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Por João Livi: “Ela é filha do dono”; “Washington me mandou aqui”, “dá uma força”, “escrevo pra eu mesmo”...
Por João Livi: “Ela é filha do dono”; “Washington me mandou aqui”, “dá uma força”, “escrevo pra eu mesmo”...
O fornecedor havia terminado de mostrar seu trabalho e seus prêmios em um mesão no meio da DPZ. Estava dando tudo certo. Bom trabalho, bom papo. Criativos já fazendo planos de como usar o talento do cara.
– E, gente: a Alexandra está por aí?
– Alexandra?, resmungaram os presentes.
– Alexandra Periscinoto, ela trabalha aqui, insistiu o rapaz.
– Alexandra Periscinoto? Não, não, aqui não.
Nesse momento, o Petit já havia esticado o olho, os ouvidos e o nariz para entender o que estava acontecendo.
– Ela trabalha aqui, sim. É até filha do dono. Todos conheciam os filhos do trio D, P e Z.
– Acho que você está enganado, alguém diz.
– Não estou, não. Ela trabalha aqui.
DPZ: Duailibi, Periscinoto e Zaragoza. O “Pê” é o pai dela, Periscinoto.
Pena… Era talentoso o rapaz.
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Adentrou a tímida criação open space da antiga sede da F/Nazca. Magro, cabelos longos, camisa aberta no peito, cinto de fivelão, cara de Jesus Cristo. Havia marcado com a Renata Flório um papo, para tentar uma vaga de redator.
– O Washington me mandou aqui falar com você, porque ele disse que eu sou muito bom.
– Legal, você trouxe seu trabalho?
– Não, vim eu mesmo, eu falo por mim.
– Tá, tá… mas por onde você passou, agências?
– Olha só: você não tá entendendo e não tô aqui pra baboseira. O Washington me mandou aqui porque ele conversou comigo e me achou muito bom.
– É que, normalmente, as pessoas apresentam alguns textos, ideias, só pra gente avaliar o potencial…
– Normalmente, mina, talvez… mas não estamos falando de normalmente aqui, ok?
– Mas eu…
– Você é uma formalidade. O Washington me mandou aqui pra eu começar.
– Mas não vai dar.
– Tá. Então, eu vou embora. Depois, o Washington fala com seu chefe e você se explica. Levantou e foi saindo.
A Renata, ainda atônita: – Tá. Então… boa sorte!
– Que sorte, mina? Eu lá preciso de sorte?
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– Queria muito trabalhar aqui, João.
Ela praticamente não tinha portfólio, apesar de não ser mais uma estudante.
– Pois é… deixa eu ficar com uns contatos seus, passo para os diretores de criação para eles considerarem.
– Mas, João: dá uma força, porque tem que ser aqui, nesta agência.
– Mas têm outras boas agências. – Mas aqui pra mim é um sonho…
– Que legal!
– Porque eu moro aqui do lado, não precisa nem pegar patinete.
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– Então, você escreve pro Tá no Ar?
– Isso, já escrevi vários esquetes.
– Legal, o programa é mesmo engraçado.
– Muito, eu acho um barato… mas agora tô procurando um lugar em agência.
– Você mora no Rio ou tem que fazer call todo dia com eles?
– Como assim? – Pra aprovar os textos com o Adnet… você manda pra ele?
– Não.
– Vai até lá?
– Não.
– Então, você aprova como?
– Não aprovo.
– Mas como é que o pessoal do Tá no Ar aprova seus textos?
– Não aprovam.
– Quantos já saíram?
– Nenhum.
– Mas você não disse que escreve pro Tá no Ar?
– Eu escrevo pra eu mesmo rir.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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