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Olimpíadas

Além de 2016

Marcas e prefeitura apostam em legado efetivo para o Rio de Janeiro pensando nos ganhos depois da Olimpíada


19 de julho de 2016 - 9h28

Reportagem publicada na edição Meio & Mensagem Marketing na Olimpíada em novembro de 2015.

Por Teresa Levin

São apenas 17 dias de Jogos Olímpicos e 11 de Paralímpicos, mas o objetivo é que os dois eventos gerem frutos por muitos anos para cariocas e turistas que visitarem o Rio de Janeiro. Isso é o que têm em mente tanto a prefeitura da cidade, quanto as marcas patrocinadoras dos dois eventos que querem deixar um legado consistente para a capital carioca. A ideia é de que, com o Rio na vitrine mundial, os incrementos em infraestrutura e os investimentos em tecnologia, responsabilidade social e sustentabilidade, reverberem ao redor do mundo mas, principalmente, gerem um impacto positivo para a população local. Esse planejamento envolve desde o apoio a projetos sociais, passando por inovação nas telecomunicações e incentivos à prática do esporte, além da melhoria nos mais diversos itens da cidade, como iluminação e transporte, e o investimento no aprimoramento do capital humano local.

Patrocinadora dos Jogos Olímpicos desde 1932, a Omega, que fornece os cronômetros das competições, aproveitou a Rio 2016 para inovar. Em vez de instalar o tradicional relógio com a contagem regressiva de “One Year to Go” em um local de destaque da capital carioca, optou por criar uma nova forma para ressaltar os dias que falram para que o Maracanã receba a cerimônia de abertura. Em uma parceria com o Viva Rio, a contagem regressiva está sendo feita com o apoio a 12 ações sociais.

“Vamos melhorar espaços comunitários e centros de educação para as mães vulneráveis e jovens do Rio de Janeiro. Haverá um novo projeto a cada mês”, destaca Stephen Urquhart, presidente mundial da Omega. O objetivo é não só fazer a diferença de forma valiosa, mas aumentar a atenção para as necessidades da cidade.

“Beneficiamos uma causa de valor. As iniciativas são importantes para a mudança tangível, mas também para nos conectarmos com mais pessoas compartilhando esta mensagem”, diz. Até agora três projetos foram beneficiados. No bairro de Costa Barros, que registra um dos mais altos índices de violência na região e um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) da cidade, a Omega irá equipar uma unidade de atenção primária com os recursos necessários para dar estímulo às crianças e prestar assistência às mães e gestantes. A empresa também já está apoiando projetos na Ilha do Governador e em Quintino; neste último bairro, mais de mil famílias serão beneficiadas. A cada mês, até agosto de 2016, um novo apoio será divulgado.

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Cartão-postal da cidade, a lagoa Rodrigo de Freitas recebeu 540 luminárias LED de 90 watts da GE, ao longo dos 7,5 quilômetros de sua ciclovia | Crédito: Divulgação

Já a Dow, patrocinadora TOP dos Jogos desde 2010, optou por lançar novas iniciativas em vez de apoiar projetos existentes, sempre com foco na mitigação do carbono gerado pelo evento. O investimento da companhia em legado passa por duas frentes: o uso de suas tecnologias tradicionais em obras para os Jogos e um programa de sustentabilidade para mitificação do carbono. “Esta última é a maneira como vamos ativar nosso patrocínio”, explica Júlio Natalense, gerente de tecnologia e sustentabilidade da Dow para os Jogos Rio 2016.Implementado pela primeira vez em Socchi, na Olimpíada de Inverno de 2014, o projeto da Dow visa compensar emissões de carbono e envolve iniciativas voltadas para eficiência energética, alimentação e agricultura, e construção civil. Entre as ações desenvolvidas está um programa com produtores de soja e milho na região do Mato Grosso. “Prestamos consultoria no uso de tecnologia na agricultura.Conhecendo melhor sua propriedade e as necessidades daquela cultura, o agricultor otimiza o uso de insumos, evitando gases do efeito estufa”, observa. Já foram incluídos 25 mil hectares na primeira fase do projeto e até os Jogos serão cem mil. O programa terá prosseguimento depois de 2016. Na construção civil, a Dow quer divulgar a tecnologia de sistemas construtivos com painéis de isolamento térmico por meio de seminários ao longo do Brasil; o primeiro será em Recife, no dia 24.Estes encontros são voltados para o público técnico. Em outra frente, a Dow está levando mensagens de conscientização da emissão de carbono, sustentabilidade e mudanças climáticas a 500 mil pessoas em escolas públicas do Rio, em parceria com a Rio 2016.

