Efeitos Especiais - 2011
4º lugar – 20% dos votos
Pedro Becker
FatBastards
Pedro Becker, diretor de filmes publicitários inventivos e apoteóticos, quase sempre com equipe e elenco numerosíssimos, é, contudo, um homem muito tímido. Avesso a entrevistas e badalação. Econômico no contato interpessoal. “No set, eu me transformo, encarno uma personagem”, desvela Becker. “Provavelmente, os diretores têm alguma dificuldade na relação com a sociedade em geral e vivem melhor nesses mundos imaginários das ideias, criados na fantasia, mesmo que por alguns momentos”, explica.
Timidez de lado, ele parte para a descoberta das idiossincrasias das duas outras partes fundamentais do processo: “O que sempre tento fazer é entender o que a criação e o cliente querem e sonham, aquilo de que eles têm medo, aquilo de que eles não gostam. E, a partir disso, dar a minha leitura do roteiro. E tento nunca perder o foco da ideia. Ela é o chefe do filme. Eu trabalho para ela.”
Depois, já no set, o objetivo é cuidar que o sentimento das personagens não perca relevo para nenhum outro elemento do filme. “Às vezes é muito difícil olhar e dizer: ‘Isso está bonito demais, vamos estragar um pouco…’”
Becker sabe que um bom filme depende de todos os muitos profissionais envolvidos, do modo como interpretam o que se pede, do como se comprometem. Dessa forma, trabalha pela sintonia. “Ter um bom relacionamento com o fotógrafo, o diretor de arte, o produtor e toda a equipe fazem muita diferença no resultado final.”
Outra peculiaridade do seu estilo é que ele mesmo dá a forma final aos filmes. “Separo o material, edito e faço sempre de próprio punho as mudanças que são pedidas no processo. Num filme com uma quantidade enorme de material bruto, a direção termina na mesa de edição.”
Sobre os filmes publicitários que mais o marcaram, o diretor indica predileção por aqueles com alta carga de adrenalina. “Gosto de conseguir fazer o impossível. Num tempo, dinheiro e prazo em que aquilo não seria possível. Isso traz riscos e situações muito difíceis, mas normalmente o momento se torna especial.” Diz apreciar também o desafio que uma boa ideia lança e o fato de trabalhar com gente que admira, do criativo ao cliente.
A pior hora na vida de um diretor, segundo ele, é a do test screening, ou seja, a hora de exibir o filme produzido para o cliente. “Porque ali todos estão sendo confrontados com uma ideia inicial e a realização dela, a materialização. Acho que os sonhos de todos os envolvidos sempre são maiores do que a realidade, e isso pode ser muito frustrante. Se ouvirmos demais os outros, provavelmente o resultado não vai surpreender nenhum deles. Eles não ficarão surpresos e provavelmente não ficarão tão felizes quanto a gente gostaria.”
Os sonhos dos diretores no Brasil estão ameaçados, na opinião de Becker. A ausência de bons roteiros e de clientes com coragem e vontade suficientes para fazer algo diferente pode comprometer todo o processo. “Um grande filme depende de muitos elementos anteriores ao diretor. Um bom ou grande diretor pode transformar isso em mágica, mas ninguém pode fazer de uma ideia péssima, de um cliente careta, um grande filme.”
Também se posiciona contra a contratação de diretores estrangeiros (em sua maioria, argentinos), hoje em voga, por considerar tiro no próprio pé. “A propaganda argentina saltou para o mundo porque os criativos, os clientes e os diretores trabalharam juntos para isso acontecer. Se a cada vez que tivermos a oportunidade e possibilidade de fazer um grande filme, chamarmos estrangeiros, em pouco tempo não acharemos diretores brasileiros com grandes repertórios, muito menos para chamar a atenção de agências e clientes estrangeiros.”
(texto e foto publicados originalmente na edição de Meio & Mensagem de 21 de março de 2011)