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Opinião

As coincidências da vida e os sinais

O quanto nós, mulheres, ainda temos que ficar mostrando e provando que o mundo de fato mudou?


1 de outubro de 2024 - 10h27

Escrevo para contar uma história que aconteceu comigo recentemente, durante as férias, e que tem tudo a ver com a temática dos últimos dias e o que temos falado sobre nós, mulheres, pré-conceitos e o quanto ainda temos que ficar mostrando e provando que o mundo de fato mudou.

Toda vez que viajamos, eu e meu marido, entramos em uma igreja. Procuramos alguma que nunca entramos, para agradecer e fazer um pedido. Em Nova York, passamos na frente da St. Thomas — nome do meu sobrinho. Resolvemos entrar.

Logo na entrada, o segurança avisou que não poderíamos tirar fotos, e que estava acontecendo uma missa no canto esquerdo da igreja. Sentamos afastados, entre o altar do canto e o altar principal. Vimos uma mulher oriental no altar. Achamos que era uma das assistentes do Padre. Mas ela estava vestida com roupa de padre. E para a nossa surpresa, ela era *A* padre. Que na sequência celebrou a comunhão, partiu o pão, tomou o vinho e dividiu com quem quis comungar. E, depois, nos convidou a rezar o Pai Nosso.

Esse momento me emocionou profundamente. Fui até ela ao final da missa, agradeci e recebi um abraço caloroso. Uma mulher oriental, padre (o feminino “madre” não representa o papel do padre – são funções bem distintas na igreja), algo que, até aquele instante, eu nunca tinha visto ou imaginado.

Como profissional de marketing e comunicação, estamos sempre com as antenas ligadas e a curiosidade aguçada para acompanhar os movimentos desse mundo cada vez mais veloz em que vivemos. Fui, então, pesquisar sobre mulheres serem ordenadas padres. Sabia que existem pastoras em algumas denominações, mas não tinha conhecimento sobre esse papel específico dentro do cristianismo. Para a minha surpresa, na igreja episcopal anglicana, as padres representam entre 20% e 30%. Fui descobrir também que, em 2002, um grupo de mulheres católicas foi ordenada padres em águas internacionais.

A presença de uma mulher em uma posição de liderança espiritual – um campo tradicionalmente masculino –, a necessidade de quebrar barreiras, desafiar preconceitos e provar capacidade, independentemente de gênero, é algo que ecoa não só nas igrejas, mas também em outros ambientes, na política, em cargos públicos, empresas, organizações, como temos assistindo em todo o mundo.

Ao compartilhar essa história, faço isso porque acredito nos sinais. E acredito que esse encontro, de certa forma, reforça algo que muitas de nós já sabemos: estamos aqui para abrir caminhos.

Estou me comunicando com a Priest Mother Lee, e divido com vocês um trecho especial da mensagem dela para mim, mas para todas nós:

“Como você pode imaginar, eu também tive dificuldades ao seguir minha vocação como padre na igreja institucional, onde o papel de liderança masculina dominou por muito tempo. Ainda temos um longo caminho até alcançarmos a igualdade de gênero completa, mas acredito que nossas lutas e esforços valem a pena, pois esperamos deixar um futuro melhor para a próxima geração.”

Ela também mencionou algo que ressoou profundamente comigo: “Coincidências, como o nome do seu sobrinho ser Thomas, muitas vezes nos lembram dos modos misteriosos como Deus trabalha. Talvez sua visita à igreja tenha sido um desses momentos sagrados de conexão, destinados a fortalecer seu espírito para o caminho à frente”.

Essa mensagem me tocou e reforçou a ideia de que nossas lutas e conquistas, tanto no ambiente de trabalho quanto em outras esferas da vida, são parte de algo maior. Precisamos continuar acreditando, avançando e, acima de tudo, abrindo espaço para que outras mulheres sigam esse caminho.

Ela finalizou dizendo que estou nas orações dela. Assim como nós, mulheres, estamos nas minhas.

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