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Opinião

Marketing do Oceano Azul

A estratégia para criar mercados inexplorados e tornar a concorrência irrelevante

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27 de março de 2025 - 15h38

Em um ambiente de negócios onde a hipercompetitividade é a norma, a maioria das empresas adota estratégias de diferenciação ou liderança em custos para capturar fatias de mercado.

No entanto, a abordagem tradicional de competir diretamente dentro de um espaço existente o chamado Oceano Vermelho leva a uma guerra de preços e à erosão das margens de lucro.

A teoria do Oceano Azul , desenvolvida por W. Chan Kim e Renée Mauborgne, oferece um caminho alternativo: a criação de novos espaços de mercado inexplorados, onde a concorrência se torna irrelevante.

No contexto do marketing, isso significa não apenas comunicar diferenciais, mas estruturar toda a proposta de valor para ressoar com públicos que antes não eram considerados.

Empresas que aplicam essa estratégia não apenas obtêm vantagem competitiva sustentável, mas redefinem indústrias inteiras

O que diferencia o marketing do Oceano Azul do marketing tradicional é sua ênfase na inovação de valor, no reposicionamento da demanda e na disrupção de paradigmas estabelecidos.

O paradigma da inovação de valor

Diferente da inovação tecnológica pura, que foca em avanços científicos, ou da inovação incremental, que melhora produtos já existentes, a inovação de valor do Oceano Azul combina diferenciação e redução de custos de maneira simultânea. Isso significa que as empresas não apenas introduzem novas propostas ao mercado, mas eliminam características tradicionais que não agregam valor real ao consumidor.

O exemplo clássico é o Cirque du Soleil. Em vez de competir com circos tradicionais, um setor em declínio devido a altos custos operacionais e mudança no interesse do público, a empresa eliminou elementos como animais e performances infantis, posicionando-se como um espetáculo artístico premium.
Com isso, conseguiu atrair um novo público disposto a pagar mais por uma experiência imersiva e sofisticada.

No marketing, essa abordagem se traduz no reposicionamento da comunicação.
O Cirque du Soleil não vende “shows circenses”, mas sim uma experiência cultural única , utilizando storytelling e branding para construir uma narrativa aspiracional.

No Brasil a Dengo: o chocolate que criou seu próprio Oceano Azul

Um case recente que ilustra perfeitamente essa abordagem é o da Dengo, marca brasileira de chocolates fundada em 2017.

O mercado de chocolates premium no Brasil sempre foi dominado por marcas internacionais e por produtos com alto teor de açúcar e baixo teor de cacau.
A maioria das empresas disputava clientes dentro desse modelo tradicional um Oceano Vermelho de concorrência feroz.

A Dengo decidiu nadar em outra direção, criando um novo espaço de mercado baseado em chocolates de alta qualidade, sustentáveis e com impacto social.

Como a Dengo aplicou o Oceano Azul?

Eliminação de elementos tradicionais em sua comunidade.
– Redução do açúcar e aumento do teor de cacau (mínimo de 50%).
– Abandono do modelo tradicional de varejo e aposta em lojas-conceito sensoriais.
2. Criação de um novo valor para o consumidor.
– Sustentabilidade: apoio direto a pequenos produtores de cacau no Brasil.
– Experiência personalizada: chocolates a granel, escolha de ingredientes nacionais, embalagens ecológicas.
3. Mudança no storytelling e no posicionamento
– A Dengo não vende apenas chocolate, vende um propósito, um convite a “se presentear” e apoiar um modelo de negócio ético.
– Sua comunicação foca em afeto, brasilidade e consumo consciente.

O resultado? A Dengo não compete diretamente com as grandes marcas lá criou um nicho próprio, onde os consumidores não compram apenas pelo sabor, mas pela história e pela experiência única, reposicionamento da demanda expandindo o Público-Alvo.

Empresas que aplicam o marketing do Oceano Azul não disputam clientes existentes, mas criam demanda onde antes não havia.

