Abuso não é amor: as facetas da violência contra a mulher
Quantas outras Susanas Werners não se identificaram com os relatos feitos por Ana Hickmann?
Abuso não é amor: as facetas da violência contra a mulher
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21 de dezembro de 2023 - 8h10
Abuso não é amor. Tenho falado muito sobre isso ao longo do ano em uma série de eventos e debates sobre violência doméstica. O caso da Ana Hickmann jogou mais luz sobre o tema. Me chamou a atenção o fato de a atriz e empresária Susana Werner ter dito que só se deu conta de que também sofria violência patrimonial após a história da apresentadora vir à tona. Quantas outras Susanas não se identificaram com os relatos feitos por Ana Hickmann?
Elas não são poucas. Seis em cada dez mulheres que foram vítimas de violência praticada por homens não denunciaram o crime, segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, divulgada no fim de novembro.
Desde meados do ano, venho trabalhando com o tema por conta de uma campanha de Yves Saint Laurent Beauty que visa prevenir e ajudar a combater a violência praticada pelo parceiro íntimo (VPI) em território brasileiro. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019, mostrou que 52,4% das agressões físicas a mulheres são praticadas por companheiros, ex-companheiros ou parentes. Assim como aconteceu com Ana, o domicílio é o principal local da agressão.
Temos buscado conscientizar as pessoas sobre os nove sinais de alerta de relacionamentos abusivos. O site oficial do programa (www.abusonaoeamor.com.br) oferece treinamento, inclusive, com dicas sobre como sair de uma relação assim ou ajudar uma amiga ou conhecida. Levamos essa discussão também para o Juntas Festival, que abordou temas urgentes e as pautas que marcaram o ano das mulheres. Com talks e atividades, impactamos 2.700 pessoas que participaram do evento e estimulamos a interação do público com um quiz sobre os tipos de abuso.
A violência contra a mulher tem impacto significativo sobre o trabalho delas. Elas apresentam menor capacidade de concentração e de tomar decisões, se sentem estressadas com frequência e têm a sua produtividade diminuída, como mostra o II Relatório da PCSVDF Mulher. Além de importuná-las por ligações, mensagens, etc, muitas vezes, os agressores tentam impedir que suas parceiras cheguem ao trabalho, fazendo com que se atrasem ou faltem. Estima-se que cerca de 8 milhões de dias de trabalho remunerado são perdidos nos Estados Unidos todos os anos por causa da violência doméstica, segundo um relatório do Centers for Disease Control and Prevention, de 2003. O mesmo estudo mostra que entre 21 a 60% dos sobreviventes de violência entre parceiros íntimos perdem os seus empregos devido a razões decorrentes do abuso. A entidade calcula ainda que o custo da violência entre parceiros íntimos ultrapassa 8,3 mil milhões de dólares por ano nos Estados Unidos.
É importante lembrar que a violência doméstica não tem estereótipo. Ela acontece em todas as classes sociais, com mulheres brancas, pretas, indígenas… Ana Hickmann teve uma coragem ímpar. Assim como Luiza Brunet, anos atrás. Famosas, sabiam que, ao denunciar as agressões que sofriam, teriam suas vidas ainda mais expostas. Serviram de exemplo para encorajar muitas mulheres que sofrem caladas todos os dias com relações abusivas.
1) Ignorar: quando o abusador usa a própria raiva como uma oportunidade para punir seus parceiros, ignorando-os propositalmente;
2) Chantagear: quando o abusador diz que vai abandonar a pessoa ou expor segredos se não fizer algo ou recusar algo;
3) Humilhar: quando o abusador insulta o parceiro, fazendo-o se sentir mal;
4) Manipular: quando o abusador usa os sentimentos do parceiro para que eles ajam de certa maneira;
5) Mostrar ciúmes excessivo: quando o abusador suspeita de tudo que o parceiro diz ou faz, além de querer atenção total;
6) Controlar: quando o parceiro controla tudo do parceiro, o que veste, o que faz, etc;
7) Intrusão: quando o abusador quer se intrometer nas coisas pessoais do parceiro, como mensagens ou redes sociais;
8) Isolar: quando o abusador isola o parceiro da família e amigos;
9) Intimidar: quando o abusador coloca medo em você e o que faz.
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