Novos Talentos - 2011
3º lugar – 21% dos votos
Carlão Busato
Hungry Man
Carlão Busato é filho da primeira revolução do vídeo on demand. Na década de 80, o moleque aproveitou a associação do pai a uma videolocadora que permitia que levasse dois filmes por dia para casa. Foram horas e mais horas na frente da TV.
Depois de ver todas as comédias mais trash da época — ah, que saudade de Porky’s! —, acabou migrando para a ficção científica. E descobrindo revolucionários do gênero, como o russo Andrei Tarkovski e o norte-americano Stanley Kubrick. “Não que um garoto de 14 anos tivesse condições de assimilar a densidade desses gênios, mas o estranhamento foi tão grande, que gerou em mim uma curiosidade ímpar com o cinema. Comecei a investigar, tentei compreender, migrei da ficção para o drama e assim por diante. Uma paixão começou, assim como o desejo de brincar com as imagens”, recorda Busato.
Centenas de filmes publicitários depois, o diretor sabe que um filme é trabalho fino de joalheiro, precisa ser bem lapidado primeiro dentro da gente. “Gosto de desenvolvê-lo na minha cabeça, encontrar a linguagem e a narrativa certas, os planos, o cheiro que o filme deve ter. Para mim, o filme é criado nesses momentos, o set é apenas o refinamento de tudo isso. Encontrar o diamante é o mais difícil. Poli-lo é apenas uma questão de técnica.” E cita a anedota sobre o mestre Alfred Hitchcock: “Esquadrinhava tanto seus filmes durante o processo de concepção que, às vezes, nem aparecia no set, pois todos já sabiam o que deveriam fazer, até mesmo os atores. Acredito que um processo bem estudado é um processo bem-criado.”
Sobre o mercado publicitário, lastima a falta de ousadia. “No País se arrisca muito pouco, a mídia é excessivamente cara e os clientes têm medo de aprovar ideias mais inventivas e inovadoras. Há uma mediocrização das ideias. Se é médio, passa.” Como contraponto à caretice da propaganda, o diretor aponta a produção audiovisual exibida no YouTube. “A fórmula é simples: ousadia, inventividade e liberdade criativa”.
Além do acalentado longa-metragem, desejo de todo diretor, Busato sonha com a fusão da propaganda com o conteúdo. “Cada vez menos faz sentido um tipo de propaganda que necessita de um espectador passivo. Existe um mercado enorme para o público online, que é ativo, seletivo e exigente.”
(texto e foto publicados originalmente na edição de Meio & Mensagem de 21 de março de 2011)