A favor de uma cultura corporativa de valorização à parentalidade
Para que pais e mães não precisem escolher entre criar uma família ou construir uma carreira
A favor de uma cultura corporativa de valorização à parentalidade
BuscarPara que pais e mães não precisem escolher entre criar uma família ou construir uma carreira
25 de setembro de 2023 - 12h50
Eu senti na pele a revolução da maternidade transbordando na minha carreira como um tsunami. Não era só a calça que não cabia mais em mim, meu trabalho também não se encaixava mais. Depois dos filhos, questionei se ainda justificava sair de casa todos os dias para trabalhar e criar uma campanha publicitária que ajudaria a colocar mais um carro na rua. Nada contra carros, eles são um meio de transporte necessário, mas a vida literalmente pulsava ao meu lado, no meu colo e no meu peito. Eu só desejava me transportar da poltrona de amamentação até o trocador e não perder a primeira risada do meu bebê (e todas as outras que estariam por vir).
Me vi diante de uma correnteza com duas bifurcações: à direita “filhos” e à esquerda “carreira”. Virei à direita e mudei meu status: “fechada para balanço”, um privilégio nos dias de hoje. Assim como eu, muitas mulheres sentem vontade de abandonar a carreira depois dos filhos (mais especificamente 84% delas*) mas poucas efetivamente têm esta opção e são arrastadas pela bifurcação da carreira, torcendo para o barco não virar no meio do caminho. Hoje no Brasil, 48% das mulheres chefiam seus lares e são as principais provedoras da família (IBGE 2023) . Para elas, parar não é uma opção e resta contar com sua rede de apoio informal e um sistema público disfuncional.
Diante de políticas parentais restritivas, jornadas de trabalho inflexíveis e falta de segurança psicológica, muitas mulheres que conciliam filhos e carreira se sentem como num rafting nível hard em um rio traiçoeiro que desemboca num grande penhasco: a desigualdade salarial. Você sabia que as mães tendem a ganhar 22,8% a menos do que os pais (2021 – Pnad)? O salário desses homens com filhos continua crescendo progressivamente, independente do filho no seu RG.
Esse fenômeno é reflexo de uma sociedade que ainda reconhece o trabalho do cuidado como uma responsabilidade principal das figuras maternas, liberando o pai para atuar exclusivamente na função de provedor. Não tem coisa mais fora de moda do que isso. Esse homem, aliás, nem quer assumir um papel secundário na sua paternidade. Está cansado da forma como a publicidade o retrata como “desastrado” e mero ” coadjuvante” nos cuidados com os filhos, segundo o estudo do Google Insights.
“Cadê a mãe da criança?” é o que muitos pais escutam quando tentam sair do trabalho para acompanhar a criança num compromisso. E as lideranças inconscientemente reforçam os estereótipos de gênero quando desautorizam seus funcionários a viver uma paternidade protagonista com esse tipo de comentário. 37% deles, inclusive, até já cogitaram sair do mercado de trabalho para cuidar dos filhos. É o que revela o recente estudo da Filhos no Currículo com a Infojobs 2023.
Por que precisa ser assim: filhos ou carreira? Que atalho era preciso criar para que as duas correntezas se encontrassem no meio do caminho e não expulsassem do mercado de trabalho 48% das mulheres com filhos de até 2 anos de idade (FGV)?
Dessa inquietação nasce a Filhos no Currículo, uma consultoria de impacto que reprograma as organizações e o mercado corporativo para que nenhuma pessoa tenha que escolher entre carreira e parentalidade. Ajudamos as empresas a implementarem um ambiente de bem-estar parental baseado na metodologia de formação de lideranças empáticas, de pessoas conscientes do seu papel parental e de políticas inclusivas.
O primeiro passo dos nossos processos parte da desconstrução do viés de que filho atrapalha. Pelo contrário, eles potencializam a carreira de profissionais com filhos. São novas perspectivas de vida e habilidades que pais e mães desenvolvem ao criar uma criança e isso vale para a carreira também, afinal, não temos duas vidas apartadas. Paciência, tolerância, priorização, empatia e criatividade são as principais desenvolvidas na relação parental, segundo dados da pesquisa Filhos no Home Office idealizada pela Filhos no Currículo em parceria com o Movimento Mulher 360. Estamos diante de um laboratório de inovação dentro de nossas próprias casas e somos desafiados a ocupar um lugar de liderança parental todos os dias. Desconsiderar esse valor no mercado de trabalho seria um baita desperdício.
Quer uma equipe empática, engajada, produtiva, agregadora e resiliente? Crie uma cultura corporativa de valorização à parentalidade para que pais e mães não precisem escolher entre criar uma família ou construir uma carreira.
Sem bifurcações. Com atalhos.
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica