A sua vida precisa(va) estar resolvida antes dos 30?

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Opinião

A sua vida precisa(va) estar resolvida antes dos 30?

Antes, encarava os primeiros cabelos grisalhos como charme, mas hoje essas mudanças me tiram o sono


22 de abril de 2024 - 6h22

(Crédito: Unsplash)

A resposta para essa pergunta pode parecer óbvia para alguns, mas ainda assombra muitas pessoas. A busca pela realização pessoal, profissional e emocional antes dos 30 anos é um dilema comum. No entanto, será que essa expectativa é realista?

Minha perspectiva sobre esse assunto é única. Como mulher trans, vivenciei a vida sob as óticas “masculina” e “feminina”. Essa dualidade me fez perceber que, como mulher, o peso do tempo é muito maior. Antes, encarava os primeiros cabelos grisalhos como charme, mas hoje essas mudanças me tiram o sono. É um sentimento que venho entendendo e ressignificando ao longo do tempo.

Além das nuances de gênero, outros fatores contribuem para essa pressão. Ao analisar as gerações que estão se aproximando dos 30 anos, como os membros da geração Z e os millennials, é evidente o peso das expectativas sociais e a influência do cenário econômico em suas vidas.

A geração nascida entre 1990 e 2000 se tornou adulta no meio do frenesi dos computadores e smartphones. Por esse motivo, esse grupo se tornou o candidato ideal para desenvolver as grandes ideias que iriam mover a nova sociedade. Seriam as pessoas certas, na hora certa.

A redução no tamanho das famílias também contribui para expectativas mais altas sobre as conquistas individuais. De acordo com dados do IBGE, se uma mulher brasileira deu à luz a 6 filhos em 1960, esse número caiu para 1,7 em 2021. Sobre esse ponto, o antropólogo Michel Alcoforado traz uma reflexão bem importante:

“Dentro desse modelo de família onde há menos gente, as expectativas paternas e maternas sobre as crianças são infinitamente maiores. Porque se eu coloco mais dinheiro, carinho e tempo em um filho, é óbvio que eu vou esperar que ele me retorne com mais coisas do que eu retornei para os meus pais.”

Na contramão dessa grande carga de responsabilidade por resultados, há um cenário econômico hostil. Com um PIB que patina desde 2014 e o fantasma de uma pandemia que revirou o mundo em 2020, as gerações que estavam buscando espaço no mercado de trabalho sofreram muito. Quero dizer, sofrem e ainda vão sofrer.

Uma pesquisa da instituição norte-americana NBER apontou que 70% do crescimento do salário de uma pessoa acontece durante a primeira década da vida profissional. Se esse período coincidir com uma crise, é esperada uma redução de 9% de seus ganhos no longo prazo. Em linha com essa ideia, há um outro estudo, publicado pela Deloitte, que apontou que a parcela da população na faixa dos 26 a 40 anos têm mais dívidas do que seus pais e demoram mais para sair de casa ou alcançar marcos como comprar uma casa ou um carro.

É difícil escapar da pressão de ter tudo resolvido antes dos 30. Muitos sentem o peso do tempo como uma espada sobre suas cabeças, exacerbado por fatores como expectativas sociais e pressões econômicas.

No entanto, é fundamental lembrar que o sucesso não tem um prazo de validade. Não há uma idade limite para encontrar o amor, construir uma carreira gratificante ou alcançar estabilidade financeira. Cada um tem seu próprio ritmo e jornada, e não devemos nos comparar com as expectativas irreais da sociedade.

Então, para responder à pergunta inicial: não, sua vida não precisa estar resolvida antes dos 30. A vida é uma jornada contínua de aprendizado e crescimento, sem uma linha de chegada definida. Libertemo-nos da tirania do cronômetro e abracemos o presente com gratidão e aceitação. A verdadeira realização não é medida pelo tempo que levamos para alcançá-la, mas pela profundidade de nossa jornada e pelas conexões que fazemos ao longo do caminho.

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