Alexandra Casoni e o impacto do storytelling nas marcas
A jornada da executiva como CEO a levou à expansão de sua marca pessoal para influenciar mulheres e outras empresas
Alexandra Casoni e o impacto do storytelling nas marcas
BuscarA jornada da executiva como CEO a levou à expansão de sua marca pessoal para influenciar mulheres e outras empresas
Lidia Capitani
20 de fevereiro de 2025 - 13h38
Alexandra Casoni é sócia e conselheira da Flormel, sócia da Mentoring League Society (MLS) e brand storyteller na Audi (Crédito: Divulgação)
Alexandra Casoni é empreendedora, investidora, mentora e palestrante, mas sua jornada no mundo dos negócios começou quando ela ainda tinha 15 anos, na empresa de doces dos pais. Sempre muito curiosa, disciplinada e ambiciosa, a jovem assumiu a posição de CEO da marca da família aos 22 anos e passou os próximos 9 expandindo a Flormel de uma pequena empresa familiar para uma marca internacional e referência no setor de alimentação saudável.
Em 2023, a executiva iniciou uma nova fase de sua jornada, deixando o cargo de CEO, mas permanecendo como sócia e conselheira. Criou o Club A, um programa de mentoria para mulheres sobre liderança, tornou-se sócia da Mentoring League Society (MLS) e integrou o time de “sharks” no programa Shark Tank Brasil. Agora, ela acaba de assumir o papel de brand storyteller da Audi.
Nesta entrevista, Alexandra fala sobre sua trajetória profissional na adolescência, aventurando-se no mundo das vendas, até o momento presente, em que está focada em capacitar mais mulheres para assumirem papeis de liderança. Ela também avalia seu novo chapéu como brand storyteller da Audi e discute como as marcas podem contar histórias mais autênticas e impactantes.
Venho de uma família que soube plantar boas sementes para iniciar um negócio do zero, sem recursos financeiros ou planejamento estratégico. Meus pais começaram fazendo doces típicos brasileiros de forma simples, mas com muita essência e utilizando ingredientes orgânicos. Aos 15 anos, minha mãe me convidou para ajudar nas vendas dos doces, começando de maneira informal. Nesse momento, percebi que meu papel era transformar o negócio familiar em uma marca consolidada.
Hoje, com 36 anos, vejo minha jornada dividida em seis grandes ciclos. O primeiro foi focado nas vendas diretas e no contato com o cliente, onde desenvolvi habilidades de comunicação e coragem, embora não tivesse técnica. No segundo ciclo, busquei me capacitar mais tecnicamente, com uma graduação em nutrição e dezoito cursos técnicos ao longo de seis anos na indústria. Foi nesse período que aprendi a estruturar o negócio, entender processos e focar na qualidade, pois sabia que o sucesso dependia da profissionalização. O terceiro ciclo foi mais estratégico, onde comecei a entender o varejo e o mercado, traçando um planejamento de vendas e objetivos claros. Aos 22 anos, assumi a função de CEO e passei a liderar a empresa. Foi um movimento rápido e, nessa função, deleguei algumas responsabilidades para estruturar a equipe. No meu quarto ciclo, comecei a focar mais na construção e no posicionamento da marca, e a empresa viu um crescimento significativo em receita, estrutura e projetos.
Aos 27 anos, realizei meu primeiro “deal” importante, quando vendi 16% da empresa para um fundo da família Garcia e Trajano, da Magalu. Assumi toda a responsabilidade dessa negociação e, nessa fase, busquei um mentor para me capacitar, já que ninguém nasce CEO. Aos 29 anos, me tornei mãe, e foi um momento de muitos desafios pessoais e profissionais simultaneamente. No meu quinto ciclo, a empresa se transformou em uma sociedade anônima, o que me permitiu me aperfeiçoar na gestão da nova economia e a atuar em outros conselhos. Foi também o período em que me aprofundei na educação empresarial, ajudando a desenvolver outros negócios e aprendendo a importância da educação e da formação de equipes. Em 2023, comecei a trabalhar diretamente com mulheres empresárias, me tornando uma mentora para aquelas que, como eu, buscam crescer com segurança e preparo. Depois de um ano e meio nesse caminho, fui convidada para participar do programa Shark Tank, o que representou uma grande virada na minha carreira. Hoje, sou embaixadora da Audi e estou envolvida em projetos que unem educação e empreendedorismo. Ao longo dessa jornada, tudo foi sendo construído de maneira orgânica, e cada ciclo me preparou para o próximo, sempre com foco em desenvolvimento, inovação e capacitação.
Quando entrei no mundo da educação, percebi que as pessoas consomem conteúdo por meio de histórias de empresários, e pensei: “e se fizéssemos isso de uma forma diferente?”. Queria criar algo mais descontraído, sem pretensão, onde receberíamos mulheres para um bate-papo leve. A Paula (diretora da Favorite future ag., agência de relações públicas) perguntou qual marca eu gostava e com qual eu me identificava. Respondi que a Audi, pois meu primeiro carro de luxo foi da marca. Não sabíamos exatamente como seria, mas queríamos criar algo grande. Juntas, fizemos um trabalho de construção, e o que parecia um projeto incerto foi se concretizando.
Hoje, sou embaixadora da Audi e responsável pela parte de brand storyteller da marca. Meu papel não se resume a comunicar a Audi nas minhas redes sociais. A minha missão é caminhar ao lado da marca em movimentos inovadores, sempre com um olhar para resultados e posicionamento. Queremos trazer mais mulheres para um segmento predominantemente masculino, com a proposta de equidade e proximidade. Uma coisa bacana é que, quando começamos o projeto, a Audi não tinha a expectativa de trabalhar com alguém sem grande audiência, mas foi justamente isso que os impressionou: eles viram que eu sou uma mulher real, que se comunica com mulheres reais, de todas as esferas. Não é sobre ter muitos seguidores, mas, sim, sobre ter uma relação verdadeira com as pessoas. Audi entendeu isso e apostou no projeto, com um olhar estratégico sobre como posicionar a marca em um espaço que conecta mulheres empreendedoras e reais.
A responsabilidade de ser embaixadora da Audi vai além de ser uma influenciadora. Estou nos maiores palcos de várias áreas: saúde, varejo, empreendedorismo, e levo a marca junto comigo para esses espaços. Estamos trabalhando para levar mais mulheres para as concessionárias, criando debates e conexões que façam sentido para ambas as marcas. Esse é um projeto muito maior do que apenas divulgar produtos, e estou confiante de que será uma inspiração para outras marcas também, expandindo o espaço para mulheres e novos negócios.
Acredito que toda marca precisa ter uma tese clara, algo que ela defenda. Primeiro, é importante saber quem é o seu público-alvo, entender seus sentimentos, interesses, dores e oportunidades. Depois, vem a tese, o que você realmente vai defender, e, por fim, a solução que você oferece. Toda marca tem esses três pilares que a tornam única e que não podem ser replicados por outras.
Em termos de comunicação de marca, vejo que a maneira mais potente e eficiente de se conectar com o cliente é por meio da educação. Acredito que todo negócio tem a oportunidade de impactar seu público por meio de informação, seja para resolver uma dor, oferecer uma solução simples ou proporcionar prazer. A maior oportunidade é que as empresas se abram para influenciar e impactar seus clientes de maneira mais genuína, por meio de conteúdos educativos, que sejam relevantes e que agreguem valor. Tenho visto empresas crescerem de forma exponencial justamente porque assumiram o protagonismo de não vender apenas um produto ou serviço, mas um posicionamento que realmente transforma a vida das pessoas. Esse caminho é mais desafiador, pois exige mais tempo, energia e investimento.
Eu me cobro muito para ser uma líder que dá o exemplo, sabe? Sempre me esforço para estar alinhada com meus valores e manter a coerência nas minhas ações. Tenho minhas técnicas para me gerenciar e garantir que eu cumpra meus inegociáveis, mas isso não significa que sou perfeita. Tenho meus erros, meus desafios e tensões, como qualquer ser humano. Se quero agir com transparência, disciplina e exigência, preciso ser o exemplo disso. Se desejo construir um negócio com propósito, então preciso ser essa líder que vive o propósito todos os dias. Hoje, na Flormel, estou há um ano e meio no conselho, mas o time que montei continua lá, na linha de frente. Eles sempre dizem que sou a mais exigente, mas também a mais humana. Consigo humanizar esse processo de liderança sendo acessível. Acredito que liderança é sobre ser um exemplo, mas também estar disponível para ouvir e apoiar, seja em momentos difíceis ou bons.
O maior desafio da minha vida foi na minha primeira gestação. Eu subestimei muito o processo. Sempre fui muito autoconfiante e achei que, quando engravidasse e decidisse ter a minha filha, tudo seria do jeito que eu planejei, como se fosse um projeto empresarial. Pensei que estava tudo sob controle, mas ela ainda estava dentro de mim, né? Eu não sabia o quanto ser mãe mudaria tudo. Quando a Maria nasceu, nasceu também uma nova mulher, uma nova família, e a minha vida nunca mais seria a mesma. À época, eu estava no meio de um processo de M&A (fusões e aquisições), fazendo várias reuniões com fundos e multinacionais. Mas, quando minha filha nasceu, precisei ficar seis meses amamentando e fazendo reuniões. O desafio foi aceitar que eu estava diante de uma nova configuração de vida e que não havia como me preparar para o que viria.
Hoje, vejo que não existe sucesso no trabalho se você não tem sucesso em casa também. Depois, com o meu próximo filho, o Antônio, o processo foi diferente. Já não me via mais como uma supermulher, como na primeira gestação. Estava mais preparada. No caso da Maria, eu queria que todos me vissem como a mesma líder de sempre, que estava em todas as reuniões e entregava resultados. Eu estava exausta, mas não mostrava. No fim, isso acabou me afetando. Desenvolvi uma doença autoimune, que estava no meu DNA, por causa do meu pai, que tem tireoidite de hashimoto. O pico de estresse desequilibrou toda a minha parte hormonal. Foi a vida me dizendo que eu estava fora de equilíbrio e precisava me ajustar. Esse foi, sem dúvida, o meu maior desafio: lidar com a minha maior dor e com o maior amor da minha vida, minha filha. A maior lição foi perceber que ser mãe não é sobre ser a supermulher, mas sobre encontrar equilíbrio.
A principal mensagem que eu deixaria é: confiem na jornada. A mulher é muito intuitiva, tem um instinto de proteção e uma sensibilidade muito forte. Muitas vezes, nos deixamos influenciar pelos ruídos do ambiente e pelos outros, mas é importante entender que nossa jornada é um processo de preparação e que tudo tem seu momento exato. Então, é fundamental confiar no percurso, escolher as batalhas que queremos vencer e não tentar vencer todas de uma vez.
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