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Opinião

Quais os limites do fim da posse?

O limite do compartilhamento não é apenas econômico, mas existencial. Ele nos leva a questionar não apenas as fronteiras do mercado, mas as do próprio ser humano

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8 de novembro de 2024 - 6h00

A era do compartilhamento, inaugurada por iniciativas como Uber e Airbnb, revelou uma mudança profunda na nossa relação com a propriedade e o valor. O que antes era exclusivo e individual, agora se torna coletivo e acessível, gerando novas formas de trabalho e consumo. O carro, a casa, até mesmo o tempo livre — todos se tornam recursos para serem compartilhados e monetizados. Na Califórnia, por exemplo, as garagens de casas comuns já armazenam produtos da Amazon, transformando o lar em centro logístico. A partir desse movimento, a Tesla propõe um novo patamar: que nossos veículos, enquanto inativos, possam também gerar lucro. Um carro não mais apenas serve ao seu dono, mas ao mercado — um símbolo de um novo capitalismo, onde até os momentos ociosos se tornam oportunidades de rendimento.

No entanto, essa expansão do compartilhamento traz consigo uma provocação filosófica fundamental: até onde devemos permitir que nossa vida se torne um processo de monetização constante? O que significa, de fato, “possuir” algo, quando tudo ao nosso redor pode ser compartilhado, alugado, alugado e, de alguma forma, explorado por forças externas? O que acontece com a autonomia individual em um mundo onde a privacidade e a propriedade são cada vez mais fragmentadas e transformadas em serviços?

O modelo de compartilhamento abre portas para maior eficiência, para uma utilização mais inteligente dos recursos, mas também nos desafia a refletir sobre o preço dessa nova ordem. Se tudo pode ser transformado em capital, o que sobra para a experiência genuína da vida? Até que ponto a busca por lucro e otimização nos impede de vivenciar a plenitude de nossa existência?

O limite do compartilhamento não é apenas econômico, mas existencial. Ele nos leva a questionar não apenas as fronteiras do mercado, mas as do próprio ser humano — entre o que fazemos, o que possuímos e o que realmente somos. Em um mundo onde tudo é compartilhável, a verdadeira pergunta talvez seja: o que, de fato, queremos preservar de nossa liberdade, nosso tempo e nossa humanidade?

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