag queen, femme queen, gênero fronteiriço, genderqueer, pangênero, gênero fluido, andrógeno, transgênero não binário.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é memória e como memória se revela negra, ruiva, branca, parda, cor das asas da graúna, castanha aloirada, loira acastanhada, alaranjada, marrom, lisa, crespa, cacheada, azul, verde, castanha esverdeada, bicolor, tricolor, indefinida.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é correspondência e como correspondência se expressa ectomorfa, mesomorfa, endomorfa, ampulheta, violão, pera, triângulo, oval, maça, reta, trapézio, triângulo invertido, alta, baixa, mediana, gorda, magra, obesa, musculosa, malhada, flácida, enrugada, lisa, cicatrizada, natural, siliconada, amputada, paraplégica, monoplégica, tetraplégica, triplégica, hemiplégica.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é convergência e como convergência flui heterosexual, gay, lésbica, bisexual, pansexual, polysexual, androgynosexual, androsexual, asexual, autosexual, demisexual, grayA, gynosexual, heteroflexivel, homoflexivel, bjectumsexual, omnisexual, skoliosexual, monogâmico, poligâmico.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é lucidez e como lucidez se manifesta equilibrada, dispraxica, dislexica, desatenta, hiperativa, deprimida, esquizofrênica, autista.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é emoção e como emoção vibra confiança, medo, raiva, amizade, calma, alegria, inimizade, vergonha, raiva, otimismo, compaixão, generosidade, pessimismo, bondade, inveja, desprezo, esperança.

Não sabíamos, mas apenas parte de nós é relação e como relação se traduz em maternidade, paternidade, mentoria, liderança.

Não sabíamos, mas somos resultado e como resultado somos múltiplos. Uma multiplicidade invisível, não disponível, dissociada dos autorretratos, referências, padrões que criamos e escolhemos emoldurar e pendurar em paredes.

A ocupação do Louvre por Beyoncé e Jay Z não foi apenas simbólica, foi reveladora de uma nova urgência: visibilizar. A urgência de tornar possível que todas as diferenças se expressem e, por fim, se reconheçam, se orgulhem, se manifestem e se tornem criadoras não de novos padrões, mas de novas perspectivas.

Como uma nova urgência, visibilizar pede novos pensadores e pensadoras como Ricardo Sales e Maíra Liguori; novos produtores de conteúdo como o Mooc e a Preta Portê; novos tradutores e tradutoras como Guilherme Valadares, Cris Bartis e Juliana Wallauer; novas criativas como Thais Fabris e Maria Guimarães; novos hackers como André Chaves, Ana Paula Passarelli, Spartakus Francisco, Anna Castanha, Raphaella Martins e Catharina Mendonça; novos líderes como Fiamma Zarife, Regina Lima, Diego Machado e Roberto Martini; novas espaços de representação da realidade e novas ferramentas como o Mulheres Invisíveis, desenvolvido pela 65|10 em parceria com a Catsu, que não apenas se propõe a facilitar o exercício de busca por visibilizar mais dimensões como também estabelece um convite para pensar e discutir o tema.

Nas palavras de Claudio Feijó, psicólogo que há 40 anos promove encontros de estímulo ao descondicionamento do olhar, somos seres acontecentes, seres que se tornam enquanto questionam, duvidam, afirmam, duvidam de novo, exploram, descobrem, aprendem, questionam novamente, se vulnerabilizam, descontroem, reaprendem, revelam. Somos enquanto nos permitimos ser e permitir ser é o que precisamos fazer enquanto recriamos o mundo.

Visibilizar é o verbo da vez, a ação do momento, a necessidade mais que exposta, uma demanda que nasce da necessidade que as marcas vivem de se manter conectadas com o que é relevante para as pessoas, com as transformações culturais e sociais, com o combate à discriminação e à desigualdade, com a construção de um mundo onde a diversidade e a equidade são premissas e forças impulsionadoras de inovação, criatividade, lucro e de um tipo de desenvolvimento econômico benéfico, ao mesmo tempo para os sistemas corporativos e sociais. Está estabelecida uma nova urgência.

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