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Startups tornam as cidades brasileiras mais inteligentes

Quase um terço das empresas atreladas à tecnologia fomentam as smart cities e oferecem soluções de mobilidade, aponta o Distrito


14 de junho de 2021 - 6h00

No Brasil, entre 2015 e 2018, foi registrado o maior crescimento do número de startups focadas em cidades inteligentes. Em 2019, surgiram 13 e, em 2020, três. A queda, de acordo com a pesquisa “Smart Cities Report”, realizada em 2020 pelo Distrito, deve-se à dificuldade de encontrar companhias recém-nascidas, ainda com pouca visibilidade no mercado. O estudo leva em conta o próprio banco de dados da plataforma de inovação aberta. Todas as empresas foram examinadas individualmente, a fim de verificar adequação com o tema cidades inteligentes.

 

De acordo com a pesquisa “Smart Cities Report”, do Distrito, no Brasil, entre 2015 e 2018, foi registrado o maior crescimento do número de startups focadas em cidades inteligentes (crédito: Tumisu/Pixabay)

As smart cities consistem em ecossistemas urbanos caracterizados pelo uso generalizado de tecnologia, tanto na gestão de seus recursos quanto em sua infraestrutura. No entanto, Rodrigo Ferreira, gerente de políticas públicas do aplicativo de transporte 99, ressalta que, além de serem extremamente inovadoras, essas cidades só são inteligentes quando funcionam sob a lógica da eficiência e da sustentabilidade.

Em geral, o território brasileiro ainda está caminhando em direção à tecnologia, com esforços importantes feitos, especialmente, na área de transportes, voltados para retirar o automóvel particular do centro das políticas públicas e trazer inovações para auxiliar a nova lógica de urbanização, diz. “Apesar da entrada dessa mentalidade, nas duas últimas décadas, ter sido importante, ainda há um longo caminho a ser percorrido”, adiciona o profissional da 99.

Para Mauricio Villar, COO e cofundador da empresa de micromobilidade Tembici, as pessoas ainda têm uma visão distorcida do termo smart cities, além de temer o futuro. “A inovação tecnológica está presente em nossas vidas 100% do tempo e vamos nos acostumando a cada novidade, até que cada novo produto entra em nossas vidas e se torna essencial. Cidades inteligentes não são carros voadores ou coisas que vemos em desenhos animados e filmes de ficção. Dependem sim da tecnologia, mas são, na verdade, cidades mais humanitárias, colaborativas, sustentáveis, funcionais e econômicas”, afirma.

Quase um terço das startups que fomentam as cidades inteligentes oferecem soluções voltadas à mobilidade, aponta a pesquisa do Distrito. Atrás ficam empresas que voltadas para infraestrutura urbana (12%), soluções ecológicas (10,8%), planejamento e gestão (9,6%), gestão de resíduos (9,6%), operações municipais (9,6%), segurança (8,4%) e qualidade de vida (7,2%). Segundo o “Smart Cities Report”, a quantidade de startups com soluções para administração e governança municipal é menor por conta, por exemplo, da alta burocracia nos processos e da baixa priorização da gestão pública, com relação à aplicação de inovação de cidades inteligentes.

Segundo um levantamento e análise do evento Summit Mobilidade Urbana, do Estadão, realizado no ano passado, três grandes cidades do Brasil foram destaques como smart cities: Campinas, com cinco parques tecnológicos e cinco incubadoras; São Paulo, devido à conexões interestadual e aeroviária, além da ampla quilometragem de ciclovias; e Curitiba, com destaque para o atendimento urbano integral de água e esgoto.

Naturalmente, explica Rodrigo, os principais avanços tecnológicos aplicados às cidades são feitos nos países desenvolvidos, com mais acesso a tecnologias de ponta. Porém, aplicar novas tecnologias pontuais, para transformar de maneira eficiente e sustentável os espaços urbanos é um caminho possível para países como o Brasil e outros em desenvolvimento: “Nesse contexto, tecnologias pontuais podem ter um impacto alto, no País”.

