Victória Navarro
30 de novembro de 2023 - 14h46
A fim de otimizar custos e garantir benefícios aos médicos e pacientes via soluções com aplicações em saúde, a Embratel habilitou sua rede privativa 5G para testes em laboratório do Hospital Albert Einstein. Entre as ações, está o serviço Einstein Até Você, que provê assistência médica, realização de exames e aplicação de vacinas onde o paciente estiver.
A integração entre o 5G e a saúde
A iniciativa aponta o movimento de integração da quinta geração de tecnologia móvel com a democratização do acesso à saúde, o que abrange desde manutenção inteligente e autônoma da cadeia de suprimentos médicos, transmissão de imagens médicas de alta resolução até monitoramento remoto de pacientes.
Nos próximos quatro anos, espera-se que os investimentos em tecnologia da informação e telecomunicações em provedores de saúde pública no Brasil ultrapassem R$ 5 bilhões. Desse valor, aproximadamente 50% devem ser destinados a softwares. Os dados são do estudo WW 3rd Platform Industry Spending Guide: Healthcare Provides, realizado pela International Data Corporation (IDC) em junho de 2022.
Ação conjunta com Mercedez-Benz leva 5G ao Einstein
Além disso, o 5G está sendo avaliado na Unidade Móvel de Saúde do Hospital Albert Einstein, em ação conjunta com a Mercedes-Benz do Brasil. O projeto oferece serviços de saúde de forma itinerante e conta com aparelhos para a realização de exames, que necessitam de uma conectividade rápida, estável e confiável para o envio e recebimento de informações.
A interoperabilidade no setor da saúde e bem-estar
Quando se fala em interoperabilidade no setor da saúde e bem-estar, o principal desafio é a baixa maturidade digital das instituições. “Somente depois de digitalizar documentos e processos, é possível evoluir para a transformação digital”, explica Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel.
Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel: “A grande vantagem do 5G é habilitar a utilização de recursos avançados em saúde, tanto dentro da instituição como fora dela”
Para dar mais transparência aos serviços do segmento no Brasil, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) elaboraram um documento com propostas que visam alcançar novos padrões de segurança, eficiência e agilidade no acesso e na transação de dados nos serviços de saúde no Brasil, o Open Health.
Ao Meio & Mensagem, Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel, aborda o papel do 5G na democratização da saúde.
Meio & Mensagem – Qual a importância de consolidar a rede nacional de dados, quando o assunto é a democratização da saúde?
Alexandre Gomes – Continuidade ao cuidado é o que melhor define a importância do histórico de saúde do paciente. Sem informações prévias de sintomas, diagnósticos e tratamentos, a atuação do médico fica limitada. ]
Conhecer sintomas e a evolução do paciente, ao longo dos tratamentos realizados durante sua vida, melhora a precisão de diagnóstico e desfecho, reduz custos e desperdícios.
Consolidar a rede nacional de dados permite um acesso equitativo às informações de saúde; melhoria na prestação de serviços no setor; ampliação da pesquisa e inovação, por meio de uma base rica de informações para pesquisadores; maior monitoramento da saúde pública e mais transparência e responsabilidade dos agentes de saúde; além de empoderamento do paciente, que pode acessar seus próprios registros médicos e compartilhar com quem desejar.
O Open Health já é muito comentado, mas precisamos lembrar que os dados clínicos de saúde são de propriedade do paciente, que tem o direito de ter acesso, compartilhar as informações e revogar a permissão de compartilhamento.
No Brasil, como anda o desenvolvimento de sistemas habilitados para capturar, transportar e analisar dados versus a largura de banda disponível no mercado?
Alexandre – A grande vantagem do 5G é habilitar a utilização de recursos avançados em saúde, tanto dentro da instituição como fora dela. Aplicações como teleinterconsulta (médicos apoiando outros médicos em consultas, exames e procedimentos a distância), transmissão de exames de imagens médicas (que possuem um grande volume de dados), de procedimentos médicos com imagens de alta resolução, de realidade aumentada e realidade virtual, de imagens do atendimento dentro da ambulância, monitoramento remoto de pacientes e dispositivos médicos conectados são algumas das aplicações que necessitam de grande taxa de transmissão de dados e de baixa latência.
Outro aspecto é a segurança da rede 5G, já que é possível realizar slices, permitindo que a rede seja privativa, dando um maior nível de segurança e melhorando a qualidade do serviço.
Há a possibilidade de existir um gêmeo digital para cada paciente?
