Camila Farani: “Tecnologias emergentes estão vindo com mais força”
Presidente da G2 Capital e investidorado segmento de tecnologia, Camila Farani divide impressões sobre o impacto da inteligência artificial nos negócios
Camila Farani: “Tecnologias emergentes estão vindo com mais força”
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Thaís Monteiro
13 de agosto de 2024 - 6h02
Nesta terça-feira, 12, tem início a quarta edição da Rio Innovation Week. Sediado no Píer Mauá, na capital fluminense, o evento pretende movimentar R$ 2,6 bilhões e receber 150 mil pessoas. O Rio Innovation Week deste ano tem como tema principal Humanização em Tempos de Inteligência Artificial, baseado na crença dos organizadores de que a tecnologia pode ser catalisadora do desenvolvimento humano, social e ambiental.
Uma das sócias do evento, Camila Farani acredita que a IA constitua a quarta revolução industrial. Assim, é necessário que todos se disponham a aprender a tecnologia para não ser deixado para trás. Em um cenário de retração econômica, afirma, eventos como o Rio Innovation Week contribuem para unir educação, inovação, conteúdo, negócios e networking e, assim, fomentar o ecossistema de inovação. No evento, a executiva fará uma série de entrevistas com nomes de diferentes áreas para dialogar sobre negócios, sustentabilidade, diversidade e marketing no Farani Stage.
Além de sócia do evento, Farani é presidente da G2 Capital, boutique de investimento em tecnologia, membro do Conselho de Administração do PicPay e da Tem Saúde, e do Conselho de Marketing e Growth da NuvemShop, além de sócia e investidora da Play9, cofundadora da Staged Ventures, fundadora do Grupo Farani e do projeto Ela Vence, plataforma de conteúdo que conecta empreendedoras e investidoras.
Camila Farani se torna sócia da Play9
Ao Meio & Mensagem, Camila Farani dividiu desafios e perspectivas sobre o cenário de inovação no Brasil, sobre impactos da IA no marketing e sobre diversidade no campo do empreendedorismo.
Meio & Mensagem – O tema principal do Rio Innovation Week deste ano é Humanização em tempos de inteligência artificial, com base na crença que essa tecnologia possa ser catalisadora para o desenvolvimento humano, social e ambiental. Como você vê a IA proporcionando esse desenvolvimento humano, social e ambiental?
Camila Farani – O Rio Innovation Week está indo para o quarto ano e também são quatro anos do Farani Stage, que é meu palco. Lá, terão as maiores mentes de inovação, tecnologia e negócios do Brasil e do mundo. Hoje, tem duas mil startups e uma movimentação de aproximadamente R$ 2,6 bilhões. Ele se consolidou como a maior união de mentes e formadores de opinião e tendências da América Latina. Quando começamos a pensar na edição de 2024, a IA estava bastante em voga. Fizemos o exercício de pensar que é uma ferramenta, mas que por trás dela tem um ser humano. O que procuro mostrar e ensinar é que ajudará você ter mais produtividade, gerenciar melhor o seu tempo para ser mais produtivo, mas não é a salvação de tudo, mas é evolução. A IA é a quarta revolução industrial, sem dúvida, porque evolui completamente nossa forma de trabalho, de interagir. É claro que tem alguns aspectos que são contrapontos. Então, todo o ecossistema tem que se adaptar, inclusive, o jurídico, em regulamentação. Muito se fala sobre as pessoas perderem seus empregos. Elas podem perder se não souberem usar. Mas a IA está aqui para evoluir a humanidade.
M&M – Quais são os reflexos que a adoção da IA podem ter no marketing e no comportamento do consumidor?
Camila – Gosto de falar do marketing, hoje, sob o aspecto de growth, de crescimento. É importante dizer que o marketing bem feito é aquele que, de fato, dá resultado. É uma tecnologia emergente que contribui para que você faça busca apurada sobre o próximo entrevistado ou cliente e pedir para a IA criar perfis. Nós usamos com muita parcimônia, porque não substitui o trabalho artesanal, a inteligência por trás do humano. Mas o que você faria em três horas, com a IA você faz em 40 minutos. Automaticamente, você está ajudando a empresa, o marketing. Se pararmos para pensar em otimização orgância, aquisição de clientes, canais, lifetime value, como mapear potenciais públicos, cruzar e alocar investimentos, aí temos a mistura perfeita entre inteligência artificial com o foco em crescimento.
M&M – Você é uma investidora focada, entre outros assuntos, em tecnologia. Esse setor é cada vez mais amplo e as soluções tecnológicas avançam com rapidez. Tendo isso em vista, quais são os desafios de ser um investidor nesse cenário?
