A hora e a vez do propósito
Me chamou bastante atenção o quanto os investidores têm focado em pautas e agendas ESG de modo geral
Me chamou bastante atenção o quanto os investidores têm focado em pautas e agendas ESG de modo geral
11 de novembro de 2022 - 16h37
Quase uma semana após o término do Web Summit, ainda faço diversas reflexões diariamente sobre tudo que vi e ouvi em Lisboa. Olhando a parte de levantamento de fundos, me chamou bastante atenção o quanto os investidores têm focado em pautas e agendas ESG de modo geral. Os desafios relacionados à sociedade, meio ambiente e economia deixaram de ser discussões e fazem parte da realidade.
Nesse sentido, percebo uma diferença grande no comportamento do ecossistema brasileiro e europeu. Uma tese extremamente explorada por lá, mas que aqui ainda engatinha é a de investimentos em startups de energia, ou que, de alguma forma, colaboram com as questões ambientais e climáticas. É interessante que, em específico, o maior fundo de fundos europeus só investe naqueles que têm como base tese de impacto.
De forma geral, os fundos brasileiros não olham para isso, salvo exceções, como a Vox Capital, uma gestora de investimentos de impacto em que a tese fala sobre deixar um legado positivo para o mundo. No início deste ano, eles apostaram na Octa, startup que atua na vertical de economia circular dentro da indústria automotiva. Mais de 14 milhões de toneladas de CO2 por ano podem deixar de ser emitidas a partir da operação da startup. No meu ponto de vista, temos empreendedores que estão olhando para essas questões, mas ainda há poucos olhares de investimento incentivando que mais startups ESG nasçam no ecossistema brasileiro.
Outro ponto sobre fundraising é que os investidores do nosso País focam bastante em times. Em contrapartida, os europeus miram mais no mercado. O raciocínio deles é que se o mercado for muito grande, tiver bastante potencial, vai acabar educando os empreendedores tecnológicos ao longo do tempo. O aumento de demanda tem um papel relevante na formação desses empreendedores.
Vale ressaltar que a captação de fundos não é para todas as startups. Menos de 10% conseguem concretizar uma rodada. A partir disso, é válido fazer uma avaliação sobre relação esforço versus resultado, uma vez que o processo demanda bastante dos times e fundadores. O painel entre Maëlle Gavet, CEO da Techstars, com Rhett Power, da Forbes, sobre as perspectivas para 2023 trouxe insights sobre isso. Apesar de ressaltar que há pessoas querendo investir nas startups, mas com mais proteções nas negociações. Maëlle falou, inclusive, que em seu portfólio, empresas fizeram down round – oferta de ações adicionais à venda de uma empresa a um preço menor do que o vendido na rodada de financiamento anterior – e obtiveram mais sucesso posteriormente.
Neste cenário, o empreendedor tem que fazer uma pergunta chave: o que, de fato, essa captação de investimento vai me ajudar? Essa resposta precisa estar muito clara. Sem dúvidas, o equity é uma moeda valiosa, porque além do capital, ela te traz especialistas que auxiliam no foco da startup, dar ritmo, abrir caminhos e acessos. Mas vale ter em mente que essa não é a única saída.
Entre as alternativas apresentadas tem a de venture debt, uma espécie de financiamento totalmente adaptado para capital de risco em que você não compromete sua sociedade. Seria interessante ver sua consolidação no Brasil nos próximos anos. A partir do momento que uma startup tem venda previsível e uma máquina de vendas estabelecida, é possível fazer alguns cálculos para entender como será o comportamento futuro do caixa. Diante dessas métricas, há como acessar linhas de financiamento que podem se encaixar melhor em alguns casos do que um investidor de risco.
Um desafio para a realidade brasileira é que a maioria dos empreendedores tech ainda não construíram uma base sólida de network que dê acesso a uma ampla rede de mercado, capital, talentos, conhecimento, entre outras necessidades. Neste ponto, os investidores ainda têm um papel valioso de smart money. No contexto europeu, o que percebemos é que os líderes das startups já estão na segunda, terceira geração de negócios, empreendendo em um ecossistema mais maduro. Deste modo, suas redes de contato estão mais estabelecidas.
Em resumo, o ecossistema brasileiro ainda tem espaço para amadurecer e caminhos para que nossas startups consigam oferecer as melhores soluções não só para o País, mas para o mundo. Cabe a nós continuar fomentando os empreendedores e talentos, para que tenhamos cada vez mais cases de sucesso em um cenário consolidado.
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