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Opinião

A era da superexposição algorítmica

Qual é o papel das marcas no debate social?


11 de fevereiro de 2025 - 11h06

(Crédito: Shutterstock)

Se antes era a falta de informação que nos assustava, hoje é o excesso. Vivemos em um tempo em que o algoritmo escolhe o que vemos, o que lemos e, de certa forma, o que pensamos (ou minimamente, sobre o que deveríamos pensar). A personalização, em outro momento vendida como uma ferramenta de liberdade e autonomia, tem se transformado também em um mecanismo de controle.

Não sei se vocês têm notado, mas há um aumento perceptível de conteúdos de extrema-direita sendo promovidos em nossas timelines. O que antes era um espaço mais plural agora parece parte de um projeto claro: rotular qualquer manifestação democrática como “de esquerda” e, por consequência, marginalizá-la.

Não há neutralidade nas redes sociais – e nunca houve. Como mencionei em uma entrevista ao Meio & Mensagem em 2022, “as plataformas foram construídas com vieses ideológicos e de poder; o que muda é como esses interesses são usados”. Hoje, vemos essas plataformas não apenas como mediadoras, mas também como agentes ativos de um projeto maior de dominação ideológica. Redes sociais, que já foram espaços de sociabilidade, se tornaram máquinas de imposição algorítmica, moldando nossa subjetividade e limitando nossa capacidade de pensar fora das bolhas que nos cercam.

Seria uma crise de autenticidade?

Esse cenário tem mais um ponto de atenção com o aumento de perfis de bots e robôs, uma estratégia que simula interações humanas e reforça narrativas artificiais. Isso, por sua vez, alimenta uma parasociabilidade – a falsa sensação de conexão real – que pode enganar e manipular usuários. Estamos vivendo uma transformação que vai além da tecnologia – trata-se de moldar comportamentos e expectativas.

Outro ponto: o próprio conceito de autenticidade vem se transformando, e definitivamente ela não é algo que se programa. A ideia de interação foi substituída por conexões intermediadas por avatares e inteligências artificiais. E o mais curioso pra mim é que muitas pessoas não se importam mais se estão falando com um ser humano real. Essa é era da “Addictive Intelligence” – como discuti em um vídeo recente – onde a tecnologia molda comportamentos e revoluciona a forma como nos relacionamos.

Apaixonada por inovação que sou, não estou aqui para demonizar a tecnologia, acredito que ela tem um potencial enorme de contribuir para avanços significativos, tanto nas relações quanto na sociedade como um todo. A questão está em quem está por trás dela e quais são as intenções que a guiam. Quando usada com responsabilidade e ética, a tecnologia é uma aliada poderosa. Mas, sem transparência e compromisso com o bem-estar coletivo, ela pode se tornar uma ferramenta de exclusão e manipulação.

O que isso tudo tem relação com as marcas?

Acredito que, para as marcas, a crise vai muito além de como se comunicar. Seguir criando como se nada estivesse acontecendo é ignorar o papel transformador – ou conivente – que podemos desempenhar nesse contexto. Se o algoritmo decide o que vemos, então cada campanha, cada escolha de mídia, faz parte do mesmo sistema.

Há um paralelo claro aqui com a superficialidade que vemos em outras esferas, como na moda e no consumo. Pense no crescimento de tendências que promovem padrões homogêneos e excludentes, ignorando a diversidade que deveria estar no centro de nossas discussões culturais. A rede social não pode ser nossa única fonte de inspiração, seja para criar, seja para se informar, seja para se relacionar. Depender exclusivamente dela limita a nossa capacidade de construir um pensamento crítico e de desafiar as narrativas que nos são impostas.

Não tem unicórnio que nos salve

É importante lembrar que não existe “unicórnio” – uma solução mágica – que nos salve dessas dinâmicas. O que precisamos, no entanto, é de coragem para enfrentar essa realidade. O papel das marcas, dos criadores de conteúdo e de todos os que trabalham com comunicação não é apenas seguir as tendências, mas questionar: a quem elas servem? Que tipo de sociedade estamos ajudando a moldar?

Talvez, a nossa maior resistência seja o simples ato de desconfiar, de sair do automático, de construir narrativas que realmente representem a diversidade de pensamentos, histórias e experiências brasileiras. Porque, no fim, se há algo que o algoritmo não consegue controlar completamente, é a nossa capacidade de imaginar, de criar e de desafiar o status quo.

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