A vida, obra, inspirações e críticas de Maria Adelaide Amaral
Com um portfólio de obras como Anjo Mau, A Casa das Sete Mulheres e A Muralha, autora falou no WW Summit sobre a produção de conteúdo, trabalho e cuidado com o corpo e a alma
A vida, obra, inspirações e críticas de Maria Adelaide Amaral
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Valeria Contado
26 de março de 2025 - 15h58
Maria Adelaide Amaral, autora de obras como A Casa das Sete Mulheres, Anjo Mau e A Muralha (Crédito: Eduardo Lopes / Maquinadafoto)
A perspectiva de vida de sete mulheres durante a Revolução Farroupilha trazida ao público por atrizes como Eliane Giardini, Camila Morgado, Nivea Maria, entre outras, foi a história apresentada em uma das minisséries de mais impacto da tela da Globo em 2003. A Casa das Sete Mulheres, obra adaptada por Maria Adelaide Amaral. é apenas um dos sucessos da autora que foi responsável por levar ao público tramas como Anjo Mau, Queridos Amigos, JK, A Muralha, Deus nos Acuda, e outros títulos.
Hoje com 83 anos, a jornalista e escritora continua trabalhando, escrevendo e investe tempo de qualidade em literatura, cinema, cultura e cuidar do corpo, já que é através dele que ela consegue dar vida aos diversos personagens que passam pelas televisões e salas de cinema brasileiros, como contou no palco do WW Summit, nesta quarta-feira, 26. Ela disse que faz pilates, anda pelo bairro e volta para casa para se debruçar sobre novas obras.
Além disso, Maria Adelaide destina boa parte de seu tempo para conversar com os amigos, o que para ela, é a principal fonte de força e de um capital precioso para uma jornada, seja na juventude ou na velhice.
“Nós somos mais fortes unidos, o afeto que nos une é um capital precioso. Olhem para os seus amigos e invistam em seus amigos. O que eles representam é inestimável. Sei que não estou sozinha. O fato é que é uma delícia conversar com eles, é uma delícia amá-los, trocar vivencias”, disse durante uma conversa, conduzida pela apresentadora Astrid Fontenelle.
A arte de contar histórias foi o tema que norteou boa parte da conversa entre Maria Adelaíde e Astrid no WW Summit. Com décadas dedicadas a apresentar ao público histórias de personagens ou, algumas vezes, de pessoas reais, sob seu ponto de vista, a escritora e autora opiniou sobre os rumos das histórias em cenário de mídia fragmentado como o atual.
Crítica em relação ao rumo das produções de dramaturgia na TV e até mesmo no streaming, Maria Adelaide refletiu sobre como a produção de conteúdo, mesmo na televisão, tem se aproximado do que é feito no streaming, que já segue um novo ciclo de produção. Admitindo sua própria franqueza, ela agradeceu por não estar mais na linha de frente desse tipo de obra.
“Mudou a forma como a TV conta histórias. Tanto no streaming quanto na TV, é uma merda. É um desafio”, opinou. Maria Adelaide explicou que tanto as condições de pagamento, quanto de crédito dos autores na obra ficaram escondidos em um emaranhado de conteúdo produzido.
“O Boni [ex-diretor geral da TV Globo] sabia que a alma de uma novela começava pela base, que é o texto. Cada obra é uma obra, cada uma tem um estilo, todo mundo, todos os autores, têm uma marca. Mas agora acabou, porque a Globo resolveu entrar na onda do streaming e a tendência dela é omitir o nome de quem escreve”, avaliou.
Essa digitalização da dramaturgia também é uma questão, do ponto de vista de Adelaide, já que, mesmo as oportunidades que as plataformas de streaming – atualmente grandes detentoras das obras de entretenimento no mundo – são diferentes no Brasil. Segundo ela, um autor não consegue fazer a obra da sua vida nessas condições. Ela conta ter conseguido, sim, fazer algumas obras, quando trabalhava na Globo, que considera como as “obras de sua vida”, pelo fato de gostar muito do resultado.
Outro ponto para o qual a autora chamou atenção foi sobre o autocuidado. Aos 46 anos, quando entrou na menopausa, Adelaide já começava a se sentir “velha”, e chegou a pensar que a vida tinha acabado. Apesar de continuar trabalhando, ela sentia que a mulher que ela era não estava mais lá.
No entanto, o mundo que se abriu foi novo, que ela se lembra com muito carinho como uma das coisas mais extraordinárias de sua carreira, ao passar 32 anos como profissional da Globo.
“Temos direito a luto e depressão. Aos 46 anos me achava velha, mas eu era outra pessoa. Mas a partir dali, um mundo se abriu. Tive um câncer de mama e me curei, a vida continuou, continuei trabalhando, namorando, adorava dançar, a vida continuou. O mundo se abre diante de você e é isso que você tem que aproveitar”, refletiu.
Embora sua jornada seja diferente, Maria Adelaide admite que, para as atrizes, que muitas vezes trabalham com a imagem e o corpo, esse caminho diante da senioridade não é simples. Um exemplo de combate a esse etarismo, dado por ela. foi Irene Ravache, hoje com 80 anos, que assumiu cada traço da sua idade e desenvolvimento da maturidade.
“Para uma atriz, é mais difícil do que para uma autora, ela vende a imagem, eu não. Você precisa abrir seus horizontes, os amigos que, talvez, sejam o grande capital do ser humano”, afirmou.
Pensando em investir em novos projetos, como o desenvolvimento de sua autobiografia ou uma peça de teatro, Maria Adelaide foi questionada por Astrid sobre o segredo para a concepção de tantas obras que tocam o coração do público.
A autora diz que ser apaixonada por histórias e ser curiosa pelos acontecimentos, pela vida dos outros, é o que a move para o desenvolvimento de tantas narrativas. Ela afirma que, se a pessoas mantiver a curiosidade viva, isso a alimentará e moverá a criatividade.
“Se você mantiver o interesse, a curiosidade e a paixão, você continua. Não adianta contar uma história se você não tiver um ‘quê’ de seu para acrescentar”, complementou.
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