Mudança efetiva

A Cisco quer aproveitar os Jogos para mostrar o potencial da tecnologia e, para isso, firmou uma parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro visando melhorias para a cidade. Com o intuito de deixar um legado humano, desde o ano passado vem capacitando jovens de comunidades cariocas em tecnologia de rede. Desenvolvido em parceria com a Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia, esse projeto treinará 750 pessoas a cada ano e durará ao menos três anos após os Jogos. “Elas tiveram a oportunidade de entrar no setor de tecnologia”, explica Rodrigo Uchoa, diretor de novos negócios e coordenador-geral do projeto Rio 2016 da Cisco.

Em uma outra linha, a Cisco quer mostrar a importância da tecnologia em ações práticas na cidade. Neste caso, o palco escolhido foi a região do Porto Maravilha, que renasceu por conta dos Jogos. “Criamos um laboratório vivo do uso de tecnologia para entender como a vida das pessoas que vivem e trabalham ali pode ser beneficiada”, afirma. Ele envolve o Desafio Cisco de Transformação Urbana: a empresa convidou empresas de tecnologia do Rio e de fora para trazerem ideias inovadoras para o local. “Selecionamos cinco ideias e vamos partir para o processo de aceleração destas empresas.

É a inovação urbana por meio do uso da tecnologia”. A Cisco tem ainda um projeto com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para o qual fornece uma plataforma de tecnologia de telepresença e colaboração, modificando a maneira como trabalham hoje. “Depois dos Jogos, será parte de legado que deixaremos para o esporte brasileiro”, conclui.

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Projetos da Õmega nas comunidades de Costa Barros, lha do Governador e Quintino beneficiam as famílias que moram nessas regiões: marcas querem trabalhar as próximas gerações | Crédito: Divulgação / Serge Pirodeau

Patrocinadora dos Jogos Olímpicos desde 2005, a GE procura a cada ano ampliar o benefício que deixa para as cidades-sede. Por meio de projeto “presente”, ela busca aprimorar a infraestrutura local. A forma como isso acontecerá no Brasil ainda está sendo definida, mas, para exemplificar, Akiko Nishimoto, gerente de marca sênior da GE para a América Latina, conta que em Londres foram doados US$ 8 milhões em equipamentos médicos para uma nova unidade neonatal. 

Mas os investimentos da GE em legado vão além deste projeto “presente” e envolvem, por exemplo, a iluminação do Maracanã e da Lagoa Rodrigo de Freitas. No estádio já estão instalados 396 projetores EF 2000. “A tecnologia proporciona aos espectadores uma visibilidade perfeita do campo de jogo, tanto ao vivo quanto pela TV”, diz. Já a Lagoa Rodrigo de Freitas recebeu 540 luminárias LED de 90 watts da GE em 2011, instaladas ao longo dos 7,5 quilômetros de sua ciclovia. “Trouxe mais beleza e segurança, além de uma economia no consumo de energia de 50% em comparação com a tecnologia anterior”.

A GE também quer ir além da infraestrutura e patrocina a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa). A parceria vai além da exposição da marca nas competições oficiais: a companhia está desenvolvendo pesquisas para contribuir para o alto rendimento dos atletas. “São recursos para o esporte brasileiro no futuro. Usamos o primeiro Centro de Pesquisas Global da GE na América Latina, colocando em prática o big data ao coletar e avaliar dados em tempo real”, diz.

