O brasileiro não discute o que o Brasil faz com suas mulheres
Think Olga e Timelens analisam o que a população pensou, pesquisou e conversou no Dia das Mulheres
O brasileiro não discute o que o Brasil faz com suas mulheres
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5 de abril de 2024 - 6h00
Quando nós, da Think Olga, nos juntamos à equipe da Timelens para entender o que o brasileiro pensa, debate e pesquisa na Internet sobre o Dia das Mulheres, tínhamos algumas hipóteses, preocupações e esperanças. Ao fim da jornada de análise, podemos afirmar: é urgente ampliar, qualificar e priorizar a discussão sobre equidade de gênero — o brasileiro não sabe o que o Brasil faz com suas mulheres e como a maioria delas vive.
O primeiro dado que nos chama a atenção é que questões ligadas à ampliação de direitos femininos ou à violência de gênero representaram apenas 5% das menções em redes sociais, blog e reviews. Em mais de 800 mil comentários analisados, um fato: a data tem hoje um caráter mais comercial (presentes) do que sua vocação política original (luta por direitos). Além disso, a maioria dos conteúdos reforçaram a imagem de mulher forte e guerreira, pronta para enfrentar tudo e cuidar de todos. Uma mensagem que se propõe enaltecedora de qualidades femininas, mas, na verdade, esconde uma recusa veemente de repensar as estruturas que as obrigam a viver em luta constante.
No TikTok, a conversa tomou outra direção. A hashtag mais associada à data foi #empreendedorismofeminino, com mais de 4 bilhões de visualizações. Um reforço do papel comercial da data ou um diálogo sobre emancipação econômica? Talvez ambos? Na sequência, estão as hashtags #sagradofeminino com 153 mil visualizações e a #leimariadapenha (com mais de 108 mil). Sobre a lei, um achado positivo: o interesse por ela tem crescido no dia 8 de março, o que indica que há mais reconhecimento e consciência em torno da legislação.
Outro dado importante é que, no Dia da Mulher, as análises do Google indicam um pico de pesquisa por… Dia do Homem. Seria cômico se não fosse trágico. Em contrapartida, olhando o copo meio cheio, podemos celebrar um aumento de buscas sobre o Dia das Mulheres de forma geral. No Google, o crescimento foi de 46% nos últimos três anos. Nas redes sociais, o tema esteve 49% mais presente em 2024 do que em 2023.
Nos últimos 2 anos, as menções ao termo “cansada” foram duas vezes maiores do que “cansado”? Além disso, 45% das mulheres já foram diagnosticadas com algum transtorno mental como ansiedade e depressão, conforme o estudo Esgotadas, realizado pela Think Olga em 2023. Nem flores e bombons nem estrelinhas douradas para as guerreiras: as mulheres estão esgotadas e mentalmente adoecidas.
De acordo com a mesma pesquisa, os principais motivos do adoecimento são a sobrecarga de cuidado, dificuldades econômicas e estruturas machistas e racistas que moldam nossa sociedade. Para seguirmos a conversa com números, aqui estão dados importantes:
● A cada 10 mulheres no mundo, 1 vive em situação de extrema pobreza
● 83% vivem dupla jornada de trabalho, sendo quase sempre as únicas responsáveis pelas tarefas de cuidado e da família
● 97% convive diariamente com o medo de sofrer algum tipo de violência de gênero
Poderíamos aprofundar a discussão explicando fenômenos como as desigualdades salariais, os indecentes índices de violência sexual ou a necessidade de reconhecimento da economia do cuidado. Mas precisamos voltar alguns passos e pactuar consensos básicos: sim, mulheres são fortes e resilientes. Não, não é justo que elas tenham que continuar lutando e temendo pela própria vida com pouco ou nenhum amparo.
O Dia das Mulheres não pode perder sua vocação política. Essa data serve para nos lembrar que, ao longo de todo o ano, nossos direitos estão em disputa. Ainda estamos longe de um Brasil justo e inclusivo, que cuida, fortalece e ampara sua população feminina. Nossos desafios são sociais e complexos, por isso precisam ser de todos e todas. Da empreendedora que bomba no TikTok à mãe cansada que pede apoio em casa e qualquer reconhecimento, seja em forma de presente ou alívio das tarefas no dia 8 de março. É para elas que devemos olhar. Os homens, curiosos com a celebração do seu próprio dia, também não podem mais se esquivar de sua responsabilidade em diminuir as escandalosas desigualdades de gênero.
No fundo, a gente sabe onde dói, o que pesa e qual é o cenário das mulheres. Mas os dados mostram que ainda optamos pela saída fácil, pelo não diálogo, por deixar os direitos das mulheres em segundo plano, por manter a fantasia de que ser mulher é ter a capacidade de aguentar todas as opressões. Feliz dia da mulher para quem?
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