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Por João Livi: “Ela é filha do dono”; “Washington me mandou aqui”, “dá uma força”, “escrevo pra eu mesmo”...


8 de abril de 2019 - 13h52

 

(crédito: Sentavio/iStock)

O fornecedor havia terminado de mostrar seu trabalho e seus prêmios em um mesão no meio da DPZ. Estava dando tudo certo. Bom trabalho, bom papo. Criativos já fazendo planos de como usar o talento do cara.

– E, gente: a Alexandra está por aí?

– Alexandra?, resmungaram os presentes.

– Alexandra Periscinoto, ela trabalha aqui, insistiu o rapaz.

– Alexandra Periscinoto? Não, não, aqui não.

Nesse momento, o Petit já havia esticado o olho, os ouvidos e o nariz para entender o que estava acontecendo.

– Ela trabalha aqui, sim. É até filha do dono. Todos conheciam os filhos do trio D, P e Z.

– Acho que você está enganado, alguém diz.

– Não estou, não. Ela trabalha aqui.

DPZ: Duailibi, Periscinoto e Zaragoza. O “Pê” é o pai dela, Periscinoto.

Pena… Era talentoso o rapaz.

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Adentrou a tímida criação open space da antiga sede da F/Nazca. Magro, cabelos longos, camisa aberta no peito, cinto de fivelão, cara de Jesus Cristo. Havia marcado com a Renata Flório um papo, para tentar uma vaga de redator.
– O Washington me mandou aqui falar com você, porque ele disse que eu sou muito bom.

– Legal, você trouxe seu trabalho?

– Não, vim eu mesmo, eu falo por mim.

– Tá, tá… mas por onde você passou, agências?

– Olha só: você não tá entendendo e não tô aqui pra baboseira. O Washington me mandou aqui porque ele conversou comigo e me achou muito bom.

– É que, normalmente, as pessoas apresentam alguns textos, ideias, só pra gente avaliar o potencial…

– Normalmente, mina, talvez… mas não estamos falando de normalmente aqui, ok?

– Mas eu…

– Você é uma formalidade. O Washington me mandou aqui pra eu começar.

– Mas não vai dar.

– Tá. Então, eu vou embora. Depois, o Washington fala com seu chefe e você se explica. Levantou e foi saindo.

A Renata, ainda atônita: – Tá. Então… boa sorte!

– Que sorte, mina? Eu lá preciso de sorte?

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– Queria muito trabalhar aqui, João.

Ela praticamente não tinha portfólio, apesar de não ser mais uma estudante.

– Pois é… deixa eu ficar com uns contatos seus, passo para os diretores de criação para eles considerarem.

– Mas, João: dá uma força, porque tem que ser aqui, nesta agência.

– Mas têm outras boas agências. – Mas aqui pra mim é um sonho…

– Que legal!

– Porque eu moro aqui do lado, não precisa nem pegar patinete.

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– Então, você escreve pro Tá no Ar?

– Isso, já escrevi vários esquetes.

– Legal, o programa é mesmo engraçado.

– Muito, eu acho um barato… mas agora tô procurando um lugar em agência.

– Você mora no Rio ou tem que fazer call todo dia com eles?

– Como assim? – Pra aprovar os textos com o Adnet… você manda pra ele?

– Não.

– Vai até lá?

– Não.

– Então, você aprova como?

– Não aprovo.

– Mas como é que o pessoal do Tá no Ar aprova seus textos?

– Não aprovam.

– Quantos já saíram?

– Nenhum.

– Mas você não disse que escreve pro Tá no Ar?

– Eu escrevo pra eu mesmo rir.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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