Viva a pastelarIA criativa!
O mesmo meio que endeusa as produções feitas por inteligência artificial celebra a Fernanda Torres e o Walter Salles fazendo história
O mesmo meio que endeusa as produções feitas por inteligência artificial celebra a Fernanda Torres e o Walter Salles fazendo história
Quando é que a gente foi substituído por agentes? Estamos na era dos releases orgulhosos anunciando de boca cheia que seres humanos apenas supervisionam processos de produção de campanhas publicitárias, como se isso fosse uma vantagem que extravasa a mera redução de mão de obra, até porque o resultado final, normalmente, remete ao uso do Photoshop no século passado.
O mundo hoje não vive sem IA, ninguém vive sem IA, eu não vivo sem IA. É a ferramenta mais deliciosa de se usar desde a invenção, para um redator, do word com copy paste. Seria brilhante e inspirador se o produto final de 90% dos trabalhos feitos com IA fosse bom. São raras as exceções. Ser feito em IA, tirando a linha de custo de produção, não impressiona mais ninguém. Virou default. Afinal, de que adianta ter uma produção de vídeo quase boa, baseada em uma ideia ou roteiro quase mediano? Ser feito em IA não diz respeito à ideia, mas ao processo. Para otimizações, segmentações, entregas funcionais do dia a dia, é ótimo.
No fundo, a criatividade não está perdendo para a inteligência artificial. Ela está perdendo para a mensagem artificial, para a preguiça natural, para a covardia de roteiros-manifestos institucionais em que a imagem tem pouca importância, para além de preencher a secundagem e acompanhar a trilha. Ser o milionésimo filme manifesto para algum segmento qualquer, mas, UAU!, produzido em IA, só agrada o financeiro e o jurídico das empresas. Feito para não dar problema, mas, também, para não mover ninguém.
O consumidor está pouco se lixando para o release e a produção. Ele quer se emocionar, rir, chorar, pensar. Certamente você, que também ama navegar no TikTok, no Shorts e no Reels, se congela nos vídeos mais incríveis produzidos por humanos. Nada supera a nossa capacidade de fazer conteúdos hipnotizantes.
Diferentemente da IA liderada por técnicos e gerida por agentes, o ser humano ignora os briefings, improvisa, cria e os supera. Isso vale para roteiristas, diretores, músicos e, principalmente, atores. Essa é a nossa força e nosso talento. A IA obedece ao seu pedido e, pelo visto, quem anda pedindo entende pouco de criatividade e emoções humanas. Nessa hora, a IA não salva, pois não tem conhecimento emocional, nem empatia.
O mesmo meio que endeusa as produções de pastelarIA criativa celebra a Fernanda Torres e o Walter Salles fazendo história. Sem falar das novelas, séries, BBBs, carnavais e outros entretenimentos nacionais que constantemente derrubam a quarta parede. Nós, que sempre bebíamos da TV, do cinema, do teatro, da arte para nos inspirar a criar melhor, agora estamos estourando champagne para a economia de custo e produções sem alma, sem vida, sem ideia.
O sistema GenAI é 100% probabilístico, não determinista. Ele não define, ele dá o caminho prático, facilita, faz o que o humano não quer ou não precisa fazer. Ele não serve para fazer o job, mas é brilhante para fazer tarefas. E aí você vai expandindo o uso em tarefas repetitivas ou em algo que você não domina tecnicamente.
Quanto mais inteligente e experiente na sua área você for, mais a IA será produtiva, pois quem imputa é você e quem avalia o resultado, também. Pessoas medíocres produzem respostas padrão e ponto. Na verdade, nenhuma máquina tira leite de pedra, se imputar pedra, vai voltar pedra. Se entregarmos o soft power da comunicação ao 0 e ao 1, vamos matar a influência da originalidade no nosso mercado.
Assisti umas 50 vezes o novo filme dos airpods da Apple e me descobri mais ainda apaixonado pela nossa profissão. Para mim, a mentalidade de celebrar uma ferramenta parece aquele homem cinza e triste que o Pedro Pascal cruza na rua antes de começar a dançar nesta arrebatadora peça de conteúdo. Me deu vontade de comprar fones novos.
Não vivo sem o ChatGPT e o Adobe Firefly para debater ideias, opções de palavras, estudar o que já foi feito, avaliar, produzir imagens e me autoprovocar. É incrível. Sou mais rápido e criativo para os clientes. Quem não usa está perdendo, as ferramentas são absurdamente facilitadoras, mas o que sai das nossas máquinas tem que ter o nosso dedo, a nossa marca, a digital singular do ato criativo. É exatamente isso que seduz, fideliza, faz vender e dá o tom da música que conduz o mercado para o caminho de inovação verdadeiramente relevante.
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