A potência da mãe suficientemente boa
A balança às vezes vai estar pendendo para um lado e é importante reconhecer isso de maneira gentil
A balança às vezes vai estar pendendo para um lado e é importante reconhecer isso de maneira gentil
26 de julho de 2022 - 8h09
No Dia das Mães, estava fazendo uma viagem à trabalho e não pude passar o dia com as minhas filhas. Aconteceu um almoço, com sogra, cunhada, família, mas eu não podia estar. Devo me sentir culpada por isso?
Outro dia fiz um podcast e esqueci de citar que era mãe na primeira pergunta sobre o que me define. Devo me sentir culpada por isso?
Às vezes eu esqueço da festa da amiga, do livro que tenho que comprar, do horário exato que começa a aula de natação. Devo me sentir culpada por isso?
Uma call atrasou e era bem o horário de buscar minha filha mais nova, ela não só foi a última a ir embora como eu tomei uma chamada da coordenadora da escola. Devo me sentir culpada por isso?
Se eu quiser olhar pela implacável lente do que a sociedade espera de uma mãe, que prioriza sob qualquer outra coisa, a devoção materna e o desequilíbrio abissal entre os afazeres domésticos da figura feminina e masculina, a resposta é SIM para todas as perguntas anteriores com uma dose sádica de incerteza sobre o valor de minha maternidade.
Mas eu ouso dizer que desta vez não sinto culpa. E sabe por quê?
Não estar no dia das mães me proporcionou um dos maiores desafios profissionais que eu já tive na vida, o de começar uma operação em outro país. Por causa desta “falta” eu vou voltar para casa com muito mais presença, histórias e conquistas para que minhas filhas possam se inspirar em buscar também paixão pelos seus ofícios.
Se uma das minhas filhas me escutar no podcast, vai ver que a mãe tem várias facetas, nem todas que centralizam a maternidade. E tá tudo bem.
Errar, falhar, esquecer faz parte da imperfeição e todo mundo precisa de inspiração sobre o que também não é perfeito. É com o erro e com a falta que também evoluímos e aprendemos a ser melhores pessoas. O pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott definiu a mãe imperfeita, que não atende a todas as necessidades do filho com prontidão e disposição constante, como mães suficientemente boas. “A mãe suficiente consegue dar um significado positivo para a falha porque ela sabe que pode tentar de novo”.
Convido você leitora e ser mais acolhedora com a sua própria maternidade e carreira. A balança às vezes vai estar pendendo para um lado e é importante reconhecer isso de maneira gentil, olhando para o aprendizado e os ganhos, por vezes, não tão visíveis pela sociedade, na vida de quem realmente importa: você e seu filho.
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