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Blog do Pyr

O acordo entre ChatGPT e Axel Springer

O que significa o acordo entre ChatGPT e Axel Springer para a indústria do conteúdo e mídia? Revolução.

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18 de dezembro de 2023 - 11h40

Você leu que o ChatGPT fechou acordo com a alemã Axel Springer, uma das maiores editoras digitais da Europa. O acordo é o seguinte… autoriza globalmente que o ChatGPT use os conteúdos de notícias da editora nos produtos de inteligência artificial da empresa, permitindo que a Open AI, criadora do ChatGPT, treine seus modelos de IA nas reportagens da organização e produção de notícias.

Nessa permissão de treinamento do algoritmo da OpenAI está a primeira coisa importante que você tem que prestar atenção.

Como parte do acordo, os usuários do ChatGPT receberão resumos de notícias das marcas de Axel Springer, incluindo suas mais destacadas publicações, como Politico, Business Insider, Bild e Welt, com atribuição e links para as fontes originais de reportagem. O acordo permitirá que os modelos da OpenAI aproveitem a maior qualidade e as informações mais atuais do editor nas respostas de seus chatbots.

Somada ao destaque anterior, esta é segunda coisa bem importante que você tem que prestar atenção.
A terceira coisa que você precisa prestar atenção e que a mídia global nem deu bola é que a Open AI pertence à Microsoft.

Mas antes de seguir, um pouquinho de contexto para os de memória mais curta. Ou eventualmente desatentos. E ou naives.

Os acordos entre os produtores de conteúdo, todos eles, do The New York Times ao mais humilde creator de uma pequena cidade do interior de qualquer país, e as grandes plataformas de tecnologia, sempre foram esquizofrênicos.

De um lado do cérebro da indústria de conteúdo há a consciência de que não há nenhuma máquina de distribuição planetária hoje tão abrangente e eficiente quanto essas plataformas, ainda mais se entendermos que Google e Facebook são sócios proprietários das maiores redes sociais em operação. Até o Tik Tok pertence à Byte Dance, que é uma empresa de tecnologia de plataformas web, não é um publisher.

Do outro lado do cérebro, se instala uma raiva insana, porque em troca as plataformas dão uma bela mordida na monetização desses conteúdos, que elas não produzem.

Na cabeça dos produtores de conteúdo isso é uma forma de apropriação indébita. Aí se instala a base da esquizofrenia.

Veja. Quando isso é feito à revelia do publisher, é, sem dúvida, apropriação indébita. Se houver um acordo, não, né?

Eu sempre disse que tudo isso é uma evolução, boa ou não, mas que se provou inevitável na história: os produtores de conteúdo, num mundo gerido pela internet, não se transformaram em empresas de tecnologia. Entenderam tecnologia como commodity de infraestrutura (o que ela é mesmo, só que essa é a parte mais óbvia e o relevante é o que se constrói em cima dela) e comeram uma bola enorme não criando no momento certo (algo como uns 10 anos atrás …. e olha que avisei bastante sobre isso exatamente dez anos atrás, ou mais …) alternativas tecnológicas para produzirem e distribuirem seus conteúdos digitais, num mundo digital. Dançaram.

Agora, dependem dessas plataformas para distribuírem o que produzem. Ou, no mínimo, monetizarem parte do seu inventário publicitário, que é uma fatia importante de sua receita.

Contexto posto, estamos diante agora do mais inovador e revolucionário acordo jamais realizado ente uma plataforma de tecnologia e um produtor de conteúdo. Aliás, bem mais que isso.

ChatGPT não é apenas uma plataforma de tecnologia distribuidora, ela é, per se, também uma produtora de seus próprios conteúdos. Mais ainda: ela aprende com qualquer tipo de conteúdo a produzir mais e mais outros conteúdos dela mesmo. Machine Learning. (Item que falei para você prestar atenção.)

Ou seja, aos poucos, vai se transformar em uma outra Axel Springer. Ou The New York Times. Entendeu?
Sendo que desta vez, não vai dar para os produtores de conteúdo reclamarem, porque o ChatGPT vai produzir conteúdos dele mesmo e não apenas fazer copy and paste dos conteúdos alheios. Ninguém vai conseguir sequer identificar de onde veio a primeira origem da informação ou análise que está contida no texto. (Segundo item que eu falei para você prestar atenção).

Dando mais um passinho: este acordo coloca a Microsoft no jogo da produção de conteúdo, algo que nunca fez e num mercado em que nunca esteve. Com uma arma que é uma bazuca 4.0 tecnologicamente falando. (Terceiro item que eu falei para você prestar atenção.)

Mathias Döpfner, CEO e sócio (22%) da Axel Springer, colocou assim publicamente nas declarações da companhia como vê esse acordo: “Queremos explorar as oportunidades do jornalismo potencializado pela AI, para levar a qualidade, a relevância social e o modelo de negócios do jornalismo para o próximo nível”.

Do outro lado, Brad Lightcap, diretor de operações da Open AI, mandou assim: “Esta parceria ajudará a fornecer às pessoas novas maneiras de acessar conteúdo de notícias de qualidade e em tempo real por meio de nossa ferramenta de AI”.

Mas aí veio a frase mais importante deste texto que você está lendo. O cara disse isto: “Estamos profundamente comprometidos em trabalhar com editores e criadores de todo o mundo e garantir que eles se beneficiem da tecnologia avançada de AI e de novos modelos de receita.”

Neste exato instante, por favor, pare de ler. Pare e pense. Pare, pense e imagine aonde isso pode chegar.

Eu já fiz isso. E é assim.
1. Acabou de mudar toda a forma de produção de jornalismo editorial;
2. Acabou de mudar toda a distribuição da produção desse conteúdo editorial no mundo;
3. Acabou de mudar toda a forma de monetização de conteúdos editoriais no mundo;
4. Os produtores de conteúdo ou embarcarão nessa ou morrerão à míngua (mais do que muitos já estão);
5. A briga entre as grandes plataformas de tecnologia nesse âmbito vai se acirrar aceleradamente, porque todas elas também têm suas versões de AI.

Mas vou te ajudar a ir ainda um passinho além: isso vai se expandir para todo tipo de conteúdo, vídeo incluso, e vai transformar toda a indústria do entretenimento … Hollywood, games, TV… vai listando aí.

Eu poderia me estender aqui um pouco mais, mas deixo o resto para a sua própria imaginação.

Só que é o seguinte: não pense pequeno. Viaje grandão. Porque esse acordo é o início de uma transformação bem maior do que foi a internet para todas essas indústrias e suas cadeias de negócios. É uma transformação sem fim.

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