Assinar

Você quer ser feliz?

Buscar
Publicidade
Opinião

Você quer ser feliz?

Se na vida pessoal essa é uma resposta fácil, por que no trabalho querer ser feliz ainda é um assunto polêmico?


6 de junho de 2024 - 14h00

Comentei em um grupo de ex-colegas sobre estar concluindo a certificação como Chief Happiness Officer – uma especialização em felicidade corporativa e sustentabilidade humana – e um amigo respondeu: “Isso não existe”. Na sequência uma amiga falou algo como “na primeira aula da Sharon discutiram sobre não marcar reunião na hora do almoço, num curso desse porte, olha onde chegamos!”. No dia seguinte uma aluna do curso não almoçou conosco porque estava em reunião. Olha onde chegamos.

Claro que felicidade e bem-estar organizacional é muito além do básico (ou do que deveria ser básico), mas começar a aplicar as teorias na vida real é sim muito mais simples do que muitos de nós imaginamos. Além da simplicidade de algumas ações – que geram grandes resultados – o que também chamou a minha atenção nas aulas foi o depoimento de parte dos alunos sobre ter se interessado pelo tema após um burnout, o que eu já tinha ouvido de uma CEO na semana anterior.

Fiquei pensando se o único caminho pra fazer diferente é aprender na dor. Talvez seja o caminho mais óbvio, mas se pararmos pra pensar, todos nós buscamos a felicidade, certo? Por que seria diferente na área da nossa vida à qual dedicamos mais de 100 mil horas no decorrer dos anos? Por que ser feliz no trabalho parece tão distante pra maioria de nós?

Antes de aprofundar no tema, é importante diferenciar satisfação de felicidade. De acordo com Daniel Kahneman, premiado com o Nobel em ciências econômicas, a primeira tem a ver com retrospectiva e a segunda fala sobre o momento presente. Ou seja, eu estou satisfeita se, por exemplo, a vaga atendeu as minhas expectativas, os benefícios estão de acordo com o combinado e os desafios foram vencidos. Já a felicidade é uma medida emocional, sobre como eu me sinto em tempo real sobre fazer parte da empresa.

Dito isso, vamos aos dados sobre os colaboradores: 41% estão se sentindo esgotados (Deloitte); 23% estão engajados no trabalho (Gallup); 10,2% têm segurança psicológica para falar sobre sintomas do burnout (Reconnect Happiness at Work). O cenário muda quando o olhar vai para ambientes com cultura de bem-estar: há um aumento de 31% na produtividade e de 37% de vendas; diminuição de 55% na taxa de rotatividade e de 125% nos níveis de burnout (HBR, Gallup, Forbes, Seligman, Greenberg&Arawaka, People metrics).

A felicidade corporativa endereça pontos como ambientes tóxicos, problemas de comunicação, conflitos geracionais, sobrecarga, falta de engajamento e desmotivação. Não preciso ser vidente pra afirmar que a empresa em que você trabalha sofre com pelo menos um desses males. Eles costumam gerar problemas como baixa produtividade, números elevados de turnover e de afastamentos. O que a disciplina propõe é o redesenho do tempo, do trabalho e das relações, olhando para as especificidades de cada corporação a fim de melhorar a experiência dos colaboradores.

Como eu comentei algumas linhas acima, mesmo em toda a sua complexidade, há ações simples e de fácil execução que empresas de qualquer porte podem incorporar. Dois exemplos: não marcar reuniões no almoço e criar uma cultura colaborativa através de metas coletivas. Não sei se você percebeu, mas ambas as ações não têm custo.

Se ficou alguma dúvida, vale reforçar: é possível promover um ambiente corporativo feliz. Não tenho a ilusão de que um dia tudo será perfeito, mas tenho certeza de que pode ser muito melhor e mais saudável do que é hoje.

Voltando ao curso, estar em uma sala unânime sobre a importância e a urgência do tema foi como respirar ar fresco. Desde que eu entrei na publicidade, luto por ambientes saudáveis e por anos caminhei passos solitários até começar a cruzar com pessoas que compartilham do mesmo propósito. Hoje sou contratada por causa dos meus ideais e não apesar deles, e aquela sala unânime me fez resgatar a esperança que às vezes se perde na realidade do mercado.

Minha certificação foi pela Reconnect Happiness at Work, conduzida pela Renata Rivetti, que junto com a sua equipe fez a curadoria dos dados deste artigo. Pra terminar, fica uma reflexão: é fácil mudar? Nunca é. É possível mudar? Sempre é.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento

    Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência

  • Preço do sucesso

    Avanço da inteligência artificial encoraja multinacionais a mudarem políticas de remuneração de agências, mas adoção de success fee esbarra na falta de métricas e na baixa transparência das relações comerciais