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O papel das marcas no combate ao racismo no esporte

De acordo com observatório da Discriminação Racial no Futebol, 41,8% dos profissionais brasileiros negros envolvidos no futebol já foram alvo de racismo.


4 de setembro de 2023 - 6h00

Mesmo rechaçados por grande parte da sociedade, casos de racismo no esporte – como o sofrido pelo jogador Vinicius Jr em maio – ainda são comuns. Para se ter uma ideia, estudo elaborado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com CBF e Nike, mostrou que 41,8% dos profissionais brasileiros negros envolvidos na modalidade já foram alvo de racismo.

Marcas e racismo no esporte

Vini Jr. foi vítima de racismo durante jogo em maio deste ano (Crédito: Aitor Alcalde/ Gettyimagens)

A pesquisa, divulgada na quinta-feira, 31, apontou que 53,9% dos casos aconteceram nos estádios e outros 31,4% nas redes sociais. Além dos atletas, o levantamento inclui trabalhadores dos clubes dos campeonatos masculino (séries A e B) e feminino (A1 e A2) e comissão de arbitragem. Mais de 500 pessoas responderam as questões entre julho e agosto deste ano.

Diante dessas violências, também é natural crescerem as discussões acerca do papel das marcas no combate ao racismo e outras discriminações nos campos. Conforme a pesquisa “As marcas e o racismo no esporte”, elaborada pelo Instituto Locomotiva para a iO Diversidade, 73% dos consumidores do País concordam que as patrocinadoras das competições devem apoiar a diversidade no esporte.

Além disso, 83% dos participantes do estudo disseram que as marcas devem lutar pela igualdade de todos os atletas e 76% responderam que a luta contra o racismo mobiliza a disposição para a escolha de produtos. Nesse sentido, 60% dos consumidores falaram que a defesa da igualdade racial/luta contra o racismo aumenta muito as chances de comprar uma marca.

Políticas públicas

O assunto é atual e urgente também para poder público. No mês passado, os ministérios da Igualdade Racial e do Esporte lançaram um relatório fruto de um grupo de trabalho sobre o assunto. O documento visa criar estratégias e políticas para o combate ao racismo nas competições.

A criação de um selo e um prêmio para certificação de entidades esportivas antirracistas e campanhas em estádios em prol da conscientização são algumas das ações apontadas. O relatório também recomenda a produção de dados e estatísticas que possam fundamentar políticas públicas e ações da iniciativa privada para a evolução da pauta.

Marcas e racismo

Rachel Rua, diretora da iO Diversidade, afirma que, na realidade atual, não é mais possível que as marcas se isentem de participar dos debates sociais. Como mostram os dados, o posicionamento é esperado pelos clientes e têm influência direta no comportamento de compra.

“Os riscos de se afastar ou não se posicionar desses assuntos são, sobretudo, reputacionais. Diversidade e consciência sobre as desigualdades sociais são praticamente pré-requisitos para uma marca que deseja ser relevante no século XXI”, analisa.

O fundador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, acrescenta que, mais do que posicionamento, as empresas são parte fundamental na engrenagem. Em outras palavras, é papel das patrocinadoras a cobrança de entidades, como CBF e Conmebol, bem como federações, além de apoiar a manifestação de clubes e jogadores.

“Precisamos fazer um movimento para os patrocinadores entenderem que eles não podem aceitar um produto a qualquer custo. Temos que quebrar aquela história de que, aconteça o que acontecer, o jogo não pode parar. Uma partida com um caso de racismo não pode prosseguir e as marcas têm papel fundamental nisso”, salienta.

Para Carvalho, houve avanços em diversos aspectos, no entanto, é preciso avançar nesses debates. “Não basta mais se posicionar. Hoje, é necessário pensar na educação dentro dos clubes, nas categorias de base. Ou seja, utilizar o futebol para conscientizar a sociedade do que é o racismo”, completa.

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