O efeito entropia
Por que a inovação não é suficiente para manter sua empresa viva
Por que a inovação não é suficiente para manter sua empresa viva
13 de fevereiro de 2025 - 6h00
Existe uma força invisível que rege o universo, da expansão das galáxias à queda das folhas no outono: a entropia, o princípio da desordem crescente. Tudo o que nasce, cresce e se organiza está, inevitavelmente, destinado à desintegração. No mundo dos negócios, resistir a essa força é uma ilusão perigosa.
Por décadas, líderes corporativos buscaram a “fórmula da longevidade”. Jim Collins, em Good to Great, sugeriu que algumas empresas encontraram o segredo para a eternidade corporativa. Mas o que vemos é o contrário: a mortalidade empresarial está se acelerando. Segundo a Innosight, a expectativa de vida das empresas no S&P 500 caiu de 33 anos em 1964 para apenas 21 em 2020 – e continua diminuindo.
Mas o problema não é a velocidade da inovação. A verdadeira questão é: as empresas e seus líderes estão dispostos a morrer para renascer?
Empresas morrem não por falta de inovação, mas porque se apaixonam por suas próprias narrativas de sucesso. Essa arrogância cria um falso senso de invulnerabilidade. Vemos companhias repetindo modelos vencedores mesmo quando o ambiente já mudou.
Pense na General Electric. Não é a Kodak, nem a Blockbuster. A GE foi sinônimo de inovação e gestão de excelência por décadas. Mas tentar manter-se relevante sem repensar suas fundações resultou em colapso financeiro e perda de prestígio. A falha não foi tecnológica, mas estratégica: a incapacidade de questionar sua própria essência.
Algumas empresas já entenderam que lutar contra a impermanência é uma batalha perdida. Em vez disso, elas a incorporam no DNA. Não se trata só de inovar, mas de desapegar-se das próprias estruturas para permitir o renascimento constante.
O Nubank é um exemplo brilhante disso. Desde sua fundação, não se posicionou apenas como um banco digital inovador. O diferencial está na forma como internaliza a impermanência como parte da cultura organizacional. O Nubank questiona constantemente suas práticas e abraça a incerteza. O que começou como um cartão de crédito sem tarifas virou uma plataforma financeira completa. O segredo? Estar disposto a mudar antes que o mercado force essa mudança.
Em um mundo onde a impermanência é a única constante, a habilidade mais subestimada – e talvez a mais crucial – de um executivo é gerenciar transições.
Liderar durante a estabilidade é confortável: processos definidos, resultados previsíveis, caminho claro. Mas o verdadeiro teste de liderança acontece nos momentos de incerteza, quando as estruturas antigas começam a ruir e o futuro ainda não está completamente formado.
As transições são pontos de inflexão que definem o futuro de uma empresa. Executivos que tentam preservar a estabilidade a todo custo tornam-se reféns do passado. Já os líderes que entendem o valor da transição contínua sabem que seu papel não é manter a ordem, mas facilitar a evolução.
O executivo moderno precisa ser um arquiteto de transições, alguém que não apenas gerencia mudanças, mas as antecipa e lidera com intencionalidade. Isso exige:
1. Visão Adaptativa: Ler o ambiente e identificar sinais de que uma transição é necessária antes que o mercado force essa mudança.
2. Coragem para Desapegar: Abandonar práticas e modelos que ainda funcionam, mas que não terão espaço no futuro.
3. Gestão do Desconforto: Liderar equipes através da incerteza, mantendo o foco no crescimento.
4. Criar Narrativas de Transição: Construir narrativas que ajudem as equipes a entender por que a transição é necessária e para onde estão indo.
O Nubank não apenas navegou essas transições com maestria, mas fez delas seu diferencial. Enquanto outros bancos ainda lutam para abandonar o modelo tradicional, o Nubank já explora novos territórios, como criptomoedas e soluções de investimento.
Nassim Taleb, em Antifragile, apresenta um conceito que vai além da resiliência. Empresas antifrágeis não apenas sobrevivem a choques e mudanças; elas se fortalecem com eles. Isso requer uma mentalidade que não teme a desordem, mas a vê como catalisadora da evolução.
A Ambev, por exemplo, não apenas se adaptou às mudanças no mercado de bebidas, mas liderou disrupções internas. Longe de se contentar com sua dominância no mercado de cervejas, investiu em tecnologia, startups e sustentabilidade. Durante a pandemia, pivotou rapidamente sua produção para fabricar álcool em gel, mostrando uma capacidade de adaptação que vai além do tradicional.
O verdadeiro desafio para as empresas é praticar a morte estratégica: encerrar deliberadamente produtos, serviços e modelos de negócios antes que o mercado o faça. A Netflix não esperou que o modelo de DVDs por correspondência se tornasse obsoleto; ela o matou enquanto ainda era lucrativo, apostando no streaming. Agora, enfrenta o mesmo dilema com o streaming saturado. Estará pronta para enterrar esse modelo também?
Empresas que sobrevivem não são as que evitam a morte, mas as que a utilizam como ferramenta de reinvenção contínua.
O ciclo de vida corporativo tradicional – nascimento, crescimento, maturidade e declínio – está obsoleto. As empresas do futuro não seguirão essa linha reta. Elas operarão em ciclos contínuos de nascimento e morte, inovação e desapego, como fênix corporativas que renascem das próprias cinzas.
Aceitar a impermanência não é só uma filosofia existencial; é uma estratégia de negócios. Porque, no final, a única forma de evitar o desaparecimento é abraçar a inevitabilidade dele.
E para os executivos, o recado é claro: o futuro não será definido pelas estabilidades que você manteve, mas pelas transições que você soube liderar.
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