47% das empreendedoras negras faturam até R$ 2 mil por mês no Brasil
Nova pesquisa destaca acesso a crédito, discriminação e sobrecarga de tarefas como desafios das mulheres pretas e pardas que empreendem
47% das empreendedoras negras faturam até R$ 2 mil por mês no Brasil
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Meio & Mensagem
7 de março de 2025 - 16h01
Além das dificuldades comuns ao empreendedorismo feminino no Brasil, como o acesso a crédito e a gestão financeira, as mulheres negras, especialmente as de pele mais escura, enfrentam desafios adicionais.
Essa é a conclusão da mais nova pesquisa do Instituto RME, intitulada “Empreendedoras Negras”, realizada em 2024 com apoio da Rede Mulher Empreendedora. Segundo o estudo, que traça o perfil e os obstáculos enfrentados por mulheres pretas e pardas que empreendem no País, 70% das mulheres pretas já sofreram discriminação racial no trabalho, assim como 52% das pardas.
De acordo com o levantamento, coordenado pelo Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do Instituto RME, a sobreposição de gênero e raça torna a jornada das empreendedoras negras ainda mais árdua, com o preconceito e a discriminação formando barreiras extras a serem superadas.
Para essas mulheres, a sobrecarga diária é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de seus negócios, pois lidam com múltiplas responsabilidades que causam desgaste físico e mental. Mas é o racismo que deixa marcas mais profundas, afetando a autoestima e a saúde mental dessas profissionais. As ofensas e humilhações vividas, sobretudo pelas mulheres pretas, intensificam esse impacto. De acordo com o levantamento, 71% das empreendedoras pretas e 60% das pardas entrevistadas acreditam que o racismo se manifesta com mais intensidade contra mulheres de pele escura.
Nesse sentido, a pesquisa sublinha o papel crucial das organizações e coletivos como fontes de apoio, e a necessidade urgente de combater as desigualdades de gênero e raça para garantir mais oportunidades e autonomia para essas mulheres no mercado de trabalho. Entre as entrevistadas, 66% afirmam que coletivos e organizações são os principais agentes de apoio e promoção de iniciativas para o empreendedorismo feminino.
O estudo traz ainda que 47% dessas empreendedoras ganham até R$ 2 mil por mês, sendo que as mulheres pardas têm renda menor que as pretas: enquanto 44% das empreendedoras pretas faturam até R$ 2 mil mensais, esse número é de 51% entre as pardas.
O perfil das empreendedoras negras no Brasil destaca que 64% têm entre 30 e 49 anos. Já sobre o nível de escolaridade, a pesquisa aponta que 62,9% das empreendedoras pretas têm ensino superior, contra 52,5% das pardas. Além disso, 73% são mães, e o número de mães solo aumentou de um ano para o outro. Enquanto no estudo anterior, de 2023, 37% delas se identificavam dessa forma, agora o índice supera 48% (50,2% das empreendedoras pretas e 46,9% das pardas são mães solo).
“A autonomia econômico-financeira é fundamental para as mulheres em geral, mas é ainda mais importante para mulheres negras que são atravessadas violentamente pelo machismo e pelo racismo da nossa sociedade. Apoiar mulheres negras nesta jornada é o trabalho da RME e deveria ser de toda sociedade”, afirma Ana Fontes, empreendedora social e fundadora da RME e do IRME.
A pesquisa revela que a liberdade para fazer o que se gosta é a principal motivação dessas mulheres para o empreendedorismo, seguido por aumentar a renda, independência financeira e flexibilidade de horário. Entre aquelas que elencaram a discriminação de raça no mercado de trabalho como um dos motivos para empreender, o número foi maior entre as mulheres pretas (13%) em comparação às pardas (3%).
As empreendedoras negras atuam majoritariamente nos segmentos de alimentação, beleza e consultoria, nesta ordem. Sobre os maiores desafios que enfrentam, o ranking é semelhante entre mulheres pretas e pardas, porém, com algumas diferenças. As mulheres pretas destacam o acesso a crédito e a discriminação de raça como principais obstáculos, em maior escala do que as pardas. Outros desafios apontados pelas entrevistadas foram marketing e divulgação, gestão financeira e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Na avaliação das entrevistadas sobre outros impactos que sofrem na vida profissional e pessoal, a sobrecarga com trabalho doméstico e familiar foi apontada como a principal dificuldade no cotidiano, seguida pela falta de crédito e pelo racismo e discriminação.
O estudo destaca alguns depoimentos sensíveis de empreendedoras negras sobre as dificuldades que enfrentam com seus negócios. “No banco, passei por longo período de humilhação, e meu cadastro não foi aceito. Não tenho restrições em meu nome, pago MEI regularmente, sem atraso. Acabei desistindo de efetuar o empréstimo, meu negócio ficou parado, passei por violência doméstica por questões de abuso patrimonial, estupro marital, violência psicológica. Desenvolvi depressão e ansiedade, meus filhos também. Acabei fugindo do casamento com meus filhos no meio da pandemia com a ajuda de meus entes e outras pessoas. Ingressei no mestrado, e estou retomando minha vida profissional”, relata uma das entrevistadas.
A pesquisa foi realizada com 715 mulheres negras de todas as idades e regiões do Brasil, que empreendem ou já empreenderam, com o intuito de revelar as dificuldades enfrentadas por elas ao empreender, destacando a sobrecarga de tarefas diárias, o impacto do racismo e a discriminação como barreiras significativas para o desenvolvimento de seus negócios.
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