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Opinião

A era da sensorialidade

Retorno de Paris, uma cidade agitada por causa da semana de moda, com a certeza de que uma transformação consolida a transição da era do ser para a era do sentir


17 de outubro de 2022 - 11h43

(Crédito: AtlasbyAtlas Studio/Shutterstock)

Há tempos venho falando que o mercado de luxo se ressignificou nos últimos 10 anos. O mercado de consumo como um todo, na realidade. Retorno agora de Paris, uma cidade agitada por causa da semana de moda, com a certeza de que essa transformação consolida a transição da era do ser para a era do sentir.  

Todos sabemos que vivemos em um mundo de excessos, de múltiplos estímulos, de imediatismo, de facilidade de acesso. Porém, paradoxalmente, quando se tem muito, a tendência do ser humano é paralisar, ficar adormecido. Adicionados a isso, saímos de dois anos de pandemia com o grande efeito de entorpecimento emocional: é como se a mente criasse uma desconexão do que está acontecendo para nos proteger.  

Mesmo os brasileiros, conhecidos como um dos povos mais felizes do mundo, estão menos felizes com o passar dos anos. Segundo a pesquisa “Global Happiness 2022”, realizada pela Ipsos em 30 países, revelou que em 2013 81% dos brasileiros se consideravam “muito” ou “bastante” felizes. No final de 2021, esse índice caiu para apenas 63%. Ainda no recorte brasileiro, um dos principais causadores da felicidade mencionados foi “sentir que a minha vida faz sentido”, o que se conecta com algo muito profundo e pessoal, que vai além do material.  

O que me faz perceber que o ser humano de hoje urge sentir, no sentido amplo da palavra, e se conectar com algo maior e genuíno.    

Como reflexo disso, vemos o mercado trabalhando sensorialidade ao extremo (nos desfiles, no ponto de venda, na junção de categoria de produtos); assistimos a um crescimento exacerbado de tendências nostálgicas (que normalmente nos levam a um lugar emocionalmente seguro) e um boom de categorias que estimulam os sentidos como fragrâncias e bebidas alcoólicas premium – ambas com expectativa de crescimento de duplo digito até 2025, segundo IWSR e Euromonitor. 

E este sentir extrapola o físico. Quando saímos em meados dos anos 2000 da era do “ter” para a era do “ser”, os consumidores demandaram conteúdo relevante que iria além das aparências. Agora, quando falamos do sentir, este conteúdo tem que gerar emoção, tem que gerar sentimento. A famosa conexão, tão falada na última década.  

Dessa forma, nos últimos anos, as marcas (e o luxo) se movimentaram para deixar de ser ostentativos, excludentes e passageiros. Mas o que me trouxe de novo é que a busca delas (e nossa) por autenticidade, por verdade, passa necessariamente pela avaliação desta tripla jornada: precisamos ter, precisamos ser e, mais que nunca, precisamos sentir. Os três de maneira conectada, de maneira equilibrada. E isso requer coragem (nossa e das empresas).  

Acessar nossas emoções é permitir-se. É avaliar-se, é conhecer suas luzes e sombras. Requer força e criticidade. E é maravilhoso ver o mercado indo para este ainda longo caminho de reflexão, autocrítica e liberdade. Isso nos levará a uma sociedade mais transparente e, quem sabe, feliz – com todas as dores que isso traz.  

Confesso que voltei mais transformada desta viagem do que imaginava, me questionando o quanto consigo de fato sair do piloto automático e da apatia da rotina para permitir acessar minhas emoções e exercer minha sensorialidade em sua total potencialidade.  

E você, como está a sua jornada ter, ser e sentir? 

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