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Opinião

Você conhece a Geração Pantera Negra?

Esse grupo vem redefinindo a inclusão e a mobilidade social no Brasil


19 de dezembro de 2024 - 6h00

É impossível ignorar o poder transformador de uma geração que redefine o que significa ser jovem, negro e brasileiro. A “Geração Pantera Negra” simboliza a juventude negra que ocupa espaços estratégicos de liderança no Brasil e aqueles que se recusam a ser “os únicos negros” nos ambientes que conquistam. Inspirada pelo filme Pantera Negra, essa geração carrega o peso da luta histórica pela liberdade e o desejo de construir um futuro inclusivo, sustentável e plural.

A história da resistência dos quilombos serve como referência e inspiração para essa nova geração. Nos quilombos, os negros vivenciaram pela primeira vez, ainda que de forma precária, a dignidade e a liberdade. Hoje, muitos desses espaços ainda sobrevivem e resistem, servindo como lembrete do poder da coletividade negra. Assim como no passado, aquilombar-se — encontrar força na comunidade — é vital. A juventude negra que se destaca hoje recorre a essa prática: busca apoio mútuo, compartilha experiências e estratégias para enfrentar os desafios cotidianos de um mercado de trabalho que, infelizmente, ainda carrega as marcas do racismo estrutural.

Para garantir que a mobilidade social ocorra em uma escala e velocidade significativas, é fundamental investir em capital social e criar redes de apoio. Como exemplo, cito minha própria trajetória. Minha família trilhou um caminho de superação ao longo de gerações, impulsionada pela educação e pelas redes de apoio que conquistamos ao longo do tempo. Esse é um percurso longo, mas é possível “hackear” o sistema e encurtar essa jornada. Construir redes e incentivar a educação desde cedo são passos essenciais para que a juventude negra ocupe e permaneça nos espaços de influência.

A construção de novos imaginários também é essencial para transformar o cenário atual. Para que os jovens negros possam se ver como protagonistas, é necessário que contemplem referências que os façam acreditar no próprio potencial. Quando falamos em empoderamento, falamos de uma formação abrangente que vai além da técnica: envolve autoestima, identidade e visão de futuro. Para que esses jovens entrem e floresçam no mercado de trabalho, precisam estar emocionalmente fortalecidos e culturalmente preparados.

Nesse processo, iniciativas como o projeto “Identidades”, da empresa onde atuo, são exemplos de como a inclusão racial pode ser abraçada de forma autêntica e coletiva. A campanha integrou pequenas marcas de moda autoral de designers negros e indígenas, valorizando suas criações e promovendo a inclusão de perspectivas diversas. Ao fazer isso, assume-se a responsabilidade de revolucionar um mercado elitizado, ampliando a democratização e inclusão na moda brasileira. Esse projeto é um exemplo de como o setor privado pode ser um aliado na luta pela equidade racial.

A influência da moda afro-brasileira e afro-latina no cenário global reforça o valor cultural de nossas raízes e desafia os padrões tradicionais de beleza. Ao inserir designers negros e indígenas na linha de frente, ampliamos a diversidade estética e, ao mesmo tempo, promovemos a democratização do acesso a produtos que carregam identidade e ancestralidade. Marcas como o Ateliê Mão de Mãe mostram o potencial da moda para gerar impacto social, ao empoderar mulheres negras e indígenas através da geração de renda e reconhecimento cultural.

É crucial que o setor privado entenda sua responsabilidade na promoção de mudanças estruturais. A inclusão não é uma tarefa que deve ficar somente no papel ou restrita a campanhas sazonais; ela precisa ser uma prática constante e tangível. As instituições, principalmente as criadas no setor privado, têm um papel determinante ao atuar para que a representatividade negra seja ampliada nas áreas criativas e executivas, setores ainda fortemente sub-representados. Essa jornada não será concluída em uma geração. No entanto, ao nos aquilombarmos e agirmos juntos, estamos construindo um novo futuro para a juventude negra brasileira. Uma geração que lidera, cria e transforma, certos de que a inclusão e a mobilidade social são não apenas um direito, mas uma necessidade para o Brasil construir um futuro mais justo e igualitário.

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