De acordo com a pesquisa do Distrito, no País, a maioria das startups com foco em cidades inteligentes localiza-se no Sudeste — São Paulo abriga 42% dessas empresas. O segundo lugar fica nas mãos da região Sul. Santa Catarina contém 10% de todas as startups brasileiras focadas em smart cities. No Nordeste, Pernambuco destaca-se, com 2,4% das empresas desse segmento.

Startups impulsionam smart cities
As startups podem ser peças fundamentais para tornar as cidades mais inteligentes, seja no âmbito privado, seja no público. No primeiro caso, as empresas de ride-hailing e bike-sharing, por exemplo, trouxeram tecnologias importantes para a redução do uso de carro particular. No segundo, há laboratórios de inovação ligados ao governo, que têm como objetivo incubar startups, capazes de resolverem grandes problemas urbanos a custos muito baixos.

O fato das startups serem inovadoras e rápidas ajuda a desburocratizar serviços que já existem e os melhorarem, adiciona Mauricio. “É exatamente isso que uma cidade precisa para se tornar inteligente e, em parceria com iniciativas públicas, são capazes de revolucionar os principais setores, como educação, saúde, mobilidade e segurança”, diz.

Entre as dificuldades que as startups têm em fomentar o surgimento de cidades mais digitais, está, principalmente, a necessidade de diferentes âmbitos governamentais estarem abertos à inovação, para abrirem espaço e dados para novas abordagens de problemas. “Sem esse apoio governamental, muitas startups podem encontrar desafios para transformar realidades locais com todo o seu potencial’, explica o profissional da 99.

De 2010 a 2020, de acordo com o “Smart Cities Report”, estudo do Distrito, mais de US$ 331 milhões foram investidos em startups com soluções para cidades inteligentes. O ano com maior volume de dinheiro depositado no setor foi em 2017, devido a rodada de Series C da 99.

Equipamentos, logística, mobilidade e lixo
Os setores e o que é preciso fazer para que uma cidade inteligente aconteça são, explica o COO e cofundador da empresa da Tembici: equipamentos públicos, ou seja, pensar na distribuição assertiva de instituições — escolas, bancos, hospitais e outros — ao longo do espaço, a fim de evitar concentrações, trânsito e dificuldades no acesso, atendendo melhor toda a população; logística, focada em coordenar com maior eficiência todo o fluxo de distribuição nas cidades, tanto de pessoas como de materiais; mobilidade, para melhorar a circulação nos grandes centros e eliminar congestionamentos; e tratamento de lixo, direcionado em lidar com o problema de grandes aterros sanitários, excesso de lixo e desperdícios, além da questão do descarte incorreto de materiais.

Segundo Rodrigo, o avanço tecnológico, nas próximas décadas, promete trazer transformações relevantes para as cidades, principalmente, na área de transportes em áreas como eletrificação, internet das coisas e automação. Para que as cidades se tornem realmente inteligentes, entretanto, é necessário que a aplicação dessas tecnologias, tanto por parte do poder público, quanto da iniciativa privada, seja feita seguindo uma lógica focada nos principais potenciais das cidades, visando a qualidade do convívio urbano e o acesso às oportunidades oferecidas pelos meios urbanos.

Olhando para o que já temos construído e observando a evolução na América Latina, além dos profissionais, empresas, governo e recursos começando a se engajar mais na construção das cidades inteligentes, para Mauricio, a bike elétrica compartilhada é uma grande tendência para o futuro da mobilidade urbana. Isso porque facilita deslocamentos mais longos e com diferentes relevos, exigindo menos esforço de quem pedala. Ademais, a micromobilidade compartilhada, de forma geral, permite a integração modal com transporte público, contribuindo para a diminuição de emissão de CO2, poluição sonora e tráfego intenso, além de ser mais econômico.

*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels

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