Camila – O primeiro desafio do investidor de tecnologia é sair da estatística. Eu, por exemplo, fiz muito investimento anjo. Hoje, faço bem menos. Do investimento anjo, a cada dez empresas que você investe, em oito perderá dinheiro. É cada vez mais você entender quais são suas teses de investimento. É claro que o Brasil – e o mundo – está mais maduro. Os investidores e empreendedores estão mais profissionais. Estou há 14 anos no cenário de tecnologia e passei por algumas bolhas até conseguir, de fato, colocar o perfil do investidor na legislação brasileira. Você adiciona isso a custo e estrutura de capital e um ambiente muitas vezes não tão favorável. Criei a Farani Escola de Negócios porque você precisa separar se quer ter um hobby ou se, de fato, quer ter um negócio. Porque se você quer ter um negócio, precisa aprender a vender, a negociar. E não são características que a escola te ensinará, nem a faculdade. Entendi que precisava canalizar naquilo que eu via de gap dos empreendedores, principalmente dos empreendedores de tecnologia, negociação e vendas.
M&M – Falando dessas iniciativas, você tem projetos focados em fomentar o empreendedorismo feminino e sempre fala sobre a disparidade em recortes de raça e gênero no ecossistema de inovação. Quais iniciativas práticas devem ser propostas para existir evolução nesse quesito?
Camila – As empresas públicas e privadas estão cada vez mais trazendo empreendedores plurais para dentro das companhias. Hoje, não se tem avaliação baseada em gênero e cor. É baseada em competência. Vejo isso melhorando e esses atores chamando as responsabilidades para si. Sempre chamei a responsabilidade para mim, porque assim você engaja outras pessoas. Se mudarmos 1% todo dia, já está muito bom. Mas, sem dúvida, hoje as empresas tem um olhar mais acurado. Outra prática interessante é lideranças fazerem mentorias com outros empreendedores. Além disso, há programas de capacitação de pessoas de fora e trazer essas pessoas para dentro. Por outro lado, se mulheres e LGBTs continuarem em uma posição de que não conseguirão, de fato, não conseguirão. Muitas vezes, pensei que tinha que trabalhar mais para me equiparar para, enfim, chegar em algum lugar. Minha grande provocação é: como você pode evoluir pessoalmente e profissionalmente para chegar no patamar que você quer? Às vezes, com aquela empresa não dará certo, mas outra sim.
M&M – O ano de 2024 começou com previsões desfavoráveis à economia. O Banco Mundial aponta para um terceiro ano consecutivo de desaceleração desde a pandemia, resultado de aperto na política monetária, investimentos globais fracos e da escalada de conflitos no Oriente Médio. E estamos vivenciando uma retração na economia global. Como isso deve se refletir no ecossistema de inovação e como esse ecossistema busca perseverar diante disso?
Camila – O ecossistema de inovação, principalmente o de venture capital, é muito anticíclico. Então, depende menos da volatilidade comum de mercado, porque, via de regra, nossos investimentos não são de curto prazo. São investimentos, de fato, para empresas. Muitas estão crescendo e estão em pré-curva de maturidade. Seguimos um movimento, de certa forma, contrário, mas não que não afete. É um cenário mais complexo. Como investidora, fico mais criteriosa. A conta que faço é sempre qual é o grau de risco que terei para os próximos dois anos.
M&M – Entre 2018 e 2021, 20 startups brasileiras se tornaram unicórnios. No ano passado, apenas uma startup brasileira se tornou unicórnio. Qual é a sua avaliação desses números? Os últimos anos foram bem desafiadores para as startups que precisaram enxugar a operação e mostrar resultados. Esse cenário tende a se manter?
Camila – Temos que entender que, no meio disso, tivemos o propulsor digital que foi a pandemia. Algumas, de fato, chegaram a ir ao patamar de unicórnio porque as pessoas estavam mais no digital. Tivemos uma curva, um núcleo atômico que fez com que algumas empresas catapultassem. É natural que depois de grandes ondas o mercado passe a se regular, o que é bom para que não gere uma bolha. Não deixamos de produzir empresas com valuation grande. Acredito que esse cenário melhorará, sim, mas não será na mesma velocidade que vivemos nos últimos anos em que tivemos esse propulsor digital perfeito.
M&M – O que você observa de movimentos interessantes ou tendências nesse ecossistema?
Camila – Sem dúvida, as tecnologias emergentes estão vindo com muito mais força. E, ao mesmo tempo, elas se deparam com um cenário que é mais amigável. Antes, o cenário era mais inóspito. Não falo só de IA, mas internet das coisas, experiências imersivas, QR code, que passa a ser amplamente utilizado. Mas, sem dúvida, tudo o que vier por meio da tecnologia para dar mais tempo a pessoa passa a ser estilo de vida. Na Farani Escola de Negócios pensamos em como podemos melhorar o tempo de aprendizado de empreendedores com base não só nos 27 anos de experiência, mas por meio da tecnologia. Também temos uma contrapartida, que são os impactos desse uso de tecnologia de forma desmedida nos transtornos. As empresas, no geral, e aquelas que captaneam o movimento de vício estão preocupadas com isso. Como lidar com todas as variáveis que o excesso de digital e de informação proporcionam?
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