Telecomunicações

A Claro e a Embratel também são fornecedoras de infraestrutura para os Jogos e estão investindo em reforços de cobertura em aeroportos e pontos turísticos, para uma melhoria nos serviços de voz, dados, mobilidade e wi-fi, além da expansão das redes 3G e 4G. As duas apontam que este será um legado que ficará para a cidade. “Temos ainda 180 estações móveis dedicadas que já estão sendo testadas durante os eventos testes do Rio”, explica Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da Claro. A marca também aproveitou a Rio 2016 para ampliar sua estratégia de investimento em esporte. Patrocinadora de eventos como Rio Open e Copa do Brasil, a empresa vê a Olimpíada como o ponto mais alto desta estratégia. “Por isso o patrocínio a 21 atletas olímpicos e parlímpicos”.

Marcello Miguel, diretor executivo da Embratel, conta que desde 2011 a empresa está em preparação para a Olimpíada, com um projeto voltado especialmente para expansão e modernização da sua rede de dados e sistemas. Para ele, um dos maiores impactos dos Jogos Olímpicos para um país é a transformação e avanço das cidades. “Desde a mudança de infraestrutura até o sentimento de autoestima da população. Ela fica preparada para se tornar tecnologicamente mais inteligente”, conclui.

Transformações visíveis

Cidade já observa resultados das obras de infraestrutura que mudam a paisagem local por conta dos Jogos 

As dores de transformações profundas ainda são sentidas e devem durar um tempo, mas o carioca já vê resultados efetivos das mudanças na infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro. Apesar das obras aparentes para ampliação da malha viária e expansão do metrô, entre outras iniciativas, a capital carioca vê espaços públicos se modificarem, tendo a região do Porto Maravilha como a menina dos olhos desta intensa transformação.

Reinaugurada em setembro, a Praça Mauá já entrou para o rol de programa dos cariocas, após uma reforma que a transformou em um dos locais mais belos do centro da cidade, sede do Museu de Arte do Rio e do Museu do Amanhã, este último ainda sendo preparado para sua inauguração. Não foi à toa que o Google, por exemplo, escolheu um armazém justamente no Porto para a instalação do YouTube Space do Rio de Janeiro, um polo de produção para os usuários da plataforma que nos moldes da capital carioca existe apenas em quatro cidades do mundo.

Grande parte dessas intensas mudanças faz parte de um planejamento da prefeitura carioca. “Mais do que realizar obras e organizar o evento em si, o objetivo da prefeitura é tornar o Rio de Janeiro um lugar melhor para seus moradores, com mudanças nas áreas de transporte, infraestrutura urbana, meio ambiente e desenvolvimento social”, explica Joaquim Carvalho, presidente da Empresa Olímpica Municipal. O órgão foi criado pela prefeitura do Rio de Janeiro para coordenar a execução dos projetos e atividades municipais relacionados aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Seu objetivo é que o Rio de Janeiro seja reconhecido, ao longo desta década, como a melhor cidade do Hemisfério Sul para se viver, trabalhar e visitar.

Monteiro reforça que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão uma importante ferramenta de divulgação e fortalecimento da “marca Rio de Janeiro”, mostrando alegria, beleza, capacidade de reali­zação, cultura, profissionalismo, além de reforçar a cidade como destino turístico, de eventos e de negócios. “As competições dos Jogos Rio 2016 somarão 5,6 mil horas de transmissão ao vivo. Nos Jogos de Londres 2012, a audiência global foi de 4,8 bilhões de pessoas”, cita, para mostrar o potencial de reverberação do evento.

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Reinaugurada em setembro, a Praça Mauá ganhará em breve um vizinho: o Museu do Amanhã Crédito: Opção-Brasil-Imagens-Zé-Martinusso

Entre os legados que já estão em uso na cidade, ele aponta o Parque dos Atletas, utilizado pela população como área de lazer e para a prática de esportes. “Além de ser um espaço para grandes eventos como o Rock in Rio e a Rio + 20”, fala. Ele cita ainda que o projeto do Parque Olímpico prevê que, até 2030, equipamentos esportivos e novos empreendimentos formem um novo bairro residencial. “Terá o tamanho equivalente ao bairro do Leme — que será referência para a cidade. Será um bairro com novos componentes de eficiência energética, sustentabilidade e acessibilidade”, detalha. Após as competições, os equipamentos esportivos permanentes se tornarão um complexo esportivo e educacional na região da Barra e Jacarepaguá destinado a estudantes da rede municipal e a atletas de alto rendimento com uso compartilhado por projetos sociais e eventos. “Outra preocupação que tivemos foi adotar o conceito de arquitetura nômade para os equipamentos temporários sempre que possível”, conta.

