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Startups unicórnios do Brasil: qual é o cenário?

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Startups unicórnios do Brasil: qual é o cenário?

Roberto Kanter, da FGV, cita escassez do capital e maior olhar para custos fixos, somados à mudança de agenda de investidores interessados nesse tipo de empreendimento

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27 de outubro de 2022 - 11h46

Símbolo de unicórnio ao lado de gráfico oscilando

Unicórnios vem enfrentando uma onda de demissões (Crédito: niphon subsri/shutterstock)

Há alguns meses, startups unicórnios – aquelas que têm valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão – vêm sendo alvo de polêmicas por registrar demissões em massa. Daki, Ebanx e Hotmart estão entre os diversos nomes que fizeram movimentações desse tipo e reestruturação de pessoal, algo não exclusivo ao País, mas que está acontecendo em todo o mundo. Em tempos de incerteza econômica, dadas as diversas crises que a sociedade global vem encarando, a credibilidade de tais negócios está sendo colocada em xeque.

Atores significativos do avanço da inovação, os unicórnios encaram mudança de paradigma por parte de investidores. Agora, sustentabilidade de negócios e outros modelos são evidenciados, com descentralização de foco nas startups unicórnio. “Há uma tendência das startups e dos investidores que começam a olhar não para empresas com produtos e serviços isolados, mas sim para empresas que, em seu DNA, já fazem parte de um ecossistema de negócios”, afirma Roberto Kantar, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A visão compartilhada e colaborativa vem ao encontro da criação de  modelo de receita em que haja a conexão de empresas direta ou indiretamente ligadas ao negócio. Ao Meio & Mensagem, o professor compartilhou sua percepção acerca do cenário atual e a visão de investidores para o mercado no longo prazo.

Meio & Mensagem – Qual é a situação em que as startups unicórnios se encontram no Brasil?
Roberto Kanter – O dinheiro de alto risco está muito escasso no mundo, com o aumento da taxa de juros e outras oscilações de mercado. Existe uma distorção na forma como uma empresa se torna um unicórnio. Um investidor por exemplo, paga R$ 100 milhões por 10% da empresa, portanto o “valuation” dela se torna R$ 1.0 Bi e ela se transforma em um unicórnio. Em algum momento a frente, o mesmo investidor resolveu comprar os 90% restantes. Quando faz isso, o valor negociado da venda da empresa foi algo em torno de R$ 500 milhões de reais. O valor da empresa caiu? Sim e Não. No mundo das startups, as partes valem mais que o todo. O valor real da empresa é quanto alguém decide comprar 100% da empresa. […] Quando o investidor compra uma fração da empresa ele está pensando na geração de riqueza, no lucro do futuro. Quando a pessoa compra a empresa como um todo, ela está interessada no resultado da operação, no que chamamos de valor real, e não de valor futuro. O valor real é muito menor. Uma vez entendido isso, o mundo de hoje é um mundo com uma redução drástica na oferta de dinheiro. Com isso, as empresas acostumadas a queimar dinheiro “burn cash” para conquistar clientes e mercados de uma maneira muito rápida estão sendo obrigadas a se adaptar a nova realidade. Com o dinheiro mais escasso, as empresas estão sendo obrigadas a olhar para o custo da sua operação, com foco no custo fixo, predominantemente pessoas e estoque. A Lei da Sobrevivência das empresas é clara: Quanto menor o custo fixo de um negócio, maior as chances dessa empresa vir a dar certo no futuro. Esse é o ponto crucial que vivemos hoje. Como vivemos em um momento em que as empresas estão com menos acesso a dinheiro, elas necessitam operar com rentabilidade hoje. Não podem mais esperar o futuro. Ao fazerem as contas, percebem que a receita que tem hoje não é compatível com o custo e precisam adequar a receita com as despesas da operação. Por isso que elas vem demitindo em massa.

M&M – Esse cenário impacta de alguma forma o avanço da inovação tecnológica no Brasil?
Kanter – Não, de forma alguma. A maior parte dos layoffs acontece no administrativo, não está acontecendo nas áreas de desenvolvimento, que são o core das startups.

M&M – O que os investidores buscam atualmente?
Kanter – Cada investidor tem a sua agenda. O movimento que está sendo visto é uma antecipação de entrada de investidores em fases em que normalmente eles não entravam. Como o capital e o dinheiro do investidor está mais restrito, ele está deixando de entrar apenas na fase da aceleração. Investidores de risco estão hoje entrando em todas as fases da empresa, desde ideação até a aceleração. Estão antecipando a entrada de capital junto às empresas. Com isso, pagam um menor valor por um share mais ou menos equivalente e tem um controle melhor sobre o negócio dirigido por terceiros. Os Fundos de Venture Capital (VC) estão mudando sua forma de trabalhar, participando mais ativamente da construção das empresas, oferecendo mentorias, consultorias, abrindo portas com clientes, quando antes só colocavam capital financeiro. Agora, estão sendo obrigados a ter uma vida em conjunto com as suas investidas mais intensa … Particularmente, acho muito saudável.

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