5 tendências de liderança corporativa para 2024
Como a individualidade, a inteligência artificial, novos modelos de trabalho, a resiliência e o aprendizado contínuo estarão na pauta da gestão para o próximo ano
5 tendências de liderança corporativa para 2024
BuscarComo a individualidade, a inteligência artificial, novos modelos de trabalho, a resiliência e o aprendizado contínuo estarão na pauta da gestão para o próximo ano
Lidia Capitani
19 de dezembro de 2023 - 17h09
“Ser líder hoje em dia é uma tarefa cada vez mais complexa”, diz Paula Englert, CEO da Box 1824, agência de pesquisa de tendências. Não é possível discutir o atual contexto corporativo sem mencionar a pandemia e seus impactos. Neste panorama, novas demandas surgiram, novos valores substituíram os antigos, diferentes pautas entraram na agenda, entre tantas outras mudanças.
“Transformações sociais significativas, como guerras e pandemias, inevitavelmente alteram o comportamento humano”, explica Andréa Cruz, CEO da SerH1, consultoria de gestão de carreira e cultura organizacional. “Aceitar que as pessoas mudaram e que um novo modelo de vida está sendo imposto é o passo essencial para compreender que as organizações também precisam evoluir, sem depender apenas de uma imposição”, reflete.
Agora, cabe a pergunta: “Como a liderança irá disseminar e garantir eficiência operacional para as empresas, considerando todas as mudanças, flutuações econômicas, gestão de resultados, as novas tecnologias e a inteligência artificial?”, questiona Sabrina Capozzi, sócia diretora da FutureBrand, consultoria de branding. A resposta está nas tendências apontadas pelas lideranças ouvidas.
De acordo com as pesquisadoras, não cabe mais a liderança do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. O olhar para o indivíduo está cada vez mais importante, principalmente em função do crescimento das discussões acerca da saúde mental. “Atualmente, não há mais espaço para tratar desiguais como iguais. Cada pessoa, cada liderado direto precisa de um olhar específico e atencioso”, diz Paula.
Do mesmo modo, em 2024, veremos o amadurecimento da pauta da diversidade, principalmente no que tange à inclusão, à equidade e a como lidar com perfis não convencionais. Para Sabrina Capozzi, um dos principais desafios para o próximo ano será a gestão e a retenção de talentos. “Embora a atração de talentos seja crucial, percebemos que há uma lacuna significativa na atenção dedicada à retenção”, afirma.
A retenção não se limita a um pacote de benefícios, e está mais ligada à harmonia entre times, pessoas e negócios. Para Cíntia Pessoa, Senior HR Business Partner Leader na Reckitt Comercial, o tempo de qualidade e as conversas profundas são as chaves para a construção de relações saudáveis no trabalho, principalmente quando falamos das novas gerações, que exigem maior atenção.
Ainda dentro da agenda ESG, vale ressaltar a importância da sustentabilidade como uma tendência para o futuro dos negócios, indo muito além do aspecto ambiental. “Como líderes, precisamos lidar com questões climáticas e assumir responsabilidades em relação ao meio ambiente e aos ecossistemas que nos cercam. Isso inclui considerar problemas sociais que impactam as organizações, seja por meio de colaboradores, stakeholders, fornecedores ou clientes”, avalia Andréa Cruz.
O relatório “The FutureBrand Index 2023”, que mostra as tendências das marcas mais bem avaliadas do mercado, destaca a importância da “consciência corporativa” para a reputação das marcas. As empresas que conseguiram demonstrar consciência e governança corporativa responsável por meio da experiência de seus produtos e serviços tiveram uma forte repercussão no ranking deste ano, com especial destaque para aquelas que buscaram mitigar seus impactos negativos e ampliar os efeitos positivos no meio ambiente.
Não é preciso reforçar que continuaremos discutindo a evolução, os desafios e os limites da inteligência artificial. Mas para lidar com os avanços cada vez mais acelerados das novas tecnologias, as empresas devem incorporar uma postura diferente. “Os líderes precisam abandonar uma visão simplista e de curto prazo, adotando um pensamento mais aguçado, voltado para o médio e longo prazo”, comenta Paula.
No campo da comunicação, a IA está causando uma verdadeira revolução tecnológica, impactando até mesmo a criatividade. O que antes era uma capacidade exclusiva humana, a da criação, agora se funde com as possibilidades de ferramentas como ChatGPT, MediaNet, Midjourney, entre tantas outras. “Enfrentaremos um desafio significativo com o avanço da IA generativa, que tem o potencial de substituir algumas habilidades e tarefas cotidianas. Esse processo exigirá reskilling e upskilling dos times, e os líderes devem estar conscientes dessa transformação”, aconselha a executiva da Box 1824.
A segurança dos dados e a regulamentação da IA também são pontos de atenção para o próximo ano. “Com a chegada da inteligência artificial, há a necessidade de regulamentação sobre o que é aceitável ou não, um aprendizado conjunto que todos estão enfrentando”, analisa Andréa.
No relatório da FutureBrand, uma tendência das marcas mais relevantes é sua capacidade de navegar pela ascensão da inteligência artificial. As marcas mais bem posicionadas no índice foram as que mais avançaram no tema, incluindo as do top 5 Apple, Samsung e TSMC, e também aquelas que tiveram notável crescimento, como Microsoft, Amazon e Tesla.
