Executivas analisam as lições do esporte para a liderança
Líderdes de diferentes segmentos e áreas refletem sobre os aprendizados da prática esportiva para a carreira e a vida
Executivas analisam as lições do esporte para a liderança
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Lidia Capitani
10 de fevereiro de 2025 - 9h00
Você sabia que mulheres esportistas têm maior probabilidade de exercer cargos de liderança no trabalho? Uma pesquisa do Women’s Sports Foundation (WSF), dos Estados Unidos, constatou que, entre as mulheres que praticavam esportes, 69% exerciam pelo menos uma função de liderança formal fora da família. Além disso, outro estudo da Deloitte, de 2023, aponta que 85% afirmam que as habilidades que desenvolveram na prática esportiva foram importantes para o sucesso na carreira.
Para Ana Célia Biondi, diretora geral da JCDecaux no Brasil, o esporte veio da influência de seus pais: “Comecei a praticar esportes muito cedo, com uns 4 anos já nadava e comecei a jogar tênis com 6. Meus pais sempre praticaram esportes. Meu pai jogava tênis, futebol e montava a cavalo, e minha mãe jogava tênis e velejava. Por isso sempre fomos incentivadas”, lembra.
Ana Célia Biondi, diretora geral da JCDecaux no Brasil, ingressou no esporte aos 4 anos: “Comecei a jogar tênis com 6” (Crédito: Divulgação)
As competições faziam parte do dia a dia de Ana Célia na adolescência, assim como para Malu Weber, vice-presidente de comunicação da Bayer no Brasil. “Aos 4 anos, minha mãe me levou para o balé e meu pai me colocou no tênis. Até que chegou a hora de escolher, e meu pai diz até hoje que o Brasil perdeu uma grande tenista. Cheguei a fazer faculdade de dança antes do jornalismo; fiz parte do corpo de baile de grupos profissionais e tive uma trajetória intensa nos palcos”, conta.
Já para Carla Gagliardi, managing director da Orion, unidade especializada da Mediabrands, o interesse pelo esporte surgiu na fase adulta. Como mãe e liderança, ela percebeu que precisava fazer algo para cuidar de si mesma. “O esporte entrou na minha vida quando percebi que minha rotina se resumia a trabalhar, cuidar das crianças e dormir. Sentia que precisava de um tempo para mim”.
Carla Gagliardi, managing director da Orion: “Após a pandemia, senti que precisava de uma nova meta. Foi assim que decidi inserir o fisiculturismo na minha vida” (Crédito: Divulgação)
Grazi Mendes, head de DEI para as Américas da ThoughtWorks, relata a mesma experiência: “O esporte entrou primeiro como uma tentativa de autocuidado, mas se tornou um compromisso comigo mesma. Em um mundo onde o tempo é sempre escasso, percebi que reservar momentos para o exercício não era um luxo, e sim uma necessidade”, afirma. Sua realidade na infância dificultou o contato com o esporte no início da vida. “Aos 13 anos, eu já trabalhava, e o tempo que poderia ser dedicado a atividades esportivas foi preenchido por outras responsabilidades. Por muito tempo, a ideia de praticar esportes parecia algo distante, um luxo que eu não podia me permitir”, conta a executiva.
Foi após os 30 anos que Grazi começou a fazer boxe e ciclismo indoor. A prática foi intensificada após a descoberta de um câncer. “O diagnóstico trouxe desafios imensos, mas também me fez aprofundar no poder transformador do movimento. Existem inúmeros estudos que comprovam os benefícios da atividade física no tratamento oncológico e na saúde mental de pacientes, e sou prova viva disso. O esporte não foi apenas um aliado para o corpo, mas também para a mente e para o espírito”.
Mesmo para as que começaram cedo, o esporte pode ressurgir mais tarde e propor novos desafios. Apesar de ter iniciado ainda na infância, Malu Weber foi desafiada novamente na fase adulta. Uma provocação de seu filho a fez querer provar que conseguia aprender um esporte totalmente novo após os 40 anos. Ela conta a história:
“Uma vez, levei meu filho Pedro para a praia e brinquei que, um dia, surfaria com ele. Sem hesitar, no auge dos seus 9 anos, ele respondeu: ‘Mãe, esquece. Você não tem mais idade, é muito difícil e não cabe na roupa’. Achei um desaforo”, brinca. No dia seguinte, às 7 horas da manhã, lá estava ela na areia para sua primeira aula de surfe, ao lado de uma garotinha de 8 anos.
“Foi bem mais difícil do que eu imaginava. Mas foi a maior prova, na relação de mãe e filho, de que todos os valores de que tanto falamos em casa, como persistência, disciplina, superação e resiliência, estavam sendo colocados em prática. Jamais vou esquecer quando consegui surfar a primeira onda, e ouvi lá do fundo: ‘caraca, minha mãe está dropaaaaando’. Um ano depois, lá estávamos eu e meu filho, surfando juntos em Jeffreys Bay, na África do Sul”, lembra Malu.
“Foi a maior prova, na relação de mãe e filho, de que todos os valores de que tanto falamos em casa, como persistência, disciplina, superação e resiliência, estavam sendo colocados em prática”, diz Malu Weber, vice-presidente de comunicação da Bayer no Brasil (Crédito: Divulgação)
Em 2021, seu filho a desafiou novamente, dessa vez a correr 10 quilômetros. Dito e feito: no ano seguinte, ela já havia cumprido a missão. “Acabamos de fazer juntos meus primeiros 5 quilômetros de corrida de rua do ano. É sempre um desafio, claro, mas é justamente isso que me move. E sempre com Pedro ao meu lado, o que me incentiva a seguir em frente”, conta.
Também motivada a superar novos desafios, Carla entrou no mundo do fisiculturismo. “Após a pandemia, senti que precisava de uma nova meta. Foi assim que decidi inserir o fisiculturismo na minha vida. No primeiro ano, meu objetivo era me preparar e subir no palco pela primeira vez. No segundo, a meta era vencer. Agora, estou em busca do meu cartão profissional.”
Às vezes, quando menos se espera, você acaba descobrindo um novo esporte e se apaixona. Para Daniela Graicar, CEO da Pros, foi assim. Ela, que sempre praticou natação, atletismo e vôlei, ficou diante de novo amor. “Aos 30 anos, ganhei minha primeira raquete de presente do meu marido e descobri uma nova paixão: o tênis. Era um esporte que eu nunca havia praticado, mas me conquistou de imediato. Desde então, nunca mais parei”, diz.
Segundo as entrevistadas da pesquisa do Women’s Sports Foundation, o esporte ensina sobre aprender com seus erros, lidar com a pressão, trabalho em equipe, além de também ajudar a superar desafios, tomar decisões, estabelecer metas, responder a críticas e solucionar problemas.
Para Fernanda Di Giaimo, head de marketing da Zamora para o Paraguai, Uruguai e Brasil, o esporte proporciona equilíbrio e cuidado com a saúde física e mental. “Depois de um dia inteiro de trabalho, uma sessão intensa de exercícios me permite descansar a cabeça. É como se eu descarregasse os problemas e preocupações no esforço físico. Saio sempre com o corpo cansado e a mente mais relaxada”, relata.
Para Fernanda Di Giaimo, head de marketing da Zamora para o Paraguai, Uruguai e Brasil, o esporte proporciona equilíbrio e cuidado com a saúde física e mental (Crédito: Divulgação)
Para Carlinha, o fisiculturismo é uma escola de disciplina: “Minha rotina de trabalho, minha relação com meus filhos e minha saúde melhoraram muito. Minha vida profissional sempre foi intensa, com agendas cheias, pressão por resultados e pouco espaço para respiros. O esporte trouxe disciplina para minha rotina”, afirma.
Já para Daniela, jogar tênis é como se fosse um momento de meditação. “É o único período em que consigo realmente “desligar” a mente. Há tantas variáveis para considerar ao jogar, como respiração, movimentação e a antecipação dos movimentos do adversário, que a concentração se torna total”, aponta.
Além dos benefícios mentais e físicos, o esporte também pode ajudar em momentos difíceis. Como está sendo para Malu Weber, que perdeu o marido há dois anos. “Nesse momento, o esporte tem sido ainda mais importante, pois tem me ajudado a superar o luto. A musculação e a corrida têm sido minha melhor terapia: melhoram meu humor, meu sono, meu rendimento no trabalho, e me ajudam a lidar com a tristeza e com o vazio sem meu grande companheiro de vida, por 35 anos”.
Resistência, resiliência, superação de desafios, trabalho em equipe, persistência e estratégia são algumas das habilidades que as lideranças relataram terem aprendido com o esporte. A constância e a disciplina também são peças fundamentais para manter uma prática esportiva viva, o que transborda para outras áreas da vida.
O boxe, para Grazi Mendes, foi importante para aprender a “levar os golpes” que a vida nos dá. “O que mais temos na liderança são desafios. Golpes que, às vezes, nos tiram o equilíbrio. A questão é: como nos levantamos depois? Como seguimos? E, acima de tudo, o que aprendemos com cada golpe?”, provoca. Recuperar o fôlego, a postura e seguir adiante não é apenas a dinâmica do ringue, mas também da vida.
“O diagnóstico de câncer trouxe desafios imensos, mas também me fez aprofundar no poder transformador do movimento”, afirma Grazi Mendes, head de DEI para as Américas da ThoughtWorks (Crédito: Divulgação)
Já o ciclismo foi importante para que a líder aprendesse a importância do ritmo. “Pedalar rápido pode te levar longe, mas saber sustentar o fôlego é o que realmente faz a diferença. Liderar também é assim. Não é sobre correr desesperadamente, mas sobre encontrar um ritmo que seja sustentável, que permita construir com consistência e chegar mais longe sem esgotar a si mesma e ao seu time”, afirma.
Além disso, o ciclismo também ressaltou o valor da preparação: “Antes de uma pedalada intensa, é preciso aquecer, ajustar a postura, entender como o corpo está naquele dia. Se você ignorar essa etapa, os primeiros minutos podem ser duros e, a longo prazo, o desgaste é maior. Na liderança, vejo o mesmo princípio. Muitas vezes, queremos sair resolvendo, tomando decisões rápidas, entrando em ação sem considerar o que vem antes. Mas um bom planejamento, uma visão de longo prazo e uma preparação cuidadosa podem ser a diferença entre uma jornada eficiente e um desgaste desnecessário”, diz.
Para Fernanda, as aulas de treinamento funcional atuam como laboratórios para as dinâmicas em equipe. “Gosto desse formato porque em grupo tendemos a ficar mais motivados, mas cada um pode se exercitar no seu ritmo, respeitando os limites do seu corpo, seu momento e seus objetivos pessoais. Ao liderar um time, estamos trabalhando para atingir um objetivo comum, mas cada membro da equipe enfrenta seus desafios pessoais e profissionais, e precisa de mais ou menos suporte para desempenhar sua função com excelência. Gosto de dar autonomia para que cada um trabalhe à sua maneira, respeitando-os como indivíduos e oferecendo o apoio adequado. Dessa forma, todos podem se sentir responsáveis e orgulhosos por seus resultados”, reflete.
O tênis também parece ser uma escola de bons ensinamentos para a liderança. “O esporte de competição ensina resiliência, humildade, estratégia. Você pode perder um jogo ganho ou virar uma partida perdida: tudo isso são aprendizados, lições que ficam para a vida”, conta Ana Célia.
Da mesma forma, Daniela têm aprendido muito sobre as dinâmicas do jogo que parecem com os negócios: “O tênis exige disciplina, energia e persistência. No esporte, assim como na minha atuação profissional, é importante manter a serenidade sob pressão, saber quando ‘atacar’ ou ‘recuar’, ter paciência para construir jogadas de longo prazo e coragem na hora que precisa terminar o ponto”.
Daniela Graicar, CEO da Pros: “Aos 30 anos, ganhei minha primeira raquete de presente do meu marido e descobri uma nova paixão, o tênis” (Crédito: Divulgação)
A estratégia é essencial para um bom jogador de tênis, assim como no boxe, que ensinou à Grazi que o golpe bem calculado é mais eficiente que o golpe forte. “Assim como na liderança, não se trata apenas da força que você coloca em um movimento, mas de onde e como você direciona essa força. Saber quando avançar, quando recuar e quando apenas observar o outro é essencial”, constata.
Não há idade certa para começar, como já provaram as líderes. Seja por incentivo ou por necessidade de um tempo para si, o esporte terá um significado diferente para cada uma. Carla, por exemplo, virou uma referência de esportista para quem a conhece, e faz questão de ser essa influência positiva. “Gostaria de influenciar outras pessoas a experimentarem o que o esporte me proporciona, especialmente mulheres mais velhas que acreditam que não têm tempo ou que não conseguirão alcançar certos resultados devido à idade. É possível, sim”, incentiva.
Ana Célia é uma grande entusiasta do esporte e, como líder, incentiva a prática entre os colaboradores da empresa. “Acredito que o ambiente proporcionado pelo esporte é muito saudável: competir com respeito, conhecer e testar os próprios limites, socializar. São tantas as vantagens que sou uma grande incentivadora de que o esporte faça parte da rotina das pessoas. Aqui no escritório, por exemplo, temos vários programas para incentivar os colaboradores a incluir a atividade física em suas rotinas”, afirma.
Grazi, que começou tarde, acredita que encontrou o momento certo para iniciar. “Acho bonito perceber como o movimento do corpo também impulsiona o movimento da vida. Ele chegou quando eu já entendia o valor da jornada, não apenas do destino. Hoje, quando pedalo, não penso apenas em performance, mas no prazer de estar em movimento. E essa talvez seja uma das maiores lições do esporte e da vida: seguir em frente, um giro de cada vez”, conclui.
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