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O Paradoxo da Hipertecnologia: Entre a Democracia Digital e a Tecnocracia

Enquanto testemunhamos avanços tecnológicos sem precedentes, também enfrentamos desafios significativos aos valores democráticos e ao bem-estar social


16 de março de 2025 - 21h00

Nos últimos anos, temos visto avanços notáveis em inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia. No entanto, paralelamente, observamos um aumento do autoritarismo, a polarização política e o negacionismo científico. O retorno de líderes polêmicos ao poder gerou preocupações sobre políticas anti-democráticas, a divisão social tem dificultado o diálogo e a busca por soluções comuns, e, apesar do acesso à informação, vemos um aumento na rejeição de evidências científicas.

A tecnologia tem sido utilizada tanto para promover a liberdade quanto para reforçar o autoritarismo. Governos autoritários utilizam tecnologias avançadas para monitorar cidadãos, enquanto redes sociais e inteligência artificial têm sido usadas para espalhar desinformação e manipular a opinião pública. Por outro lado, iniciativas como as de Taiwan demonstram como a tecnologia pode ampliar a participação democrática. Como destaca Audrey Tang, Ministra Digital de Taiwan, sobre o sistema Taiwan: “Todos viram que é possível para a democracia evoluir, criar novas políticas simplesmente perguntando às pessoas: o que devemos fazer juntos?”.

 

Tecnologia para o Bem Social e Ambiental

Apesar da proliferação de informações, grande parte da população tem dificuldades em interpretar e avaliar fontes de forma crítica. Um grande número de pessoas reconhece a importância do pensamento crítico, mas sente que ele é escasso na sociedade. Além disso, pesquisadores combatendo a desinformação enfrentam hostilidade e são rotulados como “censores”. Glen Weyl, sobre a importância da inovação democrática, ressalta: “Acho que há muito que o mundo pode aprender com Taiwan. Os EUA estão operando com um sistema de 250 anos. Há um desejo crescente de ir além disso e repensar, desde os princípios básicos, como seria a democracia no século XXI”.

Apesar dos desafios, existem caminhos promissores. Taiwan tem se destacado na democracia digital com o sistema vTaiwan, que utiliza inteligência artificial para facilitar consultas públicas e encontrar consenso. Sobre a transparência governamental, Audrey Tang afirma: “Podemos tornar o governo mais aberto ao público. Seria mais fácil para as pessoas acessarem os dados, analisá-los, transparência”. No Brasil, a experiência de consultas públicas online, como a criação do Marco Civil da Internet, foi um passo significativo na democratização do acesso à formulação de políticas, como destaca Ronaldo Lemos: “O Brasil foi pioneiro em usar a internet para consultas públicas. Um exemplo notável foi a criação do Marco Civil da Internet, onde cidadãos puderam contribuir diretamente na elaboração da lei através de plataformas online.”.

Na área da educação e pensamento crítico, plataformas de inteligência artificial estão sendo desenvolvidas para melhorar a compreensão de leitura, e iniciativas de alfabetização midiática ajudam a combater a desinformação. Na sustentabilidade, o uso de inteligência artificial e big data otimiza recursos e reduz o impacto ambiental, enquanto blockchain aumenta a transparência em cadeias de suprimentos sustentáveis. No bem-estar social, a telemedicina e a inteligência artificial melhoram o acesso à saúde em áreas remotas, e o crowdfunding social democratiza o financiamento para projetos comunitários.

 

O Caminho Adiante

Para alcançar um mundo centrado no bem-estar social e na preservação ambiental através da tecnologia, devemos promover a “tecno-diversidade”, evitar a monocultura tecnológica e garantir resiliência. Glen Weyl ressalta o potencial transformador da tecnologia na política: “A tecnologia está remodelando a política neste país mais do que nunca. […] Existem outros modelos ao redor do mundo para que isso aconteça, formas pelas quais isso já aconteceu no passado e, de muitas maneiras, teve sucesso. São modelos igualmente ousados, igualmente empolgantes e bastante diferentes, realmente, envolvendo a participação cidadã, formas de o governo ser mais transparente para as pessoas e incentivá-las a ajudar a transformá-lo”.

A colaboração global deve ser fomentada para o compartilhamento de inovações e melhores práticas entre nações. Além disso, investir em educação digital é essencial para capacitar cidadãos a usar e entender criticamente a tecnologia. Regulações éticas devem ser implementadas para garantir que o desenvolvimento tecnológico seja guiado por princípios democráticos e sustentáveis. O incentivo à participação cidadã, utilizando tecnologia para ampliar o envolvimento dos cidadãos nas decisões políticas, é um dos caminhos mais promissores para fortalecer a democracia digital.

O progresso tecnológico, por si só, não garante o avanço dos valores democráticos ou do bem-estar social. No entanto, quando direcionada intencionalmente e eticamente, a tecnologia pode ser uma poderosa aliada na construção de uma sociedade mais justa, participativa e sustentável. O desafio que enfrentamos não é tecnológico, mas de vontade coletiva e visão compartilhada. Ao abraçarmos uma abordagem que coloca as pessoas e o planeta no centro do desenvolvimento tecnológico, podemos transformar o aparente retrocesso em um salto qualitativo para uma democracia mais robusta e um futuro mais sustentável.

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