Você se considera um booklover?
Nos ambientes digitais, sou obrigado a reconhecer que muitas das informações são superficiais e não me conduzem a uma reflexão adequada ou aprofundada
Nos ambientes digitais, sou obrigado a reconhecer que muitas das informações são superficiais e não me conduzem a uma reflexão adequada ou aprofundada
Um questionamento que tenho me feito ultimamente é sobre a leitura em papel, especificamente, a leitura de livros. De um lado, sou obrigado a reconhecer que uma maior atualização de informações e dados são encontradas nos ambientes digitais, de outro lado, também, sou obrigado a reconhecer que muitas das informações são superficiais, por vezes técnicas demais e não me conduzem a uma reflexão adequada ou aprofundada.
Diversos dados informam que nunca lemos tanto quanto atualmente, muito em virtude do digital e sua multiplicidade de plataformas. Porém, que tipo de leitura estamos fazendo? É sabido que o índice de leitura per capta do brasileiro é um dos mais baixos do mundo, algo em torno de 2,9 livros ao ano por pessoa (https://www.cnm.org.br/index.php/comunicacao/noticias/estudantes-brasileiros-devem-demorar-mais-de-260-anos-para-atingir-qualidade-de-leitura-de-paises-desenvolvidos), enquanto que na França o índice é de 7 livros/ano. Claro que podemos dizer que o problema é o custo do livro, pois seus valores são altos, só que quando comparados a outras atividades de lazer ou mesmo de estudos, os livros não são tão caros assim. Então por que lemos tão pouco?
Em que momento a leitura deixou de ser algo tão prazeroso e satisfatório?
Veiculada em 2008 e republicada em 2016 na revista Superinteressante, a matéria com o título: “Ler não é tão importante” traz uma emblemática entrevista com Pierre Bayard, psicanalista e professor de literatura na Universidade Paris 8. Em um dado momento o entrevistado solta: “É justamente essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então,… não lemos. Prefiro evitar todo tipo de ‘dever’ ou ‘obrigação’ sobre esse assunto. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.”
Será que o “livre arbítrio” determina nossa atração pelos livros? Poderíamos de fato ler apenas o que gostamos, sem nos importar com as obrigações do nosso cotidiano? Talvez, a seriedade do ato de ler imponha algumas barreiras, que não encontramos em outras mídias, como cinema, televisão, rádio etc, mas a grande questão que me toma é: por que a seriedade precisa ser tão endemoniada?
E você, se considera um bom leitor? Você lê todo o conteúdo do Meio & Mensagem ou apenas alguns itens que mais lhe interessam? E quais outras fontes você usa para se atualizar, além do M&M?
Será que um dos motivos pelos quais estamos lendo tão poucos livros é porque achamos que eles se tornam desatualizados com muita rapidez? O livro Teoria, Técnica e Prática do reconhecido e saudoso Armando Sant’anna ainda são relevantes para os dias de hoje. Os excelentes livros de redação publicitária do professor Carrascoza são relevantes para os “velhos” e novos publicitários.
Penso que estamos nos acostumando ao imediatismo. Imediatismo em tudo!
Ler um livro, especialmente por obrigação, nos faz investir um tempo que muitos de nós não estamos dispostos.
Se a leitura é a prática de um ato de liberdade (como citado pelo professor Bayard) pode ser uma atividade feita com prazer. Se a razão da leitura é atender à uma demanda de trabalho ou atividade acadêmica, como descrever a sensação? Será que essa sensação também não pode ser prazerosa?
Essa é a leitura que faço: nada que seja longo ou que necessite de um envolvimento mais longo irá funcionar atualmente.
Sim, estamos na era do imediatismo. E isso vai da leitura aos relacionamentos. Tudo tem que ser prático, rápido, fácil… até um relacionamento. No entanto, nos entregamos ao encanto! Quando o tema, a capa, o prefácio ou simplesmente a indicação de um amigo nos encanta, nos provoca entusiasmo e desejo, e essa “fórmula” cabe até aos relacionamentos!
No domingo, na Bienal do Livro, escutava um debate entre escritores que estão nas mídias sociais. Duas delas falavam muito da importância de mostrar a cara, de ter um blog, de se relacionar com o leitor. Que o escritor de hoje não pode mais se isolar em uma casinha de campo. Enfim, o encantamento pode vir também da relação que você estabelece com autor.
*Crédito da foto no topo: Mikes Photos/Pexels
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