Com a palavra, os diretores da Abertura
Espetáculo de abertura mexe na imagem do Brasil e levanta autoestima do brasileiro, reforçando o poder de uma boa história
Espetáculo de abertura mexe na imagem do Brasil e levanta autoestima do brasileiro, reforçando o poder de uma boa história
16 de agosto de 2016 - 12h53
Por Teresa Levin
Uma área de quase 30 mil metros quadrados, ao lado do Maracanã, logo atrás da estação do metrô. O que ao entrar parece apenas um grande descampado com algumas tendas, é o quartel-general da equipe que está produzindo as cerimônias de encerramento dos Jogos Olímpicos e de abertura e encerramento das Paralimpíada. O local, chamado de “one to one”, tem este nome porque inclui uma área que reproduz o mesmo espaço do campo do Maracanã para que os voluntários possam ensaiar, já que o estádio agora já se prepara para receber algumas partidas de futebol. O comandante do local é o cenógrafo Abel Gomes, que, após 30 anos de carreira, viveu a sua empreitada mais importante na sexta-feira 5, quando foi realizada a abertura dos Jogos Olímpicos. Diretor-geral artístico das cerimônias da Rio 2016, foi ele quem escalou o time criativo do espetáculo, com Daniela Thomas, Andrucha Waddington e Fernando Meirelles. Desde o início, ele visualizou a oportunidade única que teria em mãos.
“O Brasil tem 516 anos de vida e seria a primeira vez na sua história que o País, em um mesmo momento, se comunicaria com o mundo inteiro”, comenta, citando o evento que atraiu uma audiência global estimada em mais de quatro bilhões de pessoas. Se a mídia, nacional e estrangeira, acumulou elogios ao evento, assim como os que viram o espetáculo no estádio e a audiência que acompanhou pela TV e reverberou impressões para lá de positivas nas redes sociais, os números confirmaram o que se ouvia e lia por todos os cantos. Uma ligação do diretor-geral do Comitê Rio 2016 para Abel na terça-feira passada, 9, confirmou com dados a sensação geral.
“Ele me contou que até o meio-dia da sexta-feira, 5, estavam sendo vendidos, em média, 12 mil ingressos por dia para todas as modalidades. Depois da abertura, a partir do sábado, este número passou para cem mil ingressos. Está aí a resposta”, afirma Abel, com o brilho nos olhos de quem parece um iniciante. A empolgação com que conta como foi o processo que levou ao espetáculo do dia 5 esconde um largo portfólio recheado de grandes eventos como as vindas do papa João Paulo II ao Brasil, do papa Francisco e os últimos oito Réveillons de Copacabana, além da festa de 50 anos da TV Globo. Mesmo com esta bagagem, ele destaca o poder que a repercussão positiva da abertura teve na imagem do País. “No mínimo melhora muito a nossa imagem. Os brasileiros não são só os caras que sabem jogar futebol, a mulata rebolando. Saímos disso, o mundo está vendo a gente de uma maneira diferente”, avalia.
Fernando Meirelles, um dos diretores da cerimônia, acredita que a curto prazo o evento elevou a autoestima do brasileiro. “O que mais me alegra sobre isso é que a abertura teve zero de marketing”, observa. Ele acrescenta que o espetáculo expos as mazelas, apontando ainda para um futuro sombrio, causado pelo o aquecimento global. “Mesmo assim a turma embarcou, o que prova que a verdade é libertadora e engaja”, opina. Com larga experiência no audiovisual, ele observa que o show foi criado para a TV. “Graças ao público, a energia no estádio foi mágica, mas este foi um bônus”, avalia. Assim como ele, Daniela Thomas e Andrucha Waddington têm grande experiência com cinema e TV. “Evidentemente isso ajudou muito. O ritmo da apresentação tinha a velocidade da TV e não o ritmo comum neste tipo de espetáculo”, destaca.
O poder das imagens
Andrucha conta que, desde que o grupo começou a trabalhar em torno do espetáculo, ainda em 2014, o desafio era fechar muito bem a história. “Tendo uma boa história para contar, independentemente do que acontecesse, iríamos nos agarrar a ela. Fugimos da ideia de falar do passado do País, usamos a cultura brasileira para falar do planeta”, observa. Para ele, com um enredo definido, mesmo com os cortes de orçamento que aconteceram e de problemas de produção, a ideia foi mantida. Segundo Abel, o orçamento de Londres 2012 já foi menor do que o de Pequim 2008, e o da Rio 2016 chegou a um quarto do investido em Londres.
Daniela Thomas conta que nunca pensou que um espetáculo pudesse alterar o estado de espírito ou a imagem de um país. “E parece que ele fez isso. Mudou o assunto, a pegada. É emocionante para quem a vida toda trabalhou com cinema e teatro sentir esse poder”, revela. Ela explica que o grupo trabalhou em cima de alguns objetivos claros: não glorificar o País, mas mostrar sua potência criativa, que no Brasil emana da cultura popular; contar um pouco da história dessa população tão ricamente misturada, sem fugir das mazelas; mostrar as consequências do processo civilizatório aqui e no mundo; alertar o mundo sobre a premência das questões ambientais e celebrar a tolerância e a diversidade.
As projeções que surpreenderam o mundo tiveram Fabião Soares, sócio-fundador e diretor de criativo da oitozerooito, no comando. O profissional, que por 11 anos foi um dos sócios da Conspiração e por três anos trabalhou com o Blue Man Group, em Nova York, foi o diretor de projeções do espetáculo. Ele explica que Daniela, Andrucha e Meirelles sempre tiveram a concepção de ocupar todo o campo do Maracanã. “Era como um cenário de 128m por 63m. A ideia sempre foi desenvolver projeções não como um adorno, mas um elemento cênico, abrindo outra dimensão do espetáculo, transportando as pessoas para lugares distintos”, detalha.
Além dele e dos diretores prestigiados citados, o time criativo contou com nomes de peso como a coreógrafa Deborah Colker, diretora de movimento, e Beto Villares e Antônio Pinto, à frente da trilha sonora que engajou o público.
A íntegra desta reportagem está publicada na edição 1723, de 15 de agosto, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.
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