Alexandre – A criação de um digital twin, com todas as características específicas de cada paciente, será capaz de auxiliar os profissionais da área a anteciparem situações, simular cenários e até mesmo reduzir riscos com a análise antecipada das implicações de cada terapia ou procedimento clínico.
Esse gêmeo digital poderá ser atualizado semanalmente, mês a mês e até mesmo a cada ano, tornando possível a prevenção e estimativa de eventos nocivos à saúde. O conceito redefinirá a forma como promovemos o bem-estar. Com a adoção da tecnologia de digital twin, o setor passará a ter a possibilidade de aprimorar o conjunto de padrões de cada indivíduo – visto que, atualmente, as organizações têm como base os padrões observados na população de maneira geral, nos quais não são refletidas as singularidades ou características individuais. Com o gêmeo digital trabalhando em paralelo ao corpo físico, será possível transformar a forma de cuidado com as pessoas.
Quais os desafios da interoperabilidade no setor da saúde e bem-estar?
Alexandre – O primeiro desafio é a baixa maturidade digital das instituições de saúde. Somente depois de digitalizar documentos e processos, é possível evoluir para a transformação digital. Uma vez que estas etapas sejam concluídas, o próximo passo é integrar os dados, dentro da própria instituição, como o sistema de gestão hospitalar, o sistema laboratorial e de arquivamento de imagens, permitindo construir um repositório de dados clínicos único do paciente através da plataforma de interoperabilidade, que já tem embarcado padrões utilizados em saúde.
Além disso, as instituições devem integrar todas as unidades neste repositório e, assim, ter uma visão clínica completa de todos os pacientes para alavancar os benefícios trazidos pela interoperabilidade: gestão de saúde populacional, indicadores de desfechos clínicos, novas linhas de cuidados, monitoramento de pacientes são alguns exemplos.
Essa integração deve também ocorrer com os outros segmentos, incluindo pagadores e prestadores, medicina diagnóstica e farmacêuticas, formando um ecossistema de saúde conectado e integrado.
O 5G já é uma realidade para o mercado de heatlh?
Alexandre – O 5G traz consigo a infraestrutura digital que habilitará as tecnologias emergentes, e viabilizará os variados casos de uso para a sociedade, empresas e governo. E com certeza o setor de saúde tirará proveito desta infraestrutura.
Quanto a já ser uma realidade, podemos dizer que depende da aplicação. Para aplicações mais avançadas, em caráter massivo, ainda não. No entanto, esta infraestrutura já está disponível para ser adotada.
Com isto, os casos de uso virão na sequência. Aplicações como controle e gestão de ativos, tratamento de imagens e segurança são aplicações que já são adotadas na indústria e podem ser adotadas também em hospitais e clínicas.
Quais tecnologias esta infraestrutura habilita? Vídeo e data analytics; inteligência artificial; automação e robótica; machine learning e internet das coisas.
Considerando a integração entre as indústrias de telecomunicações e saúde e bem-estar, como vê o futuro do heatlh no Brasil e no mundo?
Alexandre – A saúde do futuro estará embasada nos 4P’s da saúde: prevenção, predição, personalização e participação. Veremos instituições de saúde, medicina diagnóstica, fármacos, tratamentos, linhas de cuidado em saúde e reabilitação integrados formando um ecossistema com o paciente no centro da atenção e consolidando os dados clínicos do paciente no registro eletrônico de saúde, com uma aplicação em nuvem, segura e acessível de qualquer lugar.
Os dados são de propriedade do paciente, que poderá disponibilizar o acesso a suas informações de saúde com seus cuidadores e revogar o acesso quando desejar, conforme já previsto na LGPD.
A saúde será mais acessível aos pacientes de qualquer localidade, grandes centros, áreas rurais ou até mesmo na selva (indígenas), alcançando médicos especialistas remotamente em qualquer lugar do mundo.
Com o avanço tecnológico dos dispositivos médicos e o ganho de escalabilidade, o médico poderá realizar anamneses mais precisas mesmo a distância.
Cirurgias poderão ser realizadas a distância; ambulâncias estarão conectadas com o pronto socorro; dispositivos vestíveis poderão monitorar os sinais vitais em tempo real; gêmeos digitais serão utilizados para avaliar tratamentos antes mesmo de serem executados; a realidade aumentada será utilizada para avaliação de procedimentos pré-cirúrgicos; órgãos serão impressos em 3D; e teremos próteses inteligentes e implantes cerebrais.