Outro exemplo maravilhoso é a Nintendo, com o lançamento do Wii, ignorou a briga entre Sony (PlayStation) e Microsoft (Xbox) pelo público hardcore e apostou em um console com jogabilidade simples e intuitiva.

Com isso, atraiu famílias, idosos e jogadores casuais, ampliando radicalmente o mercado de videogames.
Essa estratégia de desconstrução de mercado exige uma abordagem distinta de marketing:

Segmentação não convencional

Em vez de dividir o mercado com base em concorrentes diretos, busca-se públicos não explorados.
Valor percebido acima das funcionalidades técnicas. A campanha do Wii não destacava especificações de hardware, mas sim a experiência social e inclusiva do jogo.

Experiência de marca centrada no usuário A Nintendo investiu em demonstrações interativas e comunicação emocional para criar uma conexão com novos consumidores.

Essa lógica também se aplica a Netflix, que redefiniu o consumo de mídia ao substituir o modelo de locação de DVDs por streaming sob demanda.

Sua estratégia de marketing não se baseou na tecnologia da plataforma, mas na promessa de assistir ao que quiser, quando quiser um benefício claro e direto para o consumidor.

Disrupção de paradigmas e modelos de negócio

Outro pilar do marketing do Oceano Azul é a transformação de indústrias tradicionais.
Uber eliminou barreiras do mercado de táxis ao oferecer um serviço mais acessível e conveniente.
A Tesla reinventou o mercado de carros elétricos, transformando-os em símbolos de status e inovação.
Spotify apostou em um marketing centrado na personalização da experiência musical, destacando playlists e recomendações.
A Dengo segue essa mesma lógica: enquanto a indústria tradicional do chocolate se baseia em grandes volumes e margens apertadas, a marca criou um novo modelo, baseado em personalização, sustentabilidade e propósito.

Como implementar o marketing do Oceano Azul?

1. Identificar barreiras invisíveis do mercado
– Quais dores do consumidor não estão sendo atendidas?
– Existem nichos ignorados ou mal explorados?
2. Criar uma proposta de valor única
– O que pode ser eliminado do modelo atual para reduzir custos?
– Quais características podem ser adicionadas para gerar diferenciação real?

3. Construir uma comunicação disruptiva
– Como contar a história da inovação de maneira envolvente?
– Como engajar o público para transformar consumidores em embaixadores da marca?

4. Utilizar estratégias digitais para ampliar o alcance.
– Marketing de Conteúdo: educar o mercado sobre os benefícios da inovação.
– User-Generated Content: criar provas sociais para validar a proposta de valor.
– Automação e IA : Personalizar a comunicação e reforçar a experiência do usuário.

O marketing do Oceano Azul não se trata apenas de diferenciação ele exige uma redefinição da lógica do mercado. Empresas como *Dengo, Cirque du Soleil, Nintendo e Tesla provaram que não é necessário competir diretamente; é possível criar um mercado tão irresistível que a concorrência se torna irrelevante

A pergunta essencial para qualquer empresa que busca navegar por um Oceano Azul não é como superar a concorrência?, mas sim Como criar um novo espaço de mercado onde sejamos únicos?

Glossário

O termo público hardcore refere-se a um grupo de consumidores altamente dedicados, exigentes e especializados dentro de um segmento de mercado.
No contexto de games, por exemplo, os gamers hardcore são aqueles que investem muito tempo jogando, buscam alto desempenho, conhecem profundamente as mecânicas dos jogos e frequentemente gastam mais dinheiro em equipamentos, acessórios e edições especiais.

Esse conceito pode ser aplicado a diferentes setores. No mercado fitness, por exemplo, um público hardcore seria composto por atletas profissionais ou entusiastas que seguem treinos intensivos e investem em suplementação avançada. Já no mercado musical, fãs hardcore seriam aqueles que acompanham bandas de forma obsessiva, compram edições limitadas de álbuns e vão a vários shows.

No marketing, entender o público hardcore é essencial para criar experiências personalizadas, oferecer produtos premium e gerar conteúdo altamente segmentado que atenda às expectativas desse nicho.

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