Ana Fontes, a executiva do empreendedorismo
Ela abandonou o mundo corporativo, ressignificou a carreira pelo empreendedorismo e, agora, apoia outras mulheres que empreendem a mesma jornada
Ela abandonou o mundo corporativo, ressignificou a carreira pelo empreendedorismo e, agora, apoia outras mulheres que empreendem a mesma jornada
7 de novembro de 2024 - 9h31
Por Dimalice
Ana Fontes é fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME (Crédito: Ana Paula Silva/Divulgação)
Ana Fontes abandonou o mundo corporativo e ressignificou a carreira pelo empreendedorismo e, agora, apoia outras mulheres que empreendem a mesma jornada. Foram 18 anos em uma multinacional do setor automotivo (Volkswagen) até chegar ao cargo executivo. Porém, a empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME, não estava satisfeita: um ambiente masculinizado, por vezes hostil, a falta de reconhecimento e o desejo de conciliar de maneira mais harmoniosa trabalho e maternidade a levaram a pedir demissão.
Ainda sem clareza do que faria, Ana levantou dois negócios, sem sucesso. Foi então que criou a RME, uma comunidade que fomenta o empreendedorismo e a autonomia financeira das mulheres. Sua própria jornada foi o farol para guiar outras mulheres que buscam novo rumo profissional.
Foi uma combinação de fatores. Primeiro, a falta de reconhecimento dentro do ambiente corporativo. Eu era a única, ou uma das únicas, em espaços muito masculinizados. Foram várias situações difíceis de preconceito, desde cumprir muito mais do que a meta e receber um bônus menor do que o colega que cumpriu 100%, até feedbacks como “mas você faz amizades com seus funcionários” ou “você tem que ser mais agressiva”. Também me tornei mãe e comecei a rever as questões relacionadas à minha jornada e carreira.
Por trabalhar no ambiente corporativo, achava que tinha informação suficiente para empreender. E não tinha. Teve também a questão da reserva financeira que, obviamente, a maioria dos empreendedores não tem. A situação seria melhor se eu tivesse reserva. Outro desafio foi o tipo de negócio que queria abrir. À época, uma plataforma de recomendações positivas na internet era algo inovador, mas muito à frente do tempo. Ou seja, eu não tinha referência e era preciso criar mercado. Você pode ser inovador, mas tem que tomar cuidado para lançar algo que terá a aderência do público. E isso aconteceu com dois dos meus negócios: o Elogia Aqui e o espaço de coworking, um dos dez primeiros do Brasil. As pessoas não conheciam o conceito e havia um trabalho duro de mostrar o que era para depois chamar as pessoas para o negócio.
O grande gatilho é a maternidade. A esmagadora maioria que nos procura, mais de 80%, é porque têm filhos e não se sentem acolhidas nos ambientes onde estão. E aí veem no empreendedorismo uma possibilidade para seguirem ativas e, ao mesmo tempo, ter a palavrinha mágica: “flexibilidade”. Obviamente, há várias pegadinhas no processo. Quando empreendemos, temos, sim, flexibilidade, mas acabamos trabalhando mais. Os desafios são diferentes, mas não deixam de ser desafios. Não é glamouroso, não é simples, exige muita dedicação, disciplina e tempo. E, às vezes, somos empurradas para o empreendedorismo porque os ambientes corporativos são muito hostis, especialmente para mulheres com filhos pequenos.
Principalmente, decidir qual caminho seguir. É uma fase muito confusa. Tem que trabalhar autoconhecimento, saúde mental, rede de relacionamento e mentorias. Indico que se conectem com outras mulheres para trocar experiências. Para as que decidem empreender, o desafio principal é acesso ao capital. Há ainda o cuidado com a família, os filhos, idosos e os doentes, um trabalho que não é reconhecido como tal. Muitas mulheres sucumbem porque é muita coisa para fazer ao mesmo tempo.
Precisamos caminhar para uma sociedade com educação e comunicação menos machista e racista. Esse é o ponto principal de uma transformação de longo prazo. O segundo ponto é ter mais mulheres em espaços de poder. É comprovado: ter mulheres nesses lugares atrai outras mulheres, que se enxergam ali. Não desmereço as ações das empresas. Ter grupos de engajamento é legal, fazer eventos, promover mentorias, tudo isso é muito bom. Mas o que muda o jogo de verdade é um processo estruturado para trazer mulheres para esses espaços de liderança e garantir que elas tenham condições de permanecerem ali.
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