Barbie – usando o filme que ainda não vi para falar de outras coisas
Há anos ela deixou de ser uma boneca para ser uma marca muito maior que o produto
Barbie – usando o filme que ainda não vi para falar de outras coisas
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28 de julho de 2023 - 8h49
Embora eu ainda não tenha assistido Barbie, trago meus 20 cents para a conversa. Li várias resenhas a respeito do filme, desde as mais positivas até as absurdamente machistas, misóginas e equivocadas.
Em primeira instância acho que o filme é entretenimento. Não é documental, não é baseado em fatos reais, não é retrospectiva histórica de nada. Então, calma gente!
Mas refletindo um pouco sobre tudo que li trago aqui a perspectiva de alguém que nos anos 80 amou aquela boneca com paixão. Aqui valem dois parágrafos de retórica pessoal.
Primeiro, eu desejei ter o mundo dela inteirinho que, aliás, ficava mais sofisticado a cada lançamento da Mattel, e claro que me frustrei bastante pois nunca fui uma criança que teve tudo que quis pois a grana era bem curta e ainda que não fosse, tenho pais maravilhosos e responsáveis demais pra fazer todas as vontades de uma criança.
Segundo, eu demorei um bom tempo pra entender que aquele “biotipo” magro, loiro e longelínio da boneca não era o meu. E isso foi duro.
Isso posto, volto para o filme que ainda nem assisti e digo sem medo que o lançamento é uma ótima retratação da Barbie perfeita com uma geração inteira de mulheres que tiveram em alguma instância, seus ideais de beleza, sucesso e estilo influenciados por ela.
O surgimento do que se tornaria a boneca mais vendida do mundo está historicamente envolto por um intenso investimento tecnológico, político e publicitário no sentido de viabilizar sua hegemonia em um mercado mundial globalizado. Assim, compreender como a Barbie educa meninas exige olhar não apenas para a boneca em si, mas para os diferentes dispositivos que a constituem.
Eu trabalho com marcas há mais de 20 anos e acho extremamente necessário o exercício de olhar para a indústria do brinquedo refletindo sobre o lugar que a publicidade tem nela, assim como na sociedade contemporânea e sua relação com a infância, com a constituição de feminilidades e masculinidades, com a educação do corpo e por aí vai.
Uma das coisas mais marcantes na história da Barbie é o investimento em torno da boneca. Diferentes estratégias publicitárias transformaram-na em uma personalidade. Há anos ela deixou de ser uma boneca para ser uma marca muito maior que o produto. Com seu estilo, personalidade, roupas e acessórios, carros, móveis, animais de estimação, uma infinidade de produtos licenciados, a história da Barbie é concomitante à descoberta da criança como consumidora em potencial. E tudo isso imerso na completa perfeição.
Acho justo que a crise existencial dela tenha chegado aos cinemas. Afinal, embora ela tenha gerado infinitas formas de brincar, ela também já nos fez questionar bastante a imperfeição de nossas próprias vidas.
Ponto pra Greta Gerwig, que com seu trabalho gerou discussões e reflexões necessárias sobre o tema.
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