Monteiro diz que o objetivo é garantir que essas estruturas sejam utilizadas em equipamentos permanentes para a cidade, com outros usos pós-Jogos. “Um bom exemplo é a Arena do Futuro que, após 2016, será transformada em quatro escolas municipais”, antecipa. Seguindo esta linha, o Complexo Esportivo de Deodoro, um dos principais palcos dos Jogos, terá um Parque Radical aberto ao público, que atenderá cerca de 1,5 milhão de pessoas de dez bairros e três municípios vizinhos. “É uma região com grande concentração de jovens e carente de áreas de lazer”, diz.

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Joaquim-Monteiro, presidente da Empresa Olimpica Municipal | Crédito: Renato Sette – Camara Prefeitura do Rio

Rio 2017

Além do legado tangível, o evento também está impulsionando o desenvolvimento de outras ações que renderão frutos permanentes, explica o presidente da Empresa Olímpica Municipal. “O Rio Criança Global universalizou o ensino do inglês nas escolas municipais”, cita. Nesta linha, também está sendo realizado o programa Ginásio Experimental Olímpico (GEO), com o objetivo de dar oportunidade para os alunos da rede municipal com aptidões esportivas de desenvolverem seu potencial. “O programa foi lançado em junho de 2011 e já conta com três unidades”, fala. Monteiro afirma que, desde o início do projeto olímpico, o objetivo da prefeitura do Rio foi fazer os Jogos de forma eficiente, mas também simples e econômica, deixando um legado tangível para a cidade e seus moradores, evitando assim o surgimento de “elefantes brancos”.

O foco no que virá depois dos Jogos é uma preocupação constante do Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CVB). Por conta disso, o órgão que busca atrair eventos para a cidade lançou um planejamento voltado para o que acontecerá a partir de 2017. “Temos feito viagens para fora do Brasil e pelo Brasil mostrando este Rio novo a agentes de viagens”, aponta Michael Nagy, diretor comercial do Rio CVB. Ele antecipa que a ideia é ainda fazer uma campanha na mídia para fortalecer esta estratégia, falando do que vem depois dos Jogos. “Estamos trabalhando para o pós-2017 e já temos eventos fechados até para 2025. O Rio já era considerado um dos melhores polos para fazer congressos e eventos, mas está cada vez mais se consolidando nesse posto”, diz.

Ele reconhece que hoje os cidadãos cariocas estão pagando o preço da construção desta nova infraestrutura. Mas para ele o legado já pode ser sentido, apesar de todas as obras, com o sucesso do BRT, as novas ampliações das vias do centro, com a beleza da Praça Mauá. “Teremos talvez a cidade mais bem preparada da América do Sul, com uma infraestrutura melhor para o carioca e o turista”, conclui.

Barcelona renasceu com os Jogos

O que era uma cidade degradada e nada atrativa da Europa se transformou em um dos principais destinos turísticos daquele continente e do mundo. A reali­zação da Olimpíada em Barcelona, em 1992, é considerada o principal caso de prosperidade de uma cidade-sede por conta dos Jogos. As mudanças tornaram-se possíveis quando a organização dos Jogos na cidade catalã optou por aproveitar a oportunidade de sediar a maior competição esportiva do mundo para fazer Barcelona passar por uma transformação radical.

O projeto de revitalização da cidade teve como foco a despoluição das águas e a reconstrução da zona portuária, que ganhou ruas, avenidas, instalações comerciais, hotéis, transporte público e segurança. O novo bairro ganhou o nome de Barceloneta e abrigou, na época, a Vila Olímpica. Após os Jogos, virou uma zona residencial, com uma política voltada para a moradia com o intuito de atrair a população para o local, confirmando a revitalização da área da cidade e transformando-a em um dos principais destinos turísticos local.

Barcelona aproveitou ainda os Jogos para resgatar antigos patrimônios históricos e culturais. Os resultados pós-olímpicos foram fruto de um planejamento estratégico: do total investido na cidade por conta das Olimpíadas, dois terços da verba foram destinados para melhorias voltadas para o turismo e a hotelaria.

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