Direção de Filmes - 2011
02º lugar – 47% dos votos
Claudio Borrelli
Killers
A vocação de Claudio Borrelli de contar histórias cinematograficamente despertou com momentos de tristeza e dor, especificamente, de luto. Quem já experimentou a tragicidade de momentos assim sabe como tudo de fato parece mesmo um filme, de tão real que é. Cena 1, interna/dia: um caixão de madeira clara no centro da sala semiescura. Um homem jovem, hematomas no rosto que a maquiagem grossa mal encobre, está ali. Os amigos se abraçam ao lado do caixão, choram. Cena 2, flashback, externa-noite: os mesmos amigos cantam, ao som altíssimo de música eletrônica.
O rapaz do caixão está ao volante e vira-se para falar com os amigos do banco de trás. Um estrondo forte, seguido de um apagão. Cena 3, externa/noite: sangue escorre no asfalto preto e reflete a lua cheia do céu.
O diretor ia assim compondo a narrativa fílmica da morte de muitos de seus amigos, de acidente automobilístico. “Ia formando as cenas na minha cabeça, as personagens, pensando na trilha sonora.”
Apesar do início um tanto mórbido, o estilo de Borrelli se matizou. “Gosto de filmar vários estilos. Vou bem tanto no humor quanto no drama. Na vida, não sou uma pessoa dramática, levo as coisas com bom humor, mas, quando vou ao piano, só toco drama.” Borrelli não abre mão de um momento legitimamente sacro na elaboração dos filmes: o da primeira leitura do roteiro. Jamais lerá um roteiro durante uma reunião de pré-produção, por exemplo, pois é preciso silêncio, recolhimento. “Muitas vezes, acabo de ler o roteiro e já tenho a história para ele. Em outras, sinto que ele está muito perto, é preciso apenas se esforçar um pouco mais.” O diretor recorda ser muito diferente contar uma história de contá-la em um filme. “Transformo o roteiro em cinema.”
A experiência tem reduzido uma distância fundamental para qualquer diretor, entre o que se imaginou e o que de fato foi executado. “Isso tem ficado cada vez menor para mim. Mas é muito legal também quando me surpreendo e as coisas saem diferentes.”
Sobre o mercado de filmes publicitários brasileiro, Borrelli diz notar muitas vezes uma distorção qualitativa. “Coisas malfeitas têm passado e não existe punição para elas. Continuam entregando o filme para as mesmas pessoas.” O estilo particular de atuar no set, define-o como elétrico. “É muita adrenalina. Sinto o momento intensamente. Só estou eu ali e, se vacilar, estou perdendo. Nessa hora, é difícil ter sutileza.” Borrelli quer, no futuro, que a motivação prossiga, para “continuar filmando com entusiasmo”.
(texto e foto publicados originalmente na edição de Meio & Mensagem de 21 de março de 2011)