A previsão das lideranças para 2024 ressalta a continuação do debate sobre os modelos de trabalho home office, híbrido e até mesmo a semana de quatro dias. O foco dessas discussões, entretanto, é a flexibilidade das maneiras de trabalhar. “A pandemia foi como um experimento científico inesperado que ampliou significativamente o repertório das pessoas sobre os custos e benefícios de seus locais de trabalho”, afirma Paula. “Agora, é crucial buscar relações de equilíbrio, reconhecendo que não há uma solução única para todos”, continua.
Não à toa, a Wunderman Thompson incluiu em seu relatório de 100 tendências de 2023 o “trabalho não-linear”, que significa rotinas de trabalho assíncronas, que não se baseiam no horário fixo das 9 às 17 horas. Andréa também destaca os novos modelos de vínculos, que priorizam a não exclusividade, e, por isso, demandam uma dinâmica mais flexível.
“Para chegar a esse equilíbrio, é crucial superar a mentalidade cartesiana do passado”, diz Cíntia. Quando não há confiança na equipe, a liderança tende a assumir a postura de comando e controle, que não cabe na dinâmica atual. A nova dinâmica, segundo a executiva, inclui a clara definição de responsabilidades, tarefas, acordos e prazos, independentemente do modelo adotado.
“Oriento os líderes a repensar suas abordagens, focar nos resultados desejados e alinhar expectativas para que cada indivíduo possa contribuir de maneira adequada e confortável, respeitando a diversidade de estilos e maneiras de trabalhar”, destaca a executiva.
“A liderança impositiva, menos democrática e orientada pela ordem perdeu relevância. Acredito que os líderes precisam se conectar com suas vulnerabilidades e desafios, construindo relacionamentos sólidos”, comenta Paula. Por isso, desenvolver a resiliência e estar disposto a se mostrar vulnerável serão as principais demandas para a liderança em 2024.
Para Sabrina Capozzi, a resiliência não se resume apenas a suportar desafios, mas a se fortalecer diante deles. “Isso porque ela possibilita que as equipes, em meio a desafios e ao percurso de tentativa e erro, aprendam, se fortaleçam e se unam para alcançar os melhores resultados”, destaca.
As crescentes exigências, demandas e a necessidade de prever o futuro estão deixando alguns líderes exaustos, avalia Cíntia Pessoa, o que também pode deixar as pessoas hesitantes para mostrarem vulnerabilidade. Mas é justamente na transparência sobre não saber de tudo que mora o sucesso. Assim, liderança e equipe estarão abertos a novas abordagens, por meio de tentativas, erros e a capacidade de adaptação que os novos tempos exigem.
“É essencial que uma corporação crie um ambiente seguro para que os líderes se sintam confortáveis em compartilhar suas dificuldades e buscas por conhecimento, possibilitando uma cascata de confiança na equipe”, ressalta Cíntia. Para isso, o autoconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de uma liderança resiliente e vulnerável, que sabe quais são seus pontos de melhoria e como outras pessoas da equipe podem complementar suas lacunas.
“Assumir a vulnerabilidade e compartilhar a responsabilidade são atitudes corajosas que contribuem para o desenvolvimento pessoal e da equipe”, afirma a especialista em recursos humanos. Como consequência, a reflexão sobre o que deu errado e como fazer diferente nas próximas experiências é essencial para o crescimento individual e coletivo.
A palavra de 2024 para as lideranças corporativas é “lifelong learning”, ou formação contínua. “Considerando o atual cenário de transições constantes entre crises, observamos que a capacidade das pessoas de se reinventarem, terem flexibilidade, repensarem estratégias, se abrirem para o novo e encararem o erro como parte do processo evolutivo possibilita que tanto indivíduos quanto empresas alcancem novos horizontes”, afirma Sabrina.
Essa habilidade anda de mãos dadas à tendência anterior, do líder resiliente e vulnerável. O autoconhecimento também precisa ser trabalhado para que cada um entenda o que precisa melhorar e aprender. “Cada pessoa tem suas necessidades específicas, e essa jornada pode incluir processos de coaching executivo, terapia e trocas com mentores”, destaca Cíntia. O aprendizado contínuo, entretanto, não se resume a habilidades técnicas, mas inclui também o desenvolvimento de soft skills.
Para Paula Englert, o futuro se constrói no presente. “Negligenciar isso pode nos deixar despreparados quando o futuro se torna presente”, afirma. “O que nos trouxe até aqui pode não ser o que nos levará para o futuro”, reflete Cíntia. A compreensão de que tudo pode ser efêmero é crucial para lidar com o mundo atual, logo, o rol de talentos e habilidades necessárias hoje podem mudar, e a organização precisa estar atenta.
Além disso, os ciclos de trajetórias dentro das empresas também estão mais curtos, consequência da mudança de valores que as novas gerações trazem para o ambiente corporativo. Por isso, a liderança também precisa aprender a lidar com as diferenças geracionais.
“A gestão de mudanças é um ponto crucial, pois, embora tenhamos um plano, nada é estático. Estar preparado para ajustes, comunicação eficiente e exigir adaptabilidade da equipe são aspectos fundamentais para enfrentar mudanças, sejam elas tecnológicas, geracionais ou inovações no mercado”, reflete Cíntia.
Compartilhe
Veja também
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica
As lições de empreendedoras negras de sucesso
Para celebrar o empreendedorismo feminino, elas dão conselhos para quem está no início da jornada ou com dificuldades no caminho