Efeitos Especiais - 2011
3º lugar – 30% dos votos
Fábio Soares
Mixer
O lugar certo, na hora certa. O lugar: uma finalizadora de filmes na avenida Francisco Matarazzo, em São Paulo. A hora: o início da revolução da pós-produção eletrônica, em 1990. A atmosfera: cabisbaixas, trucas e moviolas deixam o local; altivos, chegam os Avids e, depois, as estações gráficas Henry, Flame, Inferno.
Um jovem chamado Fábio Soares, de 18 anos, DJ na noite paulistana, a convite do tio fotógrafo de cinema, é conduzido pelo interior do prédio bordô. Uma placa naquela porta: Ilha de Edição D2. Entram e um mundo novo se descortina. Pandemônio de botões que piscam, monitores, muitos, e racks e mais racks com equipamentos de estação lunar. O rapaz, embevecido, descobre na hora que é ali onde quer estar e implora por estágio. Vai parar no almoxarifado.
“Era responsável por manter o frigobar da ilha de edição cheio de refrigerantes e os biscoitos recheados nos sabores prediletos dos diretores. Você imagina, eu tinha a minha lista: Fernando Meirelles, biscoito de abacaxi; Sérgio Amon, morango; Beto Salatini, Fanta Laranja. Fui rapidamente promovido a assistente de ilha e alguns meses depois já tinha aprendido a editar”, relembra o diretor. “Cresci ao lado de toda essa geração de diretores aprendendo a fazer seus filmes neste novo formato. Eu estava ali fazendo aquela nova engrenagem funcionar.”
A vontade, na época, não era ser diretor, mas VFX (Visual Effects Supervisor), e isso se concretizaria. Primeiro, num filme publicitário para a Shell, dirigido por Walter Salles Jr.; depois, como sócio da Conspiração Filmes, com dezenas de outros projetos. “Foi quando realmente entendi o mundo da produção, o processo de concepção e de realização de um filme. Foi uma imersão. Eram muitos diretores, muitos comerciais, longas, videoclipes. Quase morri, mas, quando ressuscitei, tinha aprendido a fazer filmes.”
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, a pós-produção vivia um boom, com filmes que demandavam muitos efeitos e animação. Foi o salto para a nova profissão: “Naturalmente comecei a cuidar de alguns projetos menores e, quando vi, estava lá, dirigindo.”
Depois de uma década como diretor, Fábio Soares descobriu a natureza da profissão: “Vejo o diretor como um alquimista de emoções: esta cena para angústia, este close para a dúvida, um plano geral para a contemplação, um travelling para um pouquinho de adrenalina. Sinto-me como uma bruxa preparando sua poção mágica no caldeirão. Às vezes, o feitiço dá errado, mas isso faz parte da brincadeira.”
(texto e foto publicados originalmente na edição de Meio & Mensagem de 21 de março de 2011)