A idade não nos define
É bastante óbvio que, embora haja um enorme preconceito contra os idosos em geral, as mulheres começam a sofrer com isso em uma idade muito jovem e de maneira muito mais grave
É bastante óbvio que, embora haja um enorme preconceito contra os idosos em geral, as mulheres começam a sofrer com isso em uma idade muito jovem e de maneira muito mais grave
12 de maio de 2022 - 0h39
O envelhecimento sempre foi um tema de interesse para mim e acabou ganhando ainda mais importância durante a pandemia. Talvez tenha sido a sensação de finitude que me fez começar a questionar tanto. Ou o fato de tantas mulheres mais velhas terem saído do mercado de trabalho nesse período.
É bastante óbvio que, embora haja um enorme preconceito contra os idosos em geral, as mulheres começam a sofrer com isso em uma idade muito jovem e de maneira muito mais grave.
São vários os pontos que podemos levantar sobre o tema, mas aqui quero falar especificamente de uma pergunta que toda mulher acima de 45 já ouviu (e, se não ouviu, torço para que as coisas mudem antes que ouça): “Você não acha que está velha demais para isso?”
Os homens não são abordados com essa pergunta tanto quanto as mulheres, pessoal ou profissionalmente. E basta observar como toda a indústria da comunicação tem se comportado durante tantos anos.
Mulheres velhas raramente recebem papéis poderosos de protagonistas em filmes, por exemplo. Apenas mais recentemente temos visto grisalhas vivendo aventuras românticas nas telas e falando abertamente sobre o tema.
Enquanto isso, homens velhos seguem interpretando poderosos CEOs, empresários, cientistas, agentes do FBI e 007, todos sempre muito charmosos.
As marcas também ainda têm uma longa jornada a percorrer se quiserem conversar adequadamente com mulheres acima de 50. Embora haja um esforço claro para garantir a representação, tanto as ofertas de produtos quanto o tom das comunicações ainda precisam de melhorias.
A moda ainda adora classificar o que cada uma de nós pode usar de acordo com a idade, martelando que estamos velhas demais para ousar.
A indústria “Ageless” é bastante poderosa, mas aposta no fato de que todas queremos rejuvenescer. As campanhas são construídas sob a negação e a reversão do envelhecimento, e isso não nos faz bem, além de criar uma imagem de como uma mulher ativa no mercado de trabalho deveria ser: cabelos tingidos, pele de bebê, pescoço liso.
Nós, mulheres de todas as idades, temos que nos comprometer em mudar os paradigmas.
No ambiente profissional, é nosso papel dar espaço relevante para mulheres mais velhas que nós e fomentar as relações intergeracionais com as jovens que contratamos.
A troca que acontece entre pessoas de diferentes gerações no local de trabalho provou beneficiar as organizações de várias maneiras. A inovação vem da combinação de agilidade, visão, estrutura e experiência, e nenhuma geração é particularmente melhor nessas características. É mentira que pessoas mais velhas não se interessam por tecnologia ou não têm a capacidade de aprender e desenvolver novos talentos. É mito que o velho será mais lento que o jovem.
Ao nos preocuparmos com o envelhecimento, sua inclusão e a integração de gerações, estamos garantindo um futuro com mais preparo para atender a toda a população, seja na forma de produtos, serviços ou comunicação.
É um privilégio envelhecer, e cabe a nós ressignificar a palavra “velho” e nosso relacionamento com a idade. Nenhuma de nós jamais estará velha demais para produzir e crescer.
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