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Como IA pode ajudar a saúde mental no trabalho?

Com o tema cada vez mais latente dentro das empresas, aplicativos ajudam a mapear bem-estar dos funcionários e sugerem atividades indicadas


8 de agosto de 2022 - 10h58

A discussão sobre a saúde mental vem, cada vez mais, deixando de ser tratada como uma exclusividade do ambiente privado e ganhando espaço no meio corporativo. Não é à toa. Nos últimos anos, a crise sanitária e socioeconômica levou os profissionais a trabalharem em níveis ainda mais estressantes. Em seu Guia Salarial 2022, a Robert Half, consultoria de recursos humanos, apontou que 53% dos líderes entrevistados acreditam que seus colaboradores estão mais suscetíveis a crises de estresse, ansiedade e burnout.

 

(Crédito: fizkes_Shutter copy)

No começo do ano, a Síndrome de Burnout foi, inclusive, classificada oficialmente como doença ocupacional. Ou seja, um esgotamento que “se refere especificamente a fenômenos relativos ao contexto profissional”, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

De olho nesse cenário, uma série de healthechs, startups que unem saúde e tecnologia, tem buscado como as ferramentas digitais podem ajudar na gestão do trabalho e a garantir mais bem-estar para aos profissionais. Uma dessas companhias é a Hisnek, que desenvolveu um aplicativo para mapear a saúde mental no ambiente do trabalho e prevenir transtornos emocionais. O IVI, como foi batizado o app, já impactou 1,7 milhão de pessoas e está presente em empresas, como Ambev, Suzano, Volvo, Rodobens e Pearson. Em entrevista, Carolina Dassie, CEO e Fundadora da Hisnëk, fala sobre como a inteligência artificial pode ser uma aliada nesse processo:

Meio & Mensagem – Em que momento e de que forma a tecnologia começa a ser usada como aliada da saúde mental no ambiente de trabalho?

Carolina Dassie – Acredito que o momento é quando ela tem que ser usada para acompanhar continuamente esses colaboradores, porque é muito difícil que um profissional, que nunca tenha sido acompanhado com temas de psicoeducação ou tenha familiaridade com o tema de saúde mental, peça ajuda quando estiver precisando. É isso que faz com que as pessoas cheguem na cronicidade. O importante é que a tecnologia seja continuamente oferecida, para acompanhar a jornada de saúde mental dos colaboradores e de uma maneira sempre muito sigilosa, dando a tranquilidade para que saibam que o que eles estão compartilhando com a tecnologia é simplesmente para ajudá-los, propor práticas, vivências e ações para que ele se sinta melhor, e não para compartilhar dados com gestor ou RH. Esse é o grande fato. É o acompanhamento contínuo e sigiloso. Até porque, além do produto precisar ter sigilo, também temos a Lei Geral de Proteção de Dados e o sigilo médico, que fazem com que a confidencialidade da informação seja ainda mais importante.

M&M – Na prática, como funciona o aplicativo IVI? Qual é a mecânica tecnológica envolvida?

Carolina – A IVI é um aplicativo que interage com os usuários para entender como cada um se sente, o nível de vulnerabilidade emocional de cada colaborador. Essas interações são embasadas 100% em protocolos clínicos com validação nacional e internacional, então ela entende como cada colaborador se sente e sugere uma prática, seja uma prática para mantê-lo bem, para despressurizá-los. E, adicionalmente, se percebemos que existe algum usuário que já está mais vulnerável e apresentando alta indicação de depressão e ansiedade, além de indicar a prática, também fazemos a conexão com um psicólogo por meio das consultas on-line. Essas práticas são validadas por pesquisa, então elas estão divididas em atenção plena, terapia cognitiva-comportamental e psicoeducação, e tudo é feito dentro da IVI. A mecânica tecnológica aqui é machine learning e inteligência artificial, porque conforme vamos vendo quais são as práticas que o colaborador escolhe das que a IVI sugere, conseguimos entender qual é o perfil de consumo desse usuário, sua preferência.

M&M – Quais são as vantagens do uso da inteligência artificial para esse propósito? Em paralelo, quais são as limitações?

Carolina – A vantagem na IVI é a escala. Em operações que estão espalhadas, é possível atender 100% da população. Também é possível ter um custo reduzido para que todo mundo seja atendido, para realizar o acompanhamento contínuo. A inteligência artificial ajuda a reduzir o tabu. Em 2020, foi comprovado em uma pesquisa feita pela Oracle que os colaboradores se sentem mais confortáveis em falar sobre sua saúde emocional, estresse e saúde no trabalho com uma tecnologia do que com seu gestor ou RH, e, dos entrevistados, 64% dos brasileiros disseram que prefeririam uma tecnologia justamente porque têm medo de serem julgados. Então, quando você usa uma tecnologia, isso ajuda a quebrar o tabu, e, além disso, a inteligência artificial tem a capacidade de entender, por meio da navegação, as vivências que são adequadas para aquele usuário. Ou seja, das práticas que o aplicativo proporciona, quais são as que têm mais a ver com a preferência de consumo e da persona que está navegando. Sobre a limitação, acredito que seja somente em lugares que não temos acesso. Muitas vezes se estamos atendendo alguma empresa que parte dela é no campo, produção, às vezes a internet é limitada, então acaba atrapalhando, mas é muito reduzida essa limitação hoje em dia.

M&M – Quais são os principais desafios na criação de um sistema como esse?

Carolina – O principal desafio é ter um algoritmo que consiga ser cada vez mais fino. Precisamos ter um grande volume de dados para que consigamos ser mais potentes no entendimento do perfil de consumo de cada usuário. Vale ressaltar, que não temos nenhum risco em relação às vivências que sugerimos para cada um, porque essa vivência é identificada por meio dos protocolos clínicos e tudo que sugerimos está de acordo com o que foi identificado. Independentemente do que ele escolher, tudo que mostramos já está adequado para o nível dele. Por isso, não há nenhum risco tecnológico de sugerir algo inadequado.

M&M – Quais outras ferramentas tecnológicas (big data, AR, etc) são encaradas como tendências e que podem ajudar no bem-estar dos colaboradores?

Carolina – Acredito que seja, cada vez mais, a interconexão das tecnologias. Quando você tem um device que conecta com aplicativos, com resultados que você tem, por exemplo, em algum outro sistema que você usa, isso vai trazendo cada vez mais informação, que é o big data completamente cruzado. Então, se eu tenho um relógio que diz que meu sono não está bom e manda essa informação para o meu aplicativo e esse aplicativo já envia uma informação para o médico que realiza o atendimento do usuário, isso obviamente vai trazer mais riqueza. Hoje, no mercado temos várias empresas, startups ou não, olhando nichos. Eu entendo aqui que a tendência para que cada vez a gente tenha mais poder é que agora esses nichos comecem a se cruzar, para que possamos dar uma devolutiva ainda mais importante para o usuário. Isso vai enriquecer esse acompanhamento de atenção primária, tanto física quanto mental.

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