Voz in: Um novo conceito de narração para filmes imersivos
Quando o público tem 360° de visibilidade, há apenas um lugar para esconder a voz do narrador: dentro da cabeça do ouvinte
Voz in: Um novo conceito de narração para filmes imersivos
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30 de novembro de 2017 - 14h33
O termo voz off tem a sua origem na expressão “off câmera”, já que a narrativa surge de um lugar fora da imagem projetada na tela. Nos roteiros para filmes tradicionais, voz off frequentemente se refere à voz de um narrador. E quando a narrativa em questão é para um filme imersivo? Qual designação um redator deveria usar neste caso? A minha recomendação é voz in. Afinal, quando o público tem 360° de visibilidade, há apenas um lugar para esconder a voz do narrador: dentro da cabeça do ouvinte.
Durante o primeiro festival de realidade virtual do Brasil, o Hyper Virtual Reality Festival, realizado na Vila Madalena, em setembro, conversei com diretores, produtores e roteiristas sobre o conceito de voz in. Embora todos concordem que a voz de um personagem dentro de um filme em VR é um ótimo recurso para guiar o olhar do público e conduzir a história, vários dizem que a voz de um narrador poderia atrapalhar a experiência.
Um dos profissionais com quem conversei no festival foi o Luiz Macedo da produtora Juke. O Luiz é responsável pelo trabalho sonoro de vários filmes imersivos do Tadeu Jungle, da Academia de Filmes, inclusive dois que utilizam o recurso de narração: “Fogo na Floresta” e “Rio de Lama”.
Por que alguns diretores e roteiristas evitam o recurso de narração em filmes imersivos?
Luiz – Eles se preocupam que uma voz externa possa atrapalhar a experiência imersiva. Ouvir uma voz dentro da sua cabeça pode ser uma sensação meio esquizofrênica. Mas como os filmes em VR tendem a ser curtos, precisamos achar uma maneira de apresentar as informações de forma concisa. Por isso optamos por uma narração explicativa nestes dois filmes do Tadeu Jungle. Para “Fogo na Floresta”, fizemos testes com dois ou três locutores e acabamos gravando a narração com a Fernanda Torres. No “Rio de Lama”, foi o próprio Tadeu que narrou.
Como deixar a narração de um filme imersivo menos invasiva?
Luiz – A narração deve reforçar a experiência – deve te situar dentro da experiência. Isso é feito de maneira muito particular. Nos filmes imersivos você quase sempre usa fone de ouvido e você não quer alguém falando alto na sua orelha. Por isso, gosto do termo voz in que você propõe. Uma narração para VR literalmente soa como se estivesse dentro da sua cabeça. Inclusive quando faço a mixagem, só uso o canal W para a narração… para que a voz fique parada no meio. A voz do narrador não pode acompanhar as imagens, nem pode ficar de um lado ou outro do ouvinte.
Qual é o briefing que você passa para o narrador neste caso?
Luiz – Quando gravamos a Fernanda para “Fogo na Floresta”, o briefing que passamos para ela foi: “Fale tranquilo, fale baixo, só conte a história”. Porque o ator tem a escola de projetar a voz. É algo que aprende para o palco. Para um filme de realidade virtual, o narrador tem que usar todos os recursos dele, mas de forma mínima. Apesar da bela imagem do filme e do roteiro interessante, o narrador precisa falar com tranquilidade. Você nunca vai ter um problema de volume com a VR, porque a voz gravada e amplificada do narrador soa dentro da cabeça do ouvinte.
O briefing “Fale tranquilo, fale baixo” quer dizer sussurrar? Ou é algo como “Fale para você mesmo”?
Luiz – Se isso pode ser comparado com o “Fale para você mesmo”, não sei. Porque tenho a impressão de que quando você fala para você mesmo, você murmura. Talvez você nem complete adequadamente uma frase porque já entendeu o sentido. Mas também não adianta simplesmente pedir para um narrador sussurrar, como se estivesse falando no ouvido de alguém. Sussurrar pode ser um recurso, em alguns momentos, mas contar uma história inteira com este tom seria meio esquisito. O narrador simplesmente precisa lembrar de não projetar a voz, mas sem perder o recurso dramático.
Resumindo: a narração continua sendo um recurso efetivo, mesmo em filmes imersivos.
Luiz – Sim, com certeza. A voz do narrador tem o mesmo papel que sempre teve: passar informações, convencer e entreter o público e apresentar soluções. Precisamos ter cuidado com a projeção da voz, mas não vou dizer que existe uma maneira definitiva de gravar uma narração para VR. Vai depender de cada roteiro. Num determinado filme o narrador pode mudar o tom – falando muito alto, ou sussurrando, para provocar uma reação no ouvinte. Todos os recursos ainda são cabíveis. Mas existe uma diferença primordial que exemplificamos muito bem chamando-a de voz in. O narrador não precisa, em nenhum momento, ter a preocupação de não ser ouvido…
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