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Opinião

Aliados na sala de reunião

Homens aliados são imprescindíveis na luta para a equidade de gênero dentro das agências


9 de maio de 2023 - 10h48

(Crédito: shutterstock)

Quando a gente acha que o mundo está melhorando um pouquinho de cada vez, algo acontece para nos fazer repensar. Pois bem – a crônica de hoje tem como pano de fundo uma agência que visitei há algumas semanas, como convidada para assistir a uma apresentação de campanha. 

(Não se trata da casa onde trabalho, importante deixar claro). 

Entro na sala de reunião um pouco antes dela começar e percebo que sou a única mulher nela – outros 7 ou 8 homens estão sentados à mesa. Vem junto com esta realização aquela sensação familiar e ruim: em pleno 2023, a gente ainda passa por isso. 

Sento-me à frente do colega que organizou a reunião – e que é um homem. Ao lado dele há um lugar vago, à espera da segunda mulher que participará da reunião – e como ela está atrasada, o papo começa mesmo antes de ela chegar. 

Vinte minutos de apresentação transcorrem com os homens que estão apresentando a campanha falando diretamente para este colega. Eu estou sentada do outro lado da mesa, e em nenhum momento nenhum dos apresentadores fala olhando para mim. Eles preferem conversar com ele (e com a cadeira vazia ao lado dele). Eu apenas observo. 

Finalmente, a outra mulher chega e se senta no lugar vago (aquele, ao lado do colega de sexo masculino). Ela imediatamente é incluída na conversa. 

Muitos que estão lendo este texto vão dizer: “provavelmente foi só uma coincidência”. Outros podem pensar: “ihhh, ela está chateada porque não era a decisora ali na sala” – mas este também não é o caso. 

Quando termina a exposição das ideias (muitas delas, excelentes), pedem primeiro a opinião do meu colega sobre elas. Ele gentilmente olha para mim e diz: voce quer comentar, Ju? 

Eu comento uma a uma. Ao final da minha exposição, o colega que me deu a palavra endossa meus comentários, faz outros e concorda com a minha recomendação. A colega ao lado dele também. Os apresentadores demonstram certa surpresa. 

Deste momento em diante, o foco da mesa se amplia para incluir também o meu lado. E quando a reunião termina, saio dela mais uma vez entendendo que foi preciso um aval masculino para que a sala de reuniões abrigasse a todos igualmente. Por isso, não faz mal repetir: sem homens aliados, o caminho para a equidade e a representatividade será sempre mais lento do que deveria. 

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