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“Ainda Estou Aqui” e o jeitinho brasileiro no mundo corporativo

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Opinião

“Ainda Estou Aqui” e o jeitinho brasileiro no mundo corporativo

Temos uma essência que nos diferencia e vai além do sorriso no rosto e da hospitalidade


13 de fevereiro de 2025 - 8h32

Cena do filme “Ainda Estou Aqui”, de 2024, dirigido por Walter Salles (Crédito: Divulgação)

Pela primeira vez um longa brasileiro concorre ao Oscar de melhor filme. “Ainda Estou Aqui” é um sucesso de público e crítica que tem jogado luz sobre a nossa cultura e identidade. Diante de tamanha repercussão, me peguei refletindo: também temos um jeito muito nosso de atuar no mundo corporativo.  

Depois de anos trabalhando em grandes organizações globais, como o Pacto Global da ONU, o Instituto Coca-Cola Brasil, e agora na L’Oréal, tenho pensado muito sobre essa essência que nos diferencia. Algo que vai além do sorriso no rosto e da hospitalidade – mesmo que esses aspectos sejam partes fundamentais da equação. Existe algo mais profundo: uma identidade coletiva, forjada a partir das nossas matrizes culturais e históricas, mas também atravessada por contrastes e contradições que não podem ser ignoradas.  

Em um mundo que valoriza cada vez mais a competência intercultural, adaptar-se a diferentes estilos é essencial. E é nesse contexto que o famoso “jeitinho brasileiro” deixa de ser apenas um traço cultural e se torna uma ferramenta poderosa para construir pontes, especialmente em ambientes corporativos globais.  

Temos um traço emocional que transparece nas relações sociais e no ambiente corporativo, manifestando-se em flexibilidade, capacidade de improviso e proximidade entre diferentes hierarquias. Entretanto, essa ideia de proximidade precisa ser compreendida com um olhar crítico: historicamente, as relações sociais no Brasil foram atravessadas por desigualdades estruturais e violência racial, que continuam a impactar a dinâmica de poder nos dias de hoje.  

Durante nossa convenção em Atibaia, interior de São Paulo, no fim de janeiro, Alan Spector, Chief Digital & Marketing Officer (CDMO) do Grupo L’Oréal no Brasil, trouxe reflexões muito interessantes sobre isso. O evento teve como tema “Puro Suco do Brasil” e reforçou um ponto essencial: para trabalhar e fazer negócios no Brasil, é preciso entender nossa história.  

Alan destacou, por exemplo, que, ao contrário dos Estados Unidos, onde o separatismo social foi mais evidente, no Brasil sempre houve um convívio maior entre diferentes camadas da sociedade. No entanto, essa aparente convivência não significa ausência de tensão ou de violência. A estrutura de poder sempre colocou pessoas negras na base da pirâmide social, e esse padrão de desigualdade se perpetua, mesmo em espaços de intimidade. Compreender esse contexto é essencial para que possamos evoluir para um ambiente corporativo mais justo e inclusivo.  

E isso transparece até no ambiente digital. Enquanto outros países priorizam streaming e gaming, o Brasil lidera em tempo gasto nas redes sociais. Somos também o País com maior penetração do WhatsApp no mundo – abrimos o aplicativo, em média, mais de 40 vezes por dia! Nossa comunicação é afetuosa, marcada por diminutivos e apelidos inclusive no ambiente de trabalho. É um tal de “Fer” e “Paulinha” já numa primeira reunião. Como explicar isso para um gringo? 

Claro, o Brasil é diverso, e nosso “jeitinho” não segue uma fórmula única. Até dentro do País, há estilos diferentes de trabalho. O carioca, por exemplo, tem fama de mais descontraído e flexível, enquanto o paulista é frequentemente associado a um perfil mais direto e focado na eficiência. Mas, no fim das contas, o que nos une é a criatividade para resolver problemas, a capacidade de adaptação e a leveza e otimismo para lidar com desafios e entregar resultados sem perder o calor das relações.  

E por falar em resultados, quando a gente se une em prol de uma causa… Voltando ao filme Ainda Estou Aqui, já viram a campanha que os brasileiros têm feito nas redes sociais pelo filme? Parece Copa do Mundo. E o clima é esse mesmo quando a gente se propõe a conquistar algo: tudo é feito com paixão, com garra.

Fico ainda mais feliz por este filme retratar uma mulher que lutou contra a ditadura, defensora dos indígenas e dos direitos humanos. O Oscar pode até não vir. Só a nomeação já é um golaço para a nossa imagem lá fora. E isso, claro, tem impactos, até mesmo no mundo